Hoje há poder demais entregue às ONGs, que operam de mãos dadas com o Judiciário. Bruna Frascolla para a Gazeta do Povo:
Outro tópico que merece comparação
entre o movimento golpista de 64 e o de hoje é a sua conduta perante a
Amazônia. Muito se discute a alegação midiática de que os comunistas
estavam tramando um golpe, e que logo tomariam o poder caso Jango não
fosse detido.
De
fato, a União Soviética tinha espiões no Brasil. A universidade
brasileira é de uma negligência indesculpável e não procura pesquisar o
assunto; ainda assim, um autodidata brasileiro conseguiu trazer à luz
documentos do serviço secreto tcheco no Brasil, coligidos em 1964: O elo perdido do comunismo (Vide: 2017).
Dado
o alcance dos tentáculos da União Soviética, seria surpreendente se ela
não tivesse serviço secreto operando no Brasil. O mesmo se dá com os
Estados Unidos, cujo papel no IPES e IBAD é inflado pela esquerda de
modo a transformar o fenômeno de 64 numa coisa inteiramente manietada
pela CIA. Entre haver influência da CIA e ser determinado pela CIA, há
uma distância. Do mesmo modo, entre haver influência soviética e
determinar-se um golpe comunista, há uma distância. Se toda ação de
serviço secreto implicasse golpes de Estado exitosos, haveria todo tipo
de golpe no mundo inteiro.
É
temerário dizer que com certeza haveria um golpe comunista no Brasil
caso não houvesse golpe militar. Nem mesmo os anticomunistas mais
exaltados previam uma invasão do Brasil por uma potência estrangeira.
Seria possível uma quartelada comunista exitosa? Ora, os comunistas de
dentro do Exército eram minoritários desde a limpa feita por Vargas –
limpa esta que viria a ser concluída em 64. Se houvesse uma entrega do
Brasil inteiro ao comunismo, teria de ser pelo topo, por Jango. Mas o
próprio Jango era trabalhista e não comunista; era um herdeiro de
Vargas, um perseguidor dos comunistas cheio de jogo de cintura, que
sorri para Hitler minutos antes de se juntar aos Aliados. Às vezes um
herdeiro de Vargas poderia receber dinheiro de Fidel para levar adiante a
Revolução – mas sem garantia de que ele não pegasse o dinheiro e usasse
para comprar uma fazenda no Uruguai.
Olhando
em retrospecto, me parece que o maior benefício do golpe de 1964 não
foi o de impedir um golpe comunista, mas sim impedir que a Amazônia
brasileira fosse igual à colombiana – com todas as suas consequências
para o resto do país.
Selva abandonada
Essa
imensa porção do território nacional inóspita, conquistada à base de
suor dos colonizadores, da mestiçagem, de batalhas, tratados pacíficos e
até uma revolução, sempre teve uma densidade populacional baixa, muito
inferior à do resto do Brasil. No entanto, esse território cheio de
bichos perigosos e índios brabos, onde o homem branco não podia pôr o pé
sem quinino, revelou-se cheio de riquezas naturais. Os militares então
tiveram uma verdadeira obsessão pela soberania brasileira na Amazônia,
que precisaria ser ocupada pelos brasileiros. Era preciso “integrar para
não entregar”.
Em
1967, Castello Branco dá o passo número um nesse sentido, que é a
criação da Zona Franca de Manaus com a finalidade de industrializar a
região e gerar empregos que levassem os brasileiros de outras regiões a
se mudar para lá. Trata-se de um incentivo econômico liberal, gerado
pela isenção fiscal. Além disso, tomaram-se providências em prol da
regularização fundiária na região.
A
criação do polo antecedeu em poucos anos uma outra tentativa de ocupar a
Amazônia, esta feita pela guerrilha. Enquanto os comunistas leais a
Prestes, do PCB, depuseram os sonhos de guerrilha pouco depois do
Relatório Kruschov e viraram gramscianos, em obediência a Moscou, a
dissidência se espalhou numa miríade de siglas e facções guerrilheiras
não-soviéticas. Os foquistas admiravam Che Guevara e pretendiam criar
focos de revolta popular. Os maoístas, por outro lado, se inspiravam no
modelo de revolta campesina exitoso na China. Muitos caminhos levavam à
Amazônia.
Jovens idealistas contra o Brasil ontem
Entre
o fim da década de 60 e o começo da de 70, alguns jovens universitários
do PCdoB se despencaram dos grandes centros urbanos e rumaram ao
Araguaia para infundir consciência nas massas campesinas e fomentar a
revolução. Para essa área desassistida, os guerrilheiros levaram
professores e até médico. Um dos capítulos mais problemáticos e
negligenciados da guerrilha é o dos jovens pobres que tomaram aula de
tiro com os guerrilheiros, junto com aulas de alfabetização. Trata-se
simplesmente de um recrutamento de soldados infantis, pagos com
conhecimentos básicos. (A este respeito, leia-se Borboletas e
lobisomens, de Hugo Studart.)
É
interessante notar que também isso se dava num certo paralelismo com
uma iniciativa militar: o Projeto Rondon, surgido no fim da década de
60, que levava estudantes universitários para a Amazônia com o fito de
aplicarem lá os seus conhecimentos no serviço da população carente.
