Os versos do cordelista Bráulio Bessa e dos poetas Allan Dias e Ryane Leão emocionaram o público que lotou a Arena Jovem neste domingo, na Bienal do Livro Bahia
”Quanto mais sou nordestino mais tenho orgulho de ser”. Este foi o verso final do poema que o Bráulio Bessa usou para saudar o público da Arena Jovem da Bienal do Livro Bahia, neste domingo (13). Ele, o poeta e compositor Allan Dias Castro, e a escritora Ryane Leão participaram da emocionante mesa Os poemas que salvam o dia. Bráulio acredita no poder da poesia e da arte, e garante que a palavra geralmente está salvando o dia dele. Allan Dias concorda com o cordelista e acrescenta que oferece o que ele precisa. Ryane explica que mesmo não sendo o objetivo, é algo que acontece.
Ao falar sobre inspiração, Bráulio Bessa, lembrou que tudo ocorreu numa sala de aula no interior do Ceará, aos 14 anos. A professora, carinhosamente chamada de tia Zuli, perguntou aos alunos o que queriam ser no futuro e ele foi o único que não respondeu. Ao ler um livro de poesia de Patativa do Assaré, ele fez seu primeiro poema e decidiu que seria poeta. Mostrou o poema para a professora e pediu que ela perguntasse de novo o que ele queria ser. Ao que respondeu de imediato: eu já sou uma poeta. Ao ler o poema, a professora reafirmou que ele era um poeta e disse que ele não podia parar de escrever. O primeiro livro “Poesia com Rapadura” (2017) foi inspirado em Patativa do Assaré, um dos principais representantes da arte popular nordestina do século XX.
Bráulio conta que o segundo poema que fez foi para a professora e aproveitou para declamar uma poesia que ressalta a importância do papel do professor na vida das pessoas. O cordelista afirma que alimentou o sonho de ser poeta a vida toda. O sucesso com o lançamento do primeiro livro foi uma surpresa para ele, porque o mercado dizia sempre que poesia não vende. Ele usou cada centavo que ganhou durante os três primeiros anos para construir uma casa em Alto Santo (CE), cidade natal do cordelista. Em 2020, Bráulio e a esposa Camila transformaram a casa em um centro cultural para crianças carentes.
A grande referência na vida do poeta Allan Dias é o pai, que costumava aconselhá-lo a “sonhar acordado para quando olhar no espelho não ver o passado”. Embora o pai tenha falecido, Allan afirma que ele continua presente em sua vida. “A gente não perde quem vive na gente”, esclarece o poeta. Allan publicou o primeiro livro, intitulado “O Zé-Ninguém”, em 2014. Em 2019, publicou “A Voz ao verbo”, ponto de partida para o projeto homônimo de poesia falada na internet.
A escritora Ryane Leão conta que somente aos 22 anos, quando foi morar em São Paulo, ela conheceu escritoras negras e se identificou com a escrita. A inspiração de Ryane vem dos orixás, da família, das mulheres negras que abriram os caminhos que ela pode traçar hoje. Ela considera a ancestralidade uma espiral, por isso diz que está construindo ancestralidade para outros que virão depois dela. O primeiro livro “Tudo nela brilha e queima” (2017) se tornou um best-seller, bem como o segundo “Jamais peço desculpas por me derramar” (2019). Em 2019, a poeta e escritora fundou a Odara, uma escola de inglês voltada para crianças negras.
Painel da Fundação Gregório de Matos debate comportamento humano e influência na literatura
Mesa reuniu os escritores Breno Fernandes, Daiana Soares e Aícha Marques
Abrindo a programação do Café Literário deste domingo (13) na Bienal do Livro Bahia, foi realizado uma roda de conversa com o tema As particularidades do comportamento humano e sua influência na criação literária. O painel reuniu os autores baianos Breno Fernandes, Daiana Soares e Aícha Marques, todos premiados com o Selo Literário João Ubaldo Ribeiro, da Fundação Gregório de Matos (FGM). A mediação foi da bibliotecária, chefe de setor da FGM, Adijane Ribeiro.
O público presente teve a oportunidade de ouvir os convidados a respeito dos processos de elaboração das suas obras e de como a vida real influenciou cada um dos trabalhos publicados. Aícha, que também é atriz, dramaturga e produtora cultural, conta que a sua relação com a escrita nasceu da palavra falada, devido ao seu vínculo com o teatro.
“Por ser atriz, observo muito as pessoas, o que é bom para um escritor. E a minha escrita segue o viés da composição do personagem. Quando a gente escreve um bom personagem, é mais fácil desenvolver ele e construir suas falas”, disse a autora da peça teatral publicada Alimentando as Feras.
Daiana, que assina o livro Fuxico, Resenha, Mexerico nas Esquinas e Buzús de Salvador, contou que o livro foi escrito enquanto as histórias reais que o inspiraram aconteciam na sua frente durante as viagens de ônibus pela capital baiana. “Era como se fossem várias vozes na minha mente e aquilo me preparava para eu me ver como escritora”, disse. Uma entre tantas particularidades da obra é que os textos foram escritos todos com o celular.
Já Breno Fernandes, que faz sua estreia na literatura adulta com o romance As fotos roubadas (antes ele havia lançado seis livros infanto-juvenis) conta que a sua história foi inspirada em um assalto que ele sofreu no bairro do Campo Grande e dias depois o ladrão tentou adicioná-lo no Facebook.
Ao definir a sua obra, Breno destacou que assim como a vida o romance é um lugar onde é possível ter um vislumbre total das emoções humanas. “É uma comédia, mas também uma tragédia”, afirmou.
Sobre seu processo criativo, Breno recorreu à celebre frase de João Ubaldo Ribeiro que diz que “todo escritor é um mentiroso profissional” e defendeu que, mais do que a veracidade dos fatos, o que mais importa num romance é o quanto o outro se reconhece no que está escrito.
Já Daiana definiu o seu processo como “processo de loucura” com muita influência das técnicas de marketing aprendidas no tempo de vendedora. “O título do livro [Fuxico, Resenha, Mexerico nas Esquinas e Buzús de Salvador] veio no final e escolhi esse porque o marketing na minha família está no sangue”.
Por fim, Aícha revelou que os seus textos são pescados diretamente da vida dos outros. “Roubo as histórias que vejo, mas roubo com maestria. E é preciso se apropriar de verdade daquilo para que a história dê certo”, concluiu a escritora.
Selo João Ubaldo Ribeiro
Lançado em 2014, o Selo João Ubaldo Ribeiro é viabilizado por meio de edital público. A ação consiste em selecionar e publicar anualmente obras inéditas de autores soteropolitanos e/ou residentes em Salvador, nos gêneros Contos, Crônicas, Dramaturgia, Literatura Infantil, Poesia e Romance. Além das obras entregues no dia do lançamento, as bibliotecas comunitárias e municipais de Salvador são contempladas com a Coleção. A Academia de Letras da Bahia, o Gabinete Português de Leitura, as embaixadas dos países lusófonos também receberam exemplares. No segundo semestre de 2022, a Fundação Gregório de Matos lançou o edital Selo João Ubaldo Ribeiro – Ano IV. Através dele, escritores de Salvador podem concorrer à publicação de suas obras literárias.
Via Press
Assessoria de Comunicação da Bienal do Livro Bahia 2022
Elaine Hazin, Gabriel Monteiro, Ana Geisa Lima, Josie Novaes, Cristina Apulto e Saulo Miguez
bienal@viapress.com.br
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