Crianças que não dormem com medo das alterações climáticas. Jovens que não querem ter filhos para não comprometerem o futuro do planeta... Quando é que esta lavagem de cérebro vai parar? Helena Mattos para o Observador:
Penso
demasiado nas catástrofes ambientais à minha volta”, explica a jovem de
16 anos. E os exemplos são vários: há cada vez mais plantas e animais
em risco de extinção, a subida do nível do mar continua a obrigar muitas
pessoas a abandonar as suas casas e os episódios meteorológicos
extremos são cada vez mais frequentes – inundações, furacões,
tempestades ou mesmo a seca, que já é apontada pela Organização das
Nações Unidas como a próxima pandemia. “Já tive ataques de ansiedade a
pensar nisto”, diz a jovem. “Se hoje já acontece tanta coisa
devastadora, o que posso esperar do futuro?”, questiona.» — Este
testemunho consta de um artigo do PÚBLICO sobre o que se designa como “ansiedade climática”.
Ao
ler estas declarações ou os dados que aparecem nuns estudos que citam
outros estudos que por sua vez referem outras declarações somos
confrontados com um universo de medo que se alimenta do medo: «Quase
seis em cada dez jovens estão muito ou extremamente preocupados com a
crise climática, diz um estudo feito em dez países, que “sugere pela
primeira vez que elevados níveis de angústia psicológica nos jovens
estão ligados à inércia dos Governos”. Jovens portugueses estão entre os
mais preocupados.» (PÚBLICO); «Quatro em cada 10 jovens receiam ter filhos devido à crise climática» (VISÃO);
«Alterações climáticas. Mais de metade dos jovens dizem que “o futuro é
assustador” e que “a humanidade está condenada”, conclui estudo» (EXPRESSO)….
Realmente
há algo de muito assustador nisto mas não é o clima nem o planeta mas
sim o termos criado uma geração de crianças e jovens que olham para o
mundo com o fanatismo e a ignorância das seitas apocalípticas! As
fogueiras pagãs de um planeta em chamas substituíram os caldeirões
infernais no imaginário dos novos beatos!
Pode
argumentar-se que a presente “crise climática” é apenas mais um
capítulo do manual de desmoralização das sociedades liberais: nos anos
70 do século passado também se acreditou estar o mundo a caminhar para
uma calamidade sem retorno, não porque a humanidade estivesse a destruir
o clima mas sim porque se estavam a esgotar os recursos naturais. Eram
os tempos em que não se questionavam os cenários catastróficos de
relatórios como “Os Limites do Crescimento” e em que os jovens
activistas da época constituíam comunidades alternativas para escaparem
ao capitalismo e seu fim mais que anunciado.
Como
se sabe nenhum daqueles cenários de fome, miséria e destruição se
confirmou (antes pelo contrário) e as tão incensadas comunidades
alternativas essas sim acabaram por inviabilidade ou tragédia. Mas nada
disso impede que ciclicamente o discurso do derradeiro combate regresse.
E sobretudo que regresse sem ser questionado. Cavalgar a onda do que
foi o aquecimento global, depois passou a alterações climáticas e agora
já vai em crise climática é a palavra de ordem para políticos e
empresas. Neste domínio a imaginação não tem limites e o ridículo ainda
menos. (No capítulo do ridículo para já o prémio parece-me ir para a
Iberdrola, empresa produtora de energia, que resolveu escrever a
propósito da eco-ansiedade:
“Um estudo realizado pela empresa de tendências globais WGSN, revela
que 90% dos entrevistados em âmbito mundial afirmam que pensar na crise
climática lhes provoca incomodidade em relação ao seu futuro, um
incômodo que, especialmente nos mais jovens, se transforma em um
ativismo ecológico como o representado pela icônica Greta Thunberg e que
faz pensar em um futuro mais próspero para o planeta.” Como é que a
Iberdrola vê um futuro mais próspero para o planeta ou para o que quer
que seja quando contempla a “icónica Greta” é que não vislumbro por mais
que me esforce. Mas também isso não interessa. O que interessa é que a
empresa disse uma coisa que fica bem!)
Tudo
e o seu contrário é apresentado como positivo desde que se apresente
como visando salvar o planeta: dá-se como adquirido que o nível dos
mares vai subir mas simultaneamente constroi-se como nunca à beira-mar.
Nunca
se invocou tanto a ligação à terra mas não só se despreza o mundo rural
como se condena esse mundo rural a sobreviver sob a tutela dos
iluminados citadinos.
Nunca
se invocou tanto o clima mas nunca se subestimou tanto que ele existe:
ao contrário do que se pode concluir vendo as televisões, o bom tempo
não é aquele que nos permite ir à praia e as tempestades, os furacões
tal como as ondas de calor e de frio fazem parte do clima.
Durante
o próximo mês e meio, até à Conferência do Clima que vai ter lugar em
Glasgow, veremos crescer esse discurso do combate derradeiro para salvar
o planeta. Já é perceptível como à medida que as notícias sobre a Covid
vão perdendo destaque, crescem os títulos sobre a “ansiedade
climática”, a “eco-ansiedade” e a “crise climática”. É já evidente que
mediatica e politicamente passaremos de uma pandemia para outra.
Voltarão os mesmos cenários de terror. A mesma culpabilização pelo nosso
comportamento pecaminoso. Os mesmos governos que não governam, salvam
os povos. Os mesmos políticos escondendo o estatismo crescente atrás do
unanimismo implícito aos combates ditos derradeiros. E, sobretudo, a
mesma incapacidade de perguntar as consequências de tudo aquilo que está
a ser apresentado como indispensável à salvação. Outrora das nossas
almas. Agora do planeta.
A
recente polémica em torno do custo da electricidade é um bom exemplo de
como a pretexto de salvar o planeta nos está a ser imposta uma agenda
politica e ambientalmente questionável. Por exemplo, enquanto se fecham
centrais nucleares na Europa, quantas abrem na China? Ou como pode um
país como Portugal apressar-se a encerrar a central de Sines,
alegadamente para descarbonizar, para em seguida comprar electricidade a
Marrocos (sim, proveniente das centrais a carvão que ali foram
inauguradas recentemente)? E o que se pretende exactamente com a recente
instituição do direito a um “clima estável”
seja isso o que for? A falta de espírito crítico que rodeou a aprovação
da Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital e do seu célebre
artigo 6º que legaliza a censura, pode ter resultados ainda mais
perigosos nas chamadas leis do clima.
Não
questiono as alterações climáticas nem a possibilidade de elas poderem
ser influenciadas pela actividade humana. Mas também por isso acho
urgente que se recupere a racionalidade e nos libertemos desta onda de
histeria. Quanto aos adolescentes eco-ansiosos podem procurar informação
sobre a cruzadas das crianças. Quem sabe esses exemplos de outras
ansiedades passadas os levem a dormir melhor. E ganhar juízo, coisa de
que andamos todos faltados.
Ps.
Podemos aproveitar este dia 26 de Setembro em que não se pode reflectir
sobre o que está a acontecer, para reflectir sobre o que aconteceu a 18
de Junho? Indo directamente à reflexão sobre o acontecido há três meses
e uma semana que obviamente nada compromete a reflexão a que hoje
estamos obrigados: a que velocidade seguia o carro em que viajava o
ministro Eduardo Cabrita quando no dia 18 de Junho atropelou mortalmente
o operário Nuno Santos?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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