Pois
bem: lendo sobre as dificuldades enfrentadas pelos militares no
desbaratamento da guerrilha do Araguaia, é fácil enxergar o tamanho do
problema que foi contido ali. As dificuldades se deveram não ao
armamento, à perícia ou à quantidade. Na verdade, os universitários
foram abandonados à própria sorte pelo PCdoB, que não conseguiu
financiamento da China, procurou a Albânia, conseguiu dela apenas apoio
moral, mas mandou os rapazes e moças assim mesmo. Mesmo abandonados,
eles deram trabalho porque conseguiram se infiltrar nas populações de
posseiros, e foi necessária uma operação de inteligência para descobrir
quem eram os guerrilheiros em meio à população local. Os militares do
CIE também tiveram de se disfarçar de matutos.
Tudo
isso aconteceu em concomitância com a existência das FARC. Estas, a seu
turno, viriam a se envolver com o narcotráfico somente na década de 80.
Ou seja: podemos bem imaginar o tipo de dor de cabeça que teríamos
hoje, na Amazônia, se os guerrilheiros não fossem detidos em suas
atividades doutrinadoras. Um cenário parecido com o dos senderistas
talvez se desenhasse: áreas de difícil acesso cheias de fanáticos
militarizados causando banho de sangue no campo, sem causar grande
comoção ao poder público.
Jovens idealistas contra o Brasil hoje
Hoje
há forças ligadas a potências estrangeiras atuando na Amazônia: as
ONGs. Deveria ter-se tornado notório o causo contado pelo General Villas
Boas do soldado que lhe comunicara a presença do rei da Noruega em
aldeia indígena. Conforme explicou no programa de Bial, o rei não pedira
autorização ao Brasil, nem informara ao nosso país. Outro causo que
deveria ter se tornado notório é o contado por Aldo Rebelo em entrevista à Oeste este mês:
que tentara entrar em área indígena acompanhado por um amigo militar,
mas as ONGs que cuidavam dos índios não consentiam com a presença de um
membro do Exército na região.
Outra
queixa que merecia ser ouvida com atenção é a de Ricardo Salles,
repetida aos quatro ventos no mínimo desde a sua saída do ministério: o
Fundo Amazônia não é dado ao Brasil para que o país decida o que fazer
com o dinheiro, mas sim a um punhado de ONGs que fazem o que os países
doadores decidem. É evidente que a soberania do Brasil sobre a Amazônia
está sob ataque.
Hoje
há poder demais entregue às ONGs, que operam de mãos dadas com o
Judiciário. Assim como as áreas de comunicação e educação estão muito
ideologizadas, as áreas da antropologia e biologia também. É difícil
encontrar profissionais isentos para fazer pareceres técnicos isentos.
No entanto, é com base em pareceres supostamente técnicos e supostamente
isentos que ações do Ministério Público são abertas e decisões
judiciais são tomadas. Por isso o Brasil fica à mercê de ter suas obras
de integração nacional barradas por via judicial e à revelia da vontade
do povo. (Tenho em mente a Ferrogrão.) Nossa produção de energia também é
comprometida por esse ativismo – vide a usina de Belo Monte às voltas
com o MP e o Ibama, bem como a não-integração da energia de Roraima ao
resto do Brasil por causa de problemas com terras indígenas no caminho.
Alienada
que só, a direita brasileira reclama muito de Biden sabotando os EUA,
mas não procura se informar do status energético deste país que vive de
energia renovável e, ainda assim, é sabotado de todas as maneiras
possíveis pelo ativismo judicial. Tudo o que o regime militar fez de
bom, o regime judiciário faz de mau.
Da Amazônia às favelas
Na
Colômbia, o descontrole sobre a Amazônia acabou se tornando uma
tragédia urbana e acarretando sérios problemas para a soberania do país,
que, desde aceitar a parceria com a DEA para combater Pablo Escobar,
acabou se tornando um país satélite dos EUA. E continuam assim com a
eleição de Gustavo Petro, que, a despeito do seu passado de guerrilheiro
comunista, é indiscernível de um progressista do Partido Democrata. Até
propôs a criação de um outro Fundo Amazônia, que é porta de entrada
certa de ONGs, e levará a ideia à ONU na próxima conferência do clima.
A
aliança entre guerrilha e narcotráfico, como todos sabem, também se deu
no Brasil, embora de maneira muito menos dramática. O Comando Vermelho
surgiu no regime militar porque foram presos, juntos, os guerrilheiros
urbanos (discípulos de Marighella) e os quadrilheiros. No entanto,
qualquer brasileiro há de concordar que a violência urbana se tornou uma
catástrofe na Nova República. O PCC só surgiu em 1993. A figura do
cracudo, pela minha memória, só surgiu em Salvador, quando eu cursava a
faculdade: entre 2008 e 2011, e era chamado de “saci”. Nos anos 90, ao
menos em Salvador, droga de trombadinha era cola de sapateiro.
Também
no Brasil a questão do narcotráfico culminou na perda da soberania, e
isso em pleno coração do Rio de Janeiro: vide a decisão monocrática de
Fachin, que impede a polícia de entrar em morro. Quanto à Amazônia, não é
preciso muita imaginação para pensar em como essas ONGs se portam em
áreas próximas ao triângulo da cocaína onde não deixam o Exército
entrar.
Balanço final
Então
ficamos assim: em 1964, os militares deram um golpe com apoio da mídia e
do Congresso para tirar os poderes do presidente mais ou menos eleito,
prender conspiradores que queriam instaurar uma ditadura totalitária,
estrangular a vida partidária e salvar a soberania do Brasil. Na
presente década, o Judiciário deu um golpe com o apoio da mídia e do
Congresso para tirar os poderes do presidente eleito, prender
dissidentes que conversam em privado sobre o que aconteceria em caso de
golpe, estrangular a vida partidária e entregar a soberania do Brasil.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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