O candidato social-democrata “sugou” a imagem de equilíbrio e estabilidade de Angela Merkel para a difícil tarefa de ser o sucessor dela. Vilma Gryzinski:
Confiável,
estável, previsível, pragmático, uma fortaleza em matéria de equilíbrio
fiscal, tão sem floreios que seu apelido lembra um robô. Em outras
palavras, um chato.
Olaf
Sholtz está adorando ser tudo isso. Ao emular as qualidades que fizeram
o sucesso de Angela Merkel, chegando ao ponto de copiar a pose famosa
dela com os dedos unidos na frente do corpo em formato de losango,
Sholtz passou à frente nas pesquisas para a eleição de domingo e pode
vir a ser o Kanzler, o chanceler ou primeiro-ministro que substituirá a
mulher mais bem sucedida da história dos regimes democráticos.
Sholtz
já é mais do que conhecido dos alemães. Como pelo sistema
parlamentarista, qualquer partido que seja o mais votado tem que fazer
uma coalizão para conseguir a maioria no Bundestag, ele integra o
governo atual desde 2018 como ministro das Finanças e
vice-primeiro-ministro.
Ao
substituir o legendário Wolfgang Schlaube, que de sua cadeira de rodas
(paraplégico por causa de um atentado a bala) comandou a fortaleza alemã
– e européia – sem dar o menor refresco aos gastadores vizinhos do sul,
Sholtz vestiu o mesmo figurino do antecessor. Os alemães, que não
gostam da ideia de bancar a gastança alheia, aprovaram.
Sholtz
é da ala mais à direita do Partido Social-Democrata, de
centro-esquerda. No passado, votou contra a expansão do estado de
bem-estar social, em nome do equilíbrio fiscal, e no presente tem sido
uma âncora no combate aos efeitos da pandemia sobre a economia.
Apelidado
de “Sholzomat” – uma mistura de seu nome com autômato em alemão -, ele
está sendo beneficiado pelo encolhimento do adversário, Armin Laschet,
seu rival em matéria de sem-gracice.
Com
todas as suas conhecidas qualidades, Angela Merkel não conseguiu manter
a União Democrata Cristã na posição de partido mais votado. Laschet não
está ajudando. A falta de carisma que beneficia Sholtz, nele funciona
contra. Até uma foto infeliz, em que aparece dando risada durante uma
visita às vítimas da grande enchente de julho, virou uma hashtag
daquelas de detonar a imagem de qualquer um.
Pegou
especialmente mal na faixa das eleitoras mais velhas – a base mais
importante de apoio a Merkel – e a vantagem de dez pontos do bloco
conservador foi para o espaço. Segundo as últimas pesquisas, o bloco tem
21% das preferências e o Partido Social-Democrata está com 26%. Ambos
certamente terão que continuar com a coalizão de governo, talvez com a
participação dos Verdes.
Tradicionalmente,
os social-democratas querem gastar mais, bancando benefícios sociais já
incrivelmente generosos, e os democrata-cristãos seguram a carteira e
os impostos. Ao se apresentar como um candidato que se preocupa com o
bem-estar da população e também com a estabilidade das contas públicas –
ou seja, uma versão masculina de Angela Merkel -, Sholtz ficou em
posição vantajosa.
Mas
não garantida: a vantagem dele está diminuindo na arrancada final da
campanha. Na última hora, uma parte do eleitorado pode ficar desconfiada
com a hipótese de que os social-democratas formem uma coalizão com os
Verdes e a Esquerda. Ou sentir que deve a Angela Merkel um presente de
despedida, votando nos democrata-cristãos. A primeira-ministra entrou na
campanha nos dias finais, na tentativa de evitar que seu partido leve
uma surra.
Mesmo
assim, numa confirmação da herança de estabilidade que a
primeira-ministra deixa, não haverá guinadas dramáticas qualquer que
seja o resultado.
De forma geral, países que dão certo não fazem mudanças existenciais a cada eleição. Sholtz – ou Laschet – é uma garantia disso.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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