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Crise Climática e Fome
No
Amazonas, insegurança alimentar grave atinge agricultura familiar. À
frente dos roçados, mulheres quilombolas lutam contra as consequências
da crise do clima e desmonte de políticas públicas.
“O pouco que as famílias conseguiram colher depois de duas grandes cheias é insuficiente. Muita gente está passando necessidade.
Tem quem não possa comprar um quilo de açúcar, que aqui custa R$ 6.
Tudo ficou muito caro. A gente nem come mais feijão, porque não pode
pagar R$ 15 no quilo. Já tem famílias aqui na comunidade que não têm o
que comer no almoço ou na janta, daí os moradores se ajudam. Um doa uma
farinha, o outro dá um peixe. Isso é o coletivo”.
Este é o relato de Elivalda Barros Macedo de Souza, 46 anos, agricultora da comunidade quilombola Lago de Serpa,
em Itacoatiara (AM), onde vivem cerca de 300 famílias, e reflete a
realidade paradoxal do Amazonas. Embora seja o estado com maior número
de agricultores familiares, é também um dos estados com maior nível de
insegurança alimentar.
A
segunda edição do Inquérito Nacional Sobre Segurança Alimentar no
Contexto da Pandemia Covid-19 no Brasil, realizada pela Rede Brasileira
de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede
PENSSAN), revelou que 58,7% da população brasileira (ou 125 milhões de
pessoas) vive em situação de insegurança alimentar e que 15,5%
(assustadores 33 milhões) passam fome, mesmo patamar de 30 anos atrás.
Numa análise regional, é possível notar como o Norte do país é o mais
afetado pela insegurança alimentar, onde 71,6% da população chega a não
ter o que comer, bem acima da média nacional. Em termos comparativos,
enquanto a fome (insegurança alimentar grave) fez parte do cotidiano de
25,7% das famílias na região Norte, esse número é muito menor, 9,9%, no
Sul, por exemplo. A média nacional é de 15,5%.
Entre os domicílios rurais brasileiros, o segmento da agricultura familiar foi especialmente afetado pelo desmonte das políticas públicas voltadas
para o pequeno produtor rural. Em 38% dos domicílios de
agricultores(as) familiares e produtores(as) rurais no Brasil, as formas
mais severas de insegurança alimentar (IA) (moderada ou grave) estavam
presentes. A insegurança alimentar grave foi encontrada em 21,8% dos
domicílios, o que revela que a fome atingia os moradores de mais de 1/5
dessas habitações. No Norte, o quadro se mostra ainda mais preocupante
porque as formas mais graves de insegurança alimentar (IA moderada ou IA
grave) eram realidade em 54,6% dos domicílios, respectivamente, e o
acesso pleno aos alimentos existia em apenas 20,1% dos domicílios.
A falta de comida no prato de quem produz alimentos é consequência de uma série de fatores combinados: insegurança jurídica dos territórios,
desmonte de políticas públicas de combate à fome e fomento à
agricultura familiar, inflação, pandemia da COVID-19 e as consequências
da devastação ambiental e da crise climática no Amazonas.
“O
Norte do país sempre figurou como um ‘ponto exótico’, cheio de riquezas
a serem extraídas e levadas pelos colonizadores. Mas a riqueza só foi
extraída e não devolvida ao povo. E isso resulta no quadro de desmatamento, biopirataria e garimpo ilegal,
o que coloca nosso povo à margem e deixa as pessoas que habitam esses
territórios e produzem essas riquezas em condição de insegurança,
inclusive alimentar”, pontua Amanda Lorena Nunes Cruz, agroecológa e
integrante da Rede Maniva de Agroecologia, movimento social que une
agricultores e organizações no fomento à agroecologia no Amazonas.
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