Há tempo, mas cumpre a todos se debruçarem nessa tarefa de exigir dos presidenciáveis a criação de um só caminho do centro democrático, em prol do Brasil. Artigo de Miguel Reale Jr. para o Estadão:
No
início do mês passado foi publicado manifesto assinado por figuras
importantes da nossa sociedade como intelectuais, economistas,
empresários, banqueiros, líderes religiosos. Desse documento destaco: “A
sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará
aventuras autoritárias”.
Em
meados de agosto, o presidente da República enviou ao Senado Federal
pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal. Em documento enviado ao presidente do Senado por
ex-ministros da Justiça e da Defesa, propunha-se o arquivamento imediato
do pedido como “caminho que evite constrangimento indevido e conduza ao
apaziguamento dos ânimos e à reafirmação do respeito e da confiança no
Poder Judiciário e no Estado de Direito”.
A
Febraban, com apoio de 300 entidades, organizou manifesto a ser
publicado pela Fiesp, que à última hora, constrangedoramente, recuou de
dá-lo a público. Mas a Febraban e as demais entidades reafirmam esse
texto, em nada agressivo ao governo, pois sua tônica é a defesa da
democracia, como se pode ver no parágrafo a seguir.
“As
entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande
preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades
públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação
política, estabilidade institucional.”
Setor
fundamental da economia brasileira, que tem mantido as exportações e o
crescimento do PIB nacional, o agronegócio, por intermédio de seis
entidades, a começar pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag),
em posição firme, ao contrário da pusilanimidade da Fiesp, deu
publicidade a documento incisivo acerca do instante movediço vivido no
País. E enfatizou “sua preocupação com os atuais desafios à harmonia
político-institucional e como consequência à estabilidade econômica e
social em nosso país. As amplas cadeias produtivas que representamos
precisam de estabilidade, segurança jurídica, harmonia para poder
trabalhar”.
A
sociedade brasileira, que assistia atônita às representações diárias de
irracionalidade do sr. presidente, muitas vezes verbalizadas de forma
chula, percebeu os riscos da criação artificial de confrontos promovida
pelo mandatário. Esses antagonismos deixaram de ser em face de partidos e
de pessoas, e passaram a ser em vista de instituições da democracia,
criando um clima de grande insegurança.
Os
agentes econômicos dos mais diversos setores expressam agora o
sentimento principal que preside o nosso cotidiano: a sociedade
brasileira está cansada de guerras inventadas que sinalizam a
necessidade falsa da adoção de medidas totalitárias, pois se quer, antes
de tudo, estabilidade.
Por
isso, a tônica das manifestações está na extrema preocupação com a
escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas,
clamando-se pelo apaziguamento dos ânimos, pelo diálogo, pela
pacificação política.
A
democracia deve defender a si mesma, para que a liberdade não seja
usada para destruir a liberdade de todos. Numa democracia militante
defende-se não incrementar conflitos, principalmente de modo artificial,
confundindo maliciosamente a liberdade de expressão com a liberdade de
agressão, como agora pretende Bolsonaro ao convocar para os atos de 7 de
setembro.
Esses
manifestos das forças econômicas proclamam: precisamos “de
estabilidade, segurança jurídica, harmonia para poder trabalhar”. Ao
mesmo tempo reafirmam seu compromisso com o Estado de Direito,
declarando: “A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não
aceitará aventuras autoritárias”. É demonstração veemente de estarmos
numa democracia militante, a tal ponto que a própria sociedade se
apresenta como asseguradora da ordem constitucional.
Certamente
não será a argumentação melíflua do presidente da Câmara dos Deputados
aos ouvidos solícitos do presidente da Fiesp que vai desfazer a
realidade tão bem desenhada no manifesto da Febraban, ou seja: o risco
contínuo de instabilidade com Bolsonaro no poder.
A
intensa preocupação atual dos agentes econômicos e o pavor dos
desempregados mostram como é temível a reeleição de Bolsonaro. Impõe-se,
então, pensar com maior determinação numa terceira via que responda a
esses anseios de paz, de estabilidade e de visualização do futuro.
Os
subscritores dos recentes manifestos em prol do Estado de Direito devem
se pôr em campo para exigir que os presidenciáveis do centro, após a
legítima apresentação de sua ambição de ocupar a Presidência, venham a
encontrar, dentre eles, alguém que aglutine e constitua governo
conjunto, em torno de um só nome, como se fez na eleição de 1985, quando
Ulysses e Montoro abdicaram da condição natural de candidatos em favor
de Tancredo, o qual teria, mais que eles, condição de compor diversos
setores políticos a seu favor.
Há
tempo, mas cumpre a todos se debruçarem nessa tarefa de exigir dos
presidenciáveis a criação de um só caminho do centro democrático, em
prol do Brasil.
ADVOGADO,
PROFESSOR TITULAR SÊNIOR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, FOI MINISTRO DA JUSTIÇA
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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