quarta-feira, 19 de outubro de 2022

No Amazonas, insegurança alimentar grave atinge agricultura familiar.

 


Reportagem do Instituto Modefica destaca como mulheres quilombolas lutam contra as consequências da crise do clima e desmonte de políticas públicas.

Reportagem disponível para republicação:

Crise Climática e Fome

No Amazonas, insegurança alimentar grave atinge agricultura familiar. À frente dos roçados, mulheres quilombolas lutam contra as consequências da crise do clima e desmonte de políticas públicas.

“O pouco que as famílias conseguiram colher depois de duas grandes cheias é insuficiente. Muita gente está passando necessidade. Tem quem não possa comprar um quilo de açúcar, que aqui custa R$ 6. Tudo ficou muito caro. A gente nem come mais feijão, porque não pode pagar R$ 15 no quilo. Já tem famílias aqui na comunidade que não têm o que comer no almoço ou na janta, daí os moradores se ajudam. Um doa uma farinha, o outro dá um peixe. Isso é o coletivo”.

Este é o relato de Elivalda Barros Macedo de Souza, 46 anos, agricultora da comunidade quilombola Lago de Serpa, em Itacoatiara (AM), onde vivem cerca de 300 famílias, e reflete a realidade paradoxal do Amazonas. Embora seja o estado com maior número de agricultores familiares, é também um dos estados com maior nível de insegurança alimentar.

A segunda edição do Inquérito Nacional Sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia Covid-19 no Brasil, realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), revelou que 58,7% da população brasileira (ou 125 milhões de pessoas) vive em situação de insegurança alimentar e que 15,5% (assustadores 33 milhões) passam fome, mesmo patamar de 30 anos atrás. Numa análise regional, é possível notar como o Norte do país é o mais afetado pela insegurança alimentar, onde 71,6% da população chega a não ter o que comer, bem acima da média nacional. Em termos comparativos, enquanto a fome (insegurança alimentar grave) fez parte do cotidiano de 25,7% das famílias na região Norte, esse número é muito menor, 9,9%, no Sul, por exemplo. A média nacional é de 15,5%.

Entre os domicílios rurais brasileiros, o segmento da agricultura familiar foi especialmente afetado pelo desmonte das políticas públicas voltadas para o pequeno produtor rural. Em 38% dos domicílios de agricultores(as) familiares e produtores(as) rurais no Brasil, as formas mais severas de insegurança alimentar (IA) (moderada ou grave) estavam presentes. A insegurança alimentar grave foi encontrada em 21,8% dos domicílios, o que revela que a fome atingia os moradores de mais de 1/5 dessas habitações. No Norte, o quadro se mostra ainda mais preocupante porque as formas mais graves de insegurança alimentar (IA moderada ou IA grave) eram realidade em 54,6% dos domicílios, respectivamente, e o acesso pleno aos alimentos existia em apenas 20,1% dos domicílios. 

A falta de comida no prato de quem produz alimentos é consequência de uma série de fatores combinados: insegurança jurídica dos territórios, desmonte de políticas públicas de combate à fome e fomento à agricultura familiar, inflação, pandemia da COVID-19 e as consequências da devastação ambiental e da crise climática no Amazonas. 

“O Norte do país sempre figurou como um ‘ponto exótico’, cheio de riquezas a serem extraídas e levadas pelos colonizadores. Mas a riqueza só foi extraída e não devolvida ao povo. E isso resulta no quadro de desmatamento, biopirataria e garimpo ilegal, o que coloca nosso povo à margem e deixa as pessoas que habitam esses territórios e produzem essas riquezas em condição de insegurança, inclusive alimentar”, pontua Amanda Lorena Nunes Cruz, agroecológa e integrante da Rede Maniva de Agroecologia, movimento social que une agricultores e organizações no fomento à agroecologia no Amazonas.

Acesse a reportagem completa aqui: https://modefi.co/3TxWlIP

Acesse a pasta com o texto da reportagem e imagens aqui: https://modefi.co/3TCJVzI


Sobre o Modefica

Somos um instituto de jornalismo e pesquisa ecofeminista a favor da justiça socioambiental e climática. Entendemos que vivemos em uma emergência ambiental e climática – e que as consequências da destruição ambiental podem ter impactos profundos na luta por justiça social, grandes rupturas nos processos sociais democráticos e atingir de forma mais dura determinados grupos em situação de vulnerabilidade social e econômica, como as mulheres, especialmente mulheres pobres e racializadas. Procuramos fazer do jornalismo, da pesquisa e da educação ferramentas de transformação, colaborando com as causas sociais e ajudando a construir uma narrativa de responsabilização de autoridades públicas e privadas. 


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