Deu no Estadão
O encolhimento de 9,9% do Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina em 2020 é talvez a face mais impressionante de um cenário econômico e social que, não sem razão, analistas locais e internacionais consideram tenebroso. O resultado de 2020 poderia ter sido pior. A economia argentina já vinha mal desde o início do ano, quando registrou redução de 4,6% no primeiro trimestre na comparação com os três primeiros meses de 2019.
No segundo trimestre de 2020, quando a pandemia atingiu duramente o país, a redução foi de assustadores 19,6%; no terceiro, de 10,1%. O último trimestre mostrou uma desaceleração nessa caminhada para o desastre, com queda de 4,4%. O resultado do ano foi a queda de quase 10%, um dos piores resultados entre os países com os quais a economia argentina pode ser comparada (no Brasil, o PIB encolheu 4,1% no ano passado).
EM QUEDA LIVRE – Assim, em 2020, o PIB argentino caiu pelo terceiro ano consecutivo (2,5% em 2018 e 2,2% em 2019). Mas o resultado positivo de 2017 (crescimento de 2,7%) foi apenas um ponto de uma série em que a um ano de expansão se segue outro de contração, observada pelo menos desde 2012.
Problemas crônicos que o governo do presidente Alberto Fernández não soube enfrentar, e em vários casos agravou, talvez tenham se tornado piores, como mostra a sequência ininterrupta de redução do PIB desde 2018.
A contração da produção vem acompanhada de uma persistentemente alta inflação (de mais de 50% em 2019 e de 36,1% em 2020), que se acelerou no início de 2021 (em fevereiro, chegou a 40,7% em 12 meses).
NO CÂMBIO NEGRO – Restrições cambiais impostas pelo governo na tentativa de conter a alta do dólar estimulam um mercado paralelo já muito ativo e não evitam a desvalorização da moeda local, mas desorganizam o comércio exterior. A taxa de investimentos produtivos cai.
O déficit público aumentou com as políticas de apoio aos mais afetados pela pandemia. Os índices de desemprego e de empobrecimento sobem e desenham um futuro difícil para boa parte da população.
Há incertezas sobre o desenrolar dos problemas e a projeção de que o PIB pode crescer até 7% em 2021 não anima. Ainda assim, a economia não terá recuperado o nível que alcançara vários anos antes. É este o cenário no terceiro maior mercado de produtos brasileiros.
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