BLOG ORLANDO TAMBOSI
Bolsonaro
disse nos Estados Unidos que o Brasil alimenta um bilhão de pessoas no
mundo. Talvez; mas falta alimentar 33 milhões de brasileiros para quem
não há comida. Falta alimento? Não: falta administração. E, embora não
falte dinheiro para mordomias nos três Poderes, jet-skys, motociatas,
falta dinheiro para dar de comer a quem tem fome. Aos números: em 2009,
no fim de seu segundo mandato, Lula criou o PNAE, Programa Nacional de
Alimentação Escolar. Dilma assumiu, manteve o PNAE no mesmo valor. Temer
assumiu, manteve o PNAE no mesmo valor. Bolsonaro também não mexeu em
nada: para todos foi mais confortável fingir que não houve aumento de
população de 2010 até 2022 e os preços não subiram em 13 anos.
Resultado:
na pré-escola, há R$ 0,53 para encher o prato dos garotos da
pré-escola, que ou se alimentam direito ou têm a saúde prejudicada para
sempre. Os alunos do Fundamental e do Médio têm menos ainda, R$ 0,36 por
pessoa. No ensino em tempo integral o custo vai de R$ 1,07 a R$ 2,00.
Não é só isso: em muitos casos, a merenda escolar é a única refeição do
dia.
Num
país em que cada parlamentar tem até 80 assessores, os ministros do
Supremo têm funcionários para puxar suas cadeiras, o presidente precisa
colocar seus gastos no cartão em sigilo para evitar escândalo,
candidatos usam bilhões públicos para a campanha, há gente que não sabe
quando vai comer. Os campeões de gastos brigam entre si. Os famintos que
se danem.
Alguém contesta?
Quem
fez o brilhante levantamento foi a repórter Laura Mattos, da “Folha de
S.Paulo”. Não há um pingo de partidarismo neste notável trabalho. Só há
números, só há fatos: o PNAE deve atender a 40 milhões de estudantes de
escolas públicas. Certas categorias profissionais mais iguais que as
outras compram filé-mignon, salmão, picanha, com recursos públicos. Quem
não tem o que comer simplesmente não come. Não, não há qualquer
tentativa de reduzir gastos públicos. É como se os famintos simplesmente
não existissem.
Sentindo-se em casa
Mas
é injusto responsabilizar certas despesas de Bolsonaro pela falta de
verbas essenciais. Agora, foi a Los Angeles participar da Cúpula das
Américas (e se disse encantado com o presidente Biden). E, já que estava
por lá, resolveu voar 3.500 km para inaugurar um vice-consulado que
existe desde janeiro, em Orlando – onde fica a Disneyworld. Como perder a
oportunidade? É lá que estão o Pateta, os Irmãos Metralha, João
Bafodeonça, o rato Mickey.
Há até o Zé Carioca, que se veste igualzinho a um eleitor dele.
Armas, armas às mancheias
Anote:
falta comida para alimentar 33 milhões de pessoas, falta dinheiro para a
merenda escolar de 40 milhões de crianças, mas para armas o dinheiro
sobra. A Polícia Militar do Rio vai entregar uma arma de fogo do Estado,
gratuitamente, para 10 mil PMs da reserva remunerada. Cada PM
aposentado poderá pedir três carregadores e um mínimo de 50 balas.
Motivo? Segundo o porta-voz da PM, Ivan Blaz, os soldados reservistas
poderão usar as armas para fazer “bicos” particulares como seguranças.
Com o nosso dinheiro.
A área dos desaparecidos
Faz
tempo, muito tempo, mas este repórter conheceu a região da Tríplice
Fronteira amazônica, onde estão Tabatinga (Brasil), Santa Rosa (Peru) e
Letícia (Colômbia). Letícia e Tabatinga são, na prática, uma cidade só.
Em Tabatinga há uma base aérea brasileira. Letícia é, há uns cem anos, a
capital da Tríplice Fronteira (o Governo colombiano se preocupa com
ela, que já foi uma vez invadida pelos peruanos). E, desde a década de
60, a cocaína vai de lá para o Exterior. A guerrilha movida pelas FARCs
providenciou armas de primeira linha para os traficantes. Derrotadas as
FARCs, parte de suas forças decidiu continuar na ilegalidade, traficando
drogas. Ali operam o Comando Vermelho, CV, com base no Rio de Janeiro; e
a FDN, Família do Norte, com gente da própria região. Aos traficantes,
com quem colaboram e que lhes dão segurança, se aliam madeireiros e
garimpeiros ilegais. E todos se beneficiam do desmonte do aparato de
defesa dos índios e de proteção à floresta: ficou bem mais fácil a vida
para os ilegais.
Difícil
já não era: não só o Javari e outros inúmeros rios e igarapés, mas até o
Solimões (que irá se tornar Amazonas após receber as águas do Rio
Negro), são excelentes rotas de fuga.
É
nessa área, onde prosperam atividades ilegais de todos os tipos, onde o
crime organizado opera com certa tranquilidade cruzando fronteiras, que
Dom Phillips e Bruno Pereira estão desaparecidos.
Como
é mesmo? Já está em vigor desde quarta-feira a norma da Anatel segundo a
qual as operadoras de telemarketing são obrigadas a usar o código 0303.
Dizem que, assim, o cliente pode decidir se quer ou não atender à
chamada.
OK,
só que não é assim: praticamente todas as chatíssimas chamadas de
telemarketing chegam pelo meu telefone com fio – e aí, como descobrir o
prefixo do chato?

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