O presidente Jair Bolsonaro exibiu ontem exatamente o que tem mostrado desde o início do mandato: sua irresponsabilidade e seu isolamento político. Editorial do Estadão:
O
presidente Jair Bolsonaro exibiu ontem exatamente o que tem mostrado
desde o início do mandato: sua irresponsabilidade e seu isolamento
político. Tratadas nas últimas semanas como prioridade nacional pelo
Palácio do Planalto, as manifestações bolsonaristas do 7 de Setembro
serão interpretadas pelo presidente como a prova de que o “povo” o
apoia, mas um presidente realmente forte não precisa convocar protestos a
seu favor nem intimidar os demais Poderes para demonstrar poder; apenas
o exerce. Assim, Bolsonaro reiterou sua fraqueza, já atestada por
várias pesquisas que indicam o derretimento de sua popularidade.
Os
atos – que configuraram evidente campanha eleitoral antecipada, bancada
parcialmente com recursos públicos – revelaram também que, depois de
tantas ameaças proferidas, Jair Bolsonaro já não tem muito mais o que
falar de novo a seus seguidores. Ontem, chegou a dizer que convocaria o
Conselho da República, órgão previsto na Constituição para consulta
sobre “intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio”, além de
“questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas”
(art. 90).
“Amanhã,
estarei no Conselho da República, juntamente com os ministros. Para
nós, juntamente com o presidente da Câmara, do Senado e do Supremo
Tribunal Federal, com esta fotografia de vocês, mostrar para onde nós
todos deveremos ir”, disse Jair Bolsonaro, em seu dialeto trôpego. Os
três presidentes citados, Arthur Lira, Rodrigo Pacheco e Luiz Fux,
disseram desconhecer a tal reunião. Como é de seu feitio, Bolsonaro
trata assunto sério de forma leviana.
Se
as manifestações tiveram considerável afluência, algo até previsível
ante o fato de que o presidente passou os últimos dois meses usando sua
tribuna privilegiada para convocar sua militância, o fato inexorável é
que o governo exatamente continua no mesmo lugar. E os problemas
nacionais continuam os mesmos. A rigor, por força de Bolsonaro, eles até
se agravaram nas últimas semanas: aumentou o pessimismo, decaiu a
confiança, cresceu o desalento. A saída da crise social e econômica está
mais distante.
Não
há como negar. É patente o descaso do presidente com a realidade do
País. Basta ver que, diante da inflação crescente e ao emprego em baixa,
a aposta de Bolsonaro, interessado somente em permanecer no poder e
proteger sua prole e a si mesmo da Justiça, continua sendo acirrar
tensões com os outros Poderes e sugerir a possibilidade de uma ruptura
institucional. Em seu léxico, não há solução.
Eis
a grande disfuncionalidade dos atos bolsonaristas de 7 de Setembro. Por
mais que pretendam demonstrar apoio, as manifestações são incapazes de
modificar a natureza dos reais desafios do Palácio do Planalto. Os
problemas continuam os mesmos e tendem a se agravar, já que é cada vez
mais explícito o desinteresse de Jair Bolsonaro em enfrentá-los.
Por
mais que Bolsonaro não goste da ideia, há um País a ser governado.
Havia antes do 7 de Setembro e continuará a haver depois. São muitos os
assuntos a respeito dos quais se deve esperar uma atitude responsável
por parte do presidente, como o enfrentamento da pandemia e a gestão da
crise hídrica. Vidas, empregos e o futuro das novas gerações estão em
risco.
É
esse cenário de desolação que se apresenta aos olhos da população todos
os dias, seja feriado ou dia útil, tenha motociata presidencial ou não.
Os índices de desaprovação recorde do governo Bolsonaro são um dos
sintomas desse quadro disfuncional.
O
governo Bolsonaro é muito ruim. Não cumpriu o que prometeu e não
trabalha para melhorar as condições de vida da população. Como se viu
ontem mais uma vez, sua tática atinge inauditos padrões de
irracionalidade, com propostas de tom golpista: ameaçar os outros
Poderes e contestar por antecipação o resultado das próximas eleições.
A
manobra pode ter alguma serventia nas redes sociais. Na vida real, os
preços dos alimentos sobem, as oportunidades de emprego não aparecem, os
investimentos se ressentem, os jovens ficam sem a devida formação. Esse
é o dia seguinte.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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