MEDIÇÃO DE TERRA

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quinta-feira, 2 de setembro de 2021

O rápido fim da guerra no Afeganistão: consequências para a Europa.

 



O élan do “regresso da América” com a administração Biden está, senão perdido, pelo menos adiado. Para a Europa é urgente mostrar unidade face às consequências dramáticas para si própria e para a NATO. Madalena Meyer Resende para o Observador:


Provando a afirmação de George Orwell de que “a maneira mais rápida de acabar com uma guerra é perdê-la”, extinguiu-se esta semana a missão Ocidental no Afeganistão. Vendo o súbito colapso do governo afegão e das suas forças – e a frenética saída americana, um sentido de fracasso e humilhação estendeu-se também aos estados Europeus que há duas décadas acompanhavam os EUA no Afeganistão. Para a Europa, as principais consequências são três.

A primeira é que a decisão da retirada, e a forma atabalhoada como foi conduzida, põe em perigo a unidade do Ocidente, e, mais precisamente, o sucesso da campanha da administração Biden para construir uma coligação com os Europeus contra a China. A aproximação da Europa a Washington, que ía de vento em popa desde meados de junho, abrandou com a rapidez com que os Talibãs se aproximaram de Cabul. Não só o prestígio dos Estados Unidos saiu amolgado, como prevalece a percepção de que a Administração Biden afinal continua a promover a política de “America First”. Para os líderes europeus, perdeu-se assim a oportunidade de propor ao eleitorado uma parceria reforçada com Washington.

A segunda consequência é que aqueles que defendem que a Europa precisa de fortalecer a sua capacidade de intervenção independência e autonomia foram robustecidos. Em resultado do descalabro no Afeganistão, discute-se já hoje e amanhã, nas reuniões informais dos Ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da UE, a criação de uma força militar comunitária de intervenção rápida. O Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell propôs que esta atingisse os 50 mil militares, aproveitando a deixa para propor que a UE possa agir em “circunstâncias como as do Afeganistão”. É sinal da maior ambição europeia, e da urgência sentida para que os passos para a autonomia europeia se tomam.

Por último, o medo de uma nova crise migratória semelhante à de 2015 – particularmente ameaçadora em plena época eleitoral na Alemanha e em França. Também esta semana, a Europa tenta responder à nova ameaça com um conjunto de propostas gizadas por Angela Merkel e Emmanuel Macron. Com rapidez inédita, os Europeus acordaram num plano que combina milhares de milhões de euros em financiamento para o Afeganistão e os seus vizinhos, de forma a ajudar refugiados e deslocados internos, com medidas destinadas a proteger as fronteiras da Europa. Em curso estão também negociações com os vizinhos do Afeganistão – como o Paquistão, o Uzbequistão, o Irão e a Turquia – para que esses países travem o êxodo de refugiados e assegurando a sua proteção principalmente na própria região.

A retirada do Afeganistão criou uma crise – mais uma crise – para o Ocidente. O élan do “regresso da América” com a administração Biden está, senão perdido, pelo menos adiado. Para os Europeus é premente mostrar unidade em face das consequências dramáticas para si próprios e para a aliança atlântica.
 
 
BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

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