A iniciativa é idealizada pela ADRA Brasil e existe há 20 anos e funciona na região rural
O
Dia Nacional da Alfabetização é celebrado hoje (14) em alusão à data de
criação do Ministério da Educação e Cultura no Brasil, em 1930.
Atualmente, o país registra 11 milhões de brasileiros que não sabem ler
nem escrever.
Para
combater a realidade dessa estatística, a Agência Adventista de
Desenvolvimento e Recursos Assistenciais, ADRA, criou um projeto de
alfabetização dentro de uma comunidade terapêutica que oferece
tratamento especializado e multidisciplinar a dependentes químicos.
O
Pró Vida, como é chamado o projeto, tem o objetivo de ofertar
tratamento de forma humanizada e participativa a pessoas que fazem uso
de substâncias químicas com idade a partir de 18 anos.
A
iniciativa existe há 20 anos e funciona na região rural de
Cachoeirinha, BA, no povoado de Belém, a 120 quilômetros de Salvador.
Projeto
De
acordo com o coordenador do projeto, Leonardo Carvalho, as aulas são
aplicadas dentro da unidade terapêutica, que conta com uma estrutura
preparada para que cada acolhido possa aprender e se desenvolver. As
aulas são administradas na biblioteca da instituição. Lá os assistidos
conseguem ter acesso a variadas literaturas, cartilhas e atividades de
caligrafia.
O
curso reforça o conceito de reinserção social e promoção à saúde, e
partiu da necessidade dos profissionais que lidam com usuários de álcool
e outras drogas, promoverem maior acolhimento. “O primeiro passo vem
através da conversação, com a finalidade de identificação do letramento.
A próxima etapa é identificar a leitura e a escrita. Identificamos o
processo escolar de cada acolhido e depois partimos para trabalhar e
desenvolver os alunos em seus níveis de conhecimento”, explica Carvalho.
O
coordenador ainda explica que alguns acolhidos estão conhecendo as
letras, enquanto outros estão na etapa de desenvolvimento da escrita e
da leitura. “É emocionante observar o crescimento e a felicidade nos
olhos de cada beneficiado quando começam a identificar as letras e
conseguem escrever seus nomes pela primeira vez”, pontua.
Propósito
Sara
Alves é professora voluntária do projeto e descreve que sua maior
satisfação como educadora é dar aos alunos a oportunidade de se
reencontrarem. “Reencontrar a dignidade, devolver a esperança de uma
vida temporariamente fragmentada por causa do uso abusivo de
substâncias. Devolver a eles a confiança, autoestima e a certeza de que
nunca é tarde para aprender para vencer os desafios”, garante.
“O
resultado dos esforços da comunidade terapêutica é nítido na vida dos
pacientes que demostram o desejo de superar as dificuldades e
recomeçar”, complementa Sara.
A
professora voluntária relembra que em agosto, um dos alunos foi
identificado como não alfabetizado e isso gerava desconforto em seu
coração, além de baixa autoestima. “Ao ser inserido nas aulas de
letramento e alfabetização, ele pôde realizar o sonho de ter a
oportunidade de assinar sua primeira carteira de identidade (RG). Saiu
do status ‘não alfabetizado' para ter o próprio nome assinado em seu
documento”, conta Sara, com sentimento de realização.
Oportunidades
O
coordenador Leonardo Carvalho frisa que a função do Pró Vida é promover
oportunidades e uma nova perspectiva de vida para todos os que são
acolhidos, bem como suas famílias, que depositam nesse projeto a
esperança de momentos felizes. “Como coordenador, percebo a relevância
que esse trabalho tem no desenvolvimento pessoal e coletivo de cada
beneficiário em nossa unidade. É gratificante ver o resgate da dignidade
e dos valores na vida de cada aluno ao conseguirem se enxergar como
cidadãos e expressar, através da escrita, a alegria pela oportunidade
encontrada nesse projeto”, conclui o líder.
Além
da alfabetização, um dos diferenciais da iniciativa é o uso dos oito
remédios da natureza: alimentação saudável, ingestão regular de água, ar
puro, exposição à luz solar, prática de exercício físico, repouso,
temperança e confiança em Deus.
Superação
(OBS: a última foto é a do Marcos com a Família)
Janeiro
de 2011. Marcos Roberto estava no fundo do poço. Havia perdido tudo
para as drogas, inclusive sua dignidade. Quando parecia que não existia
mais solução para seus problemas, ele conheceu o projeto Pró Vida.
“Comecei a fazer escolhas erradas. Usava drogas apenas de forma social.
Trabalhava e sustentava o vício, até que alguns amigos vieram da Europa e
me apresentaram drogas caras. Aí me afundei de vez na vida mundana”,
conta, entristecido.
Em
um momento crucial de sua vida, Marcos foi apresentado ao projeto. Ele
relembra que estava no aeroporto no dia em que viajaria para uma clínica
de recuperação, mas num momento de abstinência, fugiu e adiou o início
do tratamento.
Foi
num segundo momento que aceitou e foi para a comunidade. “Cheguei lá e
vi a natureza. Milagrosamente Deus me encheu de alegria e disposição, a
fim de me permitir ser transformado por Ele”, compartilha.
Marcos
reconstruiu sua autoestima e dedicou essa motivação para apoiar a
iniciativa. Ele era alfabetizado e durante três anos foi colaborador da
clínica de recuperação.
Após
dez anos, Roberto aproveitou a nova oportunidade de vida e recuperou
tudo o que havia perdido. Hoje, professor universitário, relações
públicas de federação, com uma família estruturada, filhos formados, ele
comemora as conquistas. “Deus não só transformou minha vida, mas a vida
da minha família. Ele me deu tudo de volta, dignidade, trabalho e
reconhecimento”, expressa, feliz.
Hoje,
o professor universitário atribui ao projeto da ADRA e à cordialidade
dos funcionários o sucesso de seu tratamento. Para ele, o diferencial do
Pró Vida é justamente trabalhar questões espirituais, além das questões
sociais. “Para mim, o projeto significa uma oportunidade, um lugar de
renascimento. Um instrumento poderoso de Deus para transformar a vida
das pessoas e dar a elas aquilo que há de mais importante. Não é só
conseguir largar as drogas, mas discipular outras pessoas para saírem do
mundo do vício”, pontua.
Ao longo da última
década, Marcos já ajudou mais de 500 pessoas a terem um recomeço.
“Procuro retribuir aquilo que recebi da ADRA. Essa atitude trouxe para
mim justiça, compaixão e amor”, conclui.
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