A renovada força eleitoral de Lula deriva também do fato de que, imersos no pesadelo do governo de Jair Bolsonaro, muitos brasileiros tendem a esquecer a tenebrosa passagem do lulopetismo pelo poder. Editorial do Estadão:
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por 8 votos a 3, anular as condenações impostas ao ex-presidente Lula da Silva na esteira das investigações da Operação Lava Jato. Com isso, o petista está apto a disputar as eleições presidenciais de 2022.
Nada
disso significa, é claro, que Lula da Silva seja inocente das acusações
que o levaram à condenação por corrupção. O Supremo apenas entendeu que
a Justiça Federal de Curitiba, que condenou o ex-presidente, não era o
foro competente para julgá-lo.
No
entanto, a verdade dos fatos, em se tratando de Lula da Silva, é
irrelevante: o demiurgo de Garanhuns e seus devotos já estão tratando a
“decisão histórica” do Supremo, nas palavras do advogado do petista,
como uma prova cabal não só da inocência do ex-presidente, mas da
“perseguição política” que ele sofreu.
Peritos
em imposturas, os petistas nem precisavam de ajuda alheia para
alimentar essa narrativa, mas mesmo assim o ministro Ricardo
Lewandowski, do Supremo, decidiu dar sua colaboração. O magistrado – que
entrou no STF pelas mãos do então presidente Lula da Silva – disse que
“a história do Brasil poderia ter sido diferente” se a Corte tivesse
julgado o caso de Lula como se ele fosse um réu qualquer. Ou seja, o
ministro sugeriu que os votos que ajudaram a condenar Lula foram
enviesados, e “isso custou ao ex-presidente 580 dias de prisão e causou a
impossibilidade de se candidatar a presidente da República”.
Antes
de ser um arroubo inconsequente, essa declaração reflete o espírito que
certamente norteará a mais que provável candidatura de Lula da Silva a
presidente. Ele se apresentará como vítima de uma formidável perseguição
das “elites” – rótulo usado pelos petistas para nomear todos os que não
votam no PT nem adoram Lula.
Como
vítima de uma injustiça – que, repita-se, só existe na fabulação
petista –, Lula pode se apresentar como alguém moralmente superior,
condição em que tudo o que diz ou faz se torna incontestável. Na
semântica autoritária, o petista não é apenas inocente: é o mártir
sacrificado no altar do reacionarismo e que agora renasce para
“consertar o Brasil”, em suas próprias palavras.
Portanto,
se a hipótese da candidatura de Lula se confirmar, como deve acontecer,
teremos em 2022 uma disputa entre dois candidatos – o petista e o
presidente Jair Bolsonaro – que se apresentam como vítimas: o primeiro,
das “elites”; o segundo, dos “inimigos do Brasil”. Nesse cenário, a
política partidária institucionalizada não tem lugar, e o debate
racional para articular saídas para a imensa crise nacional corre o
risco de ser interditado pela gritaria populista. E os cidadãos de bem
deste país serão, mais uma vez, as verdadeiras vítimas, como sempre, da
mediocridade, da ignorância e da má-fé.
De
certa forma, os muitos excessos do lavajatismo não apenas alimentaram o
clima que viabilizou a vitória de Bolsonaro em 2018, como, agora,
permitiram que Lula da Silva revigorasse sua força eleitoral e política,
que vinha declinando depois de tantos anos de corrupção e desastre
econômico. E esse Lula tonificado aparece como caudilho a reivindicar
reparação histórica, tal como exposto no voto do ministro Lewandowski.
Quem haveria de contrariar os devaneios cesaristas de um governante
surgido dessa injunção?
A
renovada força eleitoral de Lula deriva também do fato de que, imersos
no pesadelo do governo de Jair Bolsonaro, muitos brasileiros tendem a
esquecer a tenebrosa passagem do lulopetismo pelo poder, ou então a
considerar como aceitáveis os desmandos do PT se comparados ao
descalabro bolsonarista. Por isso, nunca é demais advertir que a
recidiva costuma ser muito pior do que a doença – que, recorde-se,
consumiu o País em escândalos e, graças à natureza demagógica do
lulopetismo, atrasou dramaticamente o desenvolvimento nacional.
Um
aperitivo do que está por vir foi dado numa entrevista que Lula da
Silva deu ao jornal espanhol El País: segundo o chefão petista, seu
tempo no governo “foi o melhor momento da América Latina desde Colombo”.
Fosse
na época em que mandava e desmandava, Lula da Silva teria dito que seu
tempo foi o melhor desde a Criação. Mas o demiurgo de Garanhuns está
mais modesto.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

Nenhum comentário:
Postar um comentário