Rio
de Janeiro, 1º de setembro de 2022 - O Instituto Nacional de
Cardiologia (INC), instituição de referência do SUS para tratamento de
alta complexidade de doenças cardiovasculares, realizou procedimento de
vanguarda de implante percutâneo de válvula em válvula tricúspide. A
paciente é uma mulher de 56 anos, que já havia sido submetida a quatro
cirurgias cardíacas para correção de problemas nas válvulas cardíacas
causados pela febre reumática.
O procedimento
consiste em implantar uma prótese valvar dentro de uma outra prótese do
mesmo tipo que já está no corpo do paciente, para evitar a realização de
uma cirurgia de substituição. De acordo com o médico Cesar Medeiros,
Coordenador de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do INC, a
prótese foi colocada por meio de um cateter e guiada unicamente com o
ecocardiograma, pois a paciente tinha restrições ao líquido de contraste
normalmente utilizado nessas intervenções.
Foi a
primeira vez que esse procedimento foi realizado no INC e a segunda na
rede pública do estado do Rio de Janeiro. Segundo o especialista, o
procedimento é raro e relatos de caso são esparsos, o que fez com que a
equipe tivesse que consultar os poucos profissionais com experiência no
assunto como parte da preparação.
Em julho, a
paciente foi internada no Instituto com insuficiência cardíaca e
posteriormente desenvolveu severa disfunção renal. Embora a equipe tenha
conseguido estabilizar a condição da paciente, ela permanecia restrita
ao leito hospitalar.
O diagnóstico era de
disfunção de uma prótese na posição tricúspide que a paciente recebeu em
cirurgia anterior, em 2009. No entanto, a equipe concluiu que a
paciente estava em condição muito frágil e poderia não resistir a uma
quinta cirurgia.
“O risco de uma quinta cirurgia
era proibitivo. Começamos então a aventar alternativas e surgiu a opção
de fazer um implante de uma válvula dentro da válvula que ela já tinha. A
válvula é implantada por cateter, por uma incisão na virilha. É um
procedimento que é feito mais comumente nas válvulas aórtica e mitral”,
conta o Dr. Cesar.
Segundo ele, a válvula usada
na cirurgia não faz parte dos materiais disponíveis no SUS e não é usada
para esse procedimento nem mesmo na rede privada. A equipe do INC
conseguiu, então, a doação do material com o fabricante.
A
intervenção aconteceu na semana passada e teve muito sucesso. A
paciente está no setor de pós-operatório do INC, em franca recuperação.
Com a nova válvula, a equipe acredita que ela poderá retomar sua rotina
normal.
A febre reumática, que causou os
problemas cardíacos da paciente, é uma doença endêmica no Brasil e em
outros países em desenvolvimento. De acordo com a cardiologista Clara
Weksler, chefe do Departamento de Doenças Orovalvares do INC, ela ocorre
depois de um episódio de amigdalite bacteriana tratado de maneira
inadequada.
“Nem todas as crianças que têm
amigdalite desenvolvem doença reumática, mas isso ocorre em alguns
casos. O nosso setor de Cardiopediatria recebe muitos pacientes com esse
quadro, mas muitas vezes a doença passa despercebida até anos depois,”
conta ela. “A maioria dos pacientes no nosso ambulatório de doenças
valvares tem doença reumática.”
Sobre o INC
Referência
do Ministério da Saúde no tratamento de alta complexidade em doenças
cardíacas, o INC atua há mais de 40 anos com destaque em procedimentos
hemodinâmicos e cirurgias cardíacas de alta complexidade, incluindo as
neonatais.
Trata-se de um dos três institutos do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro. Os demais são o Inca e Into.
O
INC é atualmente o único hospital público que realiza transplantes
cardíacos em adultos e crianças no Estado do Rio de Janeiro e é o
segundo centro que mais realiza cirurgias de cardiopatias congênitas no
Brasil. Desde 2021, tornou-se o único hospital fluminense a realizar
transplantes de pulmão.
Formador de profissionais
para a rede de saúde, o INC possui Programas de Residência Médica,
Enfermagem e Farmácia de excelência, além de cursos de pós-graduação que
abrangem diversas áreas de atuação cardiovascular, como Hemodinâmica,
Ecocardiografia e Perfusão em Cirurgia Cardíaca. Conta ainda com
mestrado multiprofissional em Ciências Cardiovasculares e Avaliação de
Tecnologia em Saúde.
No campo da pesquisa, foi
escolhido pelo Ministério da Saúde como coordenador do maior estudo
multicêntrico já realizado no país na área de terapias celulares em
cardiopatas e desenvolve pesquisas clínicas em diversas áreas de
diagnóstico e tratamento em cardiologia.
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