Por Marina Miranda Fiuza, autora do livro A Lua e o Girassol: um dia mães em luto, outro dia mães em luz.
Meu primeiro encontro com as mães em luz foi em 8 de março de 2018, Dia Internacional da Mulher. Nossa relação começou cheia de simbologia e assim permanece. Nós nos encontramos em um restaurante para conversar sobre o projeto de um livro e minha possível participação nele. Fui apresentada ao grupo por intermédio da Gabriela, minha amiga, que havia sido acolhida por aquelas mulheres depois da morte da filha Sofia, em 2013. Todas elas eram mães enlutadas e haviam encontrado, umas nas outras, a rede de amparo que julgavam essencial na sobrevivência à morte de um filho.
Naquela ocasião, eu já havia escrito alguns textos sobre o luto materno. Além de acompanhar a experiência da Gabriela, também havia compartilhado o luto vivido pela minha mãe em decorrência da morte do meu irmão, Hugo, em 2012. Ao contrário da morte da Sofia – que parece ter chegado a conta-gotas –, Hugo morreu no espaço de um susto, como raio em céu azul. As dores da minha mãe eram urgentes. Demorou para que eu entendesse o que era perder um irmão. Antes, eu só entendia a dor materna vivida naquele que era o meu coração de origem.
Foram esses textos que fizeram aquelas sete mães em luto considerarem a minha participação no projeto do livro que elas idealizavam já havia algum tempo. O registro de suas experiências seria uma forma de celebrar tanto os seus filhos quanto a amizade construída entre elas. Além disso, acreditavam que outras mulheres também poderiam se sentir acolhidas ao se identificarem com o relato daquelas sete histórias. A ideia não era a de um livro de autoajuda, nem de orientação psicológica, nem mesmo de testemunho de fé. O que elas desejavam era proporcionar para outras pessoas aquilo que encontraram entre si: a possibilidade de se expressarem e de se reconhecerem na dor alheia, sem pudores e sem tabu.
Lembro do caminho até o restaurante. Tinha escolhido vestir uma roupa mais ou menos sóbria. Cheguei com ar de reverência e cerimônia, porque uma mãe que perdeu um filho merece todo o respeito que alguém pode oferecer. Enfim, estava pronta para ouvir. Só não imaginava que o que mais ouviria naquela noite seria o som de risadas. Pude, então, perceber aquilo que considero o maior aprendizado que obtive na soma dos três anos de projeto que se sucederam àquele encontro: o luto de um filho é uma experiência primordialmente de amor. É o amor que permite que a vivência do luto se torne paradoxal, uma fagulha de luz que insiste em iluminar o breu. Por isso, as mães em luto são, também, mães em luz. Daí o título do livro: A Lua e o Girassol: um dia mães em luto, outro dia mães em luz.
Durante um ano e meio me reuni com cada uma delas: Cecília, Marlise, Marília, Gabriela, Claudia, Carla, Mariana. Para cada encontro foi preciso esperar um certo alinhamento dos astros, uma predisposição espiritual, um arranjo domiciliar que oferecesse a privacidade necessária para falar de um assunto tanto íntimo como sagrado. Do outro lado, eu também me preparava fazendo roteiros, lendo livros e me familiarizando com o assunto. Minhas anotações prévias, porém, foram descartadas já na primeira entrevista, quando Cecília tirou os sapatos e se deitou na cama para conversar comigo. Todas elas estavam prontas para compartilharem as emoções e não havia planejamento capaz de prever tais itinerários. Uma mãe enlutada, quando encontra a chance rara de falar sobre o seu filho, transborda.
Foi inundada por esses relatos de amor que me dediquei, no ano seguinte, ao processo de escrita. Meu desafio não era o de organizar fatos biográficos em um texto, mas o de traduzir em palavras sentimentos que eu não havia vivenciado pessoalmente. Não ousaria me apropriar das experiências que não são minhas, mas precisei deixar que elas me atravessassem. Jamais me proporia a falar em nome dessas sete mães, mas pude permitir que elas falassem através de mim. Humanizada por cada uma delas, meu desejo é que este livro, como tantos outros que a literatura nos oferece, seja, também aos seus leitores, um exercício de humanização.
SOBRE A AUTORA | Marina Miranda Fiuza é doutoranda em Literatura e Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e mestre pela mesma instituição (2011). Realizou Estágio Doutoral na University of Michigan (Estados Unidos), com bolsa PDSE/CAPES. Graduada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2006, é especialista em Psicopedagogia Institucional pelas Faculdades ASMEC (2007) e graduada em Pedagogia pela Universidade Nove de Julho (2010). É membro do grupo de pesquisa “A voz escrita infantil e juvenil: práticas discursivas”, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ministra o curso de extensão “O Livro Ilustrado Infantil: palavra, imagem e interações” na COGEAE/PUC-SP desde 2015. Com raízes mineiras – e memórias em Mato Grosso do Sul –, é mãe de dois filhos; o interesse pela temática do luto surgiu com a morte de seu irmão.
SOBRE O LIVRO | A mulher que perde o marido é viúva; a que perde os pais é órfã. A mulher que perde o filho é algo que não cabe em palavras. Essa experiência – a maior dor do mundo – não é passível de nomeação. Vivenciar o inominável é voltar à condição alheia de criança recém-nascida, incapaz de concretizar qualquer estímulo que não venha das próprias vísceras. O mundo de fora fica mudo; o de dentro, grita a cada toque. Como se sente a mulher diante da morte de um filho? Esse questionamento é, de certa forma, o start para o livro A Lua e o Girassol: um dia mães em luto, outro dia mães em luz”, da autoria de Marina Miranda Fiuza, a partir de depoimentos de sete mães cujos filhos, de diferentes idades, faleceram em circunstâncias diversas. Lançada pela Primavera Editorial, a obra conta com o prefácio do escritor português, Valter Hugo Mãe.
SOBRE A EDITORA | A Primavera Editorial é uma editora que busca apresentar obras inteligentes, instigantes e acalentadoras para a mulher que busca emancipação social e poder sobre suas escolhas. www.primaveraeditorial.com
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