Maior e mais contundente reação aos ataques sofridos pela força-tarefa de Curitiba, manifesto que já reúne 1.148 adesões em todo o País destaca resultados da operação e se indigna com 'palavras ofensivas' aos colegas do MPF ditas pelos dois ministros do Supremo no julgamento da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. Blog do Fausto Macedo:
Mais
de mil promotores de Justiça e procuradores da República de todo o País
lançaram neste sábado, 13, um manifesto em apoio à Operação Lava Jato,
classificando como ‘impropérios retóricos’ as ponderações que os
ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal
Federal, fizeram nesta terça, 9, durante o julgamento da suspeição do
ex-juiz Sérgio Moro, sobre o trabalho dos procuradores que atuaram na
investigação. Até as 20 horas, o protesto já reunia 1.148 assinaturas.
O
manifesto diz que, ao longo dos últimos 20 anos, ‘diferentes operações
conduzidas por órgãos responsáveis pelo combate à corrupção são, em
determinado momento, anuladas pelos Tribunais Superiores’, e agora o
‘mesmo destino recaiu sobre parte da Operação Lava Jato’.
Na
mais dura e veemente reação do Ministério Público em todo o País contra
os ataques à força- tarefa da Lava Jato, o documento registra que ‘por
mais que se queira, por motivos diversos, desconstruir o trabalho
desenvolvido na operação, jamais conseguirão apagar da consciência
coletiva’ os resultados das investigações.
A
mobilização foi arquitetada por um grupo de promotores de Justiça do
Ministério Público de São Paulo, inconformados com o desmantelamento em
série nos Tribunais Superiores de operações de larga extensão
deflagradas pela instituição nos últimos anos contra políticos e
empresários envolvidos em desvios e fraudes contra o Tesouro a partir de
teses de defesa que apontam ‘supostos vícios procedimentais’.
“O
movimento, mais do que defesa da Lava Jato e dos Procuradores da
República que lá atuaram, representa resposta, fruto de sentimento de
grande parte dos membros do MP brasileiro, cansados das ofensas
proferidas por alguns ministros do STF, que infelizmente usam a toga, às
vezes em público, para tal finalidade, como meio de encontrar algum
fundamento, por mais descabido que seja, para suas decisões, notadamente
quando o conteúdo das provas se mostram inafastáveis”, afirma o
promotor Aluisio Antonio Maciel Neto, do Ministério Público de São
Paulo.
O
documento conta com assinaturas de promotores de todos os Estados e do
Distrito Federal, além de procuradores da república, integrantes do
Ministério Público de Contas, entre outros. A mobilização se deu em um
grupo de Whatsapp e as mais de mil adesões foram coletadas em cerca de
48 horas.
Leia a íntegra do manifesto
Os
membros do Ministério Público abaixo nominados vêm a público externar
seu apoio ao trabalho dos Procuradores da República que atuaram na
Operação Lava Jato, diante dos impropérios retóricos lançados pelos
Ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski na sessão de julgamento do
HC n° 164.493, realizada pela 2ª Turma do STF na data de 09 de março de
2021.
Infelizmente,
ao longo dos últimos 20 anos, a sociedade brasileira constata – de
forma atônita – que praticamente todas as operações desenvolvidas pelos
órgãos responsáveis pelo combate à corrupção são, em determinado
momento, anuladas pelos Tribunais Superiores. Este foi o destino da
“Operação Diamante”, “Operação Chacal”, “Operação Sundown/Banestado”,
“Operação Boi Barrica/Faktor”, “Operação Dilúvio”, “Operação Suiça”,
“Operação Castelo de Areia” e “Operação Poseidon”.
O
roteiro seguido por essas operações sempre é o mesmo: narrativas
criadas pelas Defesas de supostos vícios procedimentais, que são
rotineiramente acolhidos pelos Tribunais Superiores. Todavia, nunca pelo
conteúdo das provas, quase sempre incontrastáveis.
Recentemente,
por exemplo, o STF anulou ação penal pelo fato de a defesa não ter
apresentado memoriais, após o réu que prestou colaboração premiada, algo
que não tem previsão na Lei, mas serviu como justificativa para que a
sentença condenatória fosse desconsiderada.
Assim,
todas as operações precedentes que foram anuladas pelos tribunais
superiores têm em comum com a pretensa anulação da Lava Jato a
característica de sempre se acolher um entendimento que não tem
sustentação em regra do ordenamento jurídico brasileiro para criar,
inovar, uma nulidade inexistente, ou sem que tenha sido anteriormente
reconhecida. Como resultado, todos os trabalhos de combate aos grandes
esquemas de corrupção foram arruinados.
No
dia 09 de março de 2021, mais uma vez, o mesmo destino recaiu sobre
parte da Operação Lava Jato. Sob o pretexto de parcialidade do
Magistrado e dos Procuradores da República, a 2ª Turma do STF deu
andamento a mais um Habeas Corpus que pretende a anulação de processos
movidos naquela operação.
Independentemente
do desfecho a ser dado ao referido Habeas Corpus, a forma como os
Ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandovski se pronunciaram sobre os
Procuradores da República da Operação Lava Jato não está à altura do
comportamento que se espera daqueles que integram a Corte Suprema.
Afora
a estranheza causada no referido julgamento, do qual participaram
Ministros que já se manifestaram publicamente contrários à Operação Lava
Jato e às autoridades que a conduziram, as palavras ofensivas dirigidas
por eles aos membros do Ministério Público não refletem a dignidade do
trabalho desenvolvido por estes últimos.
Todo
e qualquer membro do Ministério Público, da União ou Estadual, atua a
fim de que a Lei seja cumprida e respeitada, seja pelo cidadão comum ou
por qualquer político. Não é possível, em um Estado Democrático de
Direito, que o peso da Justiça seja distribuído de forma diferenciada
entre criminosos comuns e de colarinho branco.
Por
mais que se queira, por motivos diversos, desconstruir o trabalho
desenvolvido na Operação Lava Jato, jamais conseguirão apagar da
consciência coletiva que tal investigação proporcionou 1.450 mandados de
busca e apreensão, 211 conduções coercitivas, 132 mandados de prisão
preventiva e 163 de temporária, com 130 denúncias contra 533 acusados,
gerando 278 condenações (sendo 174 nomes únicos) chegando a um total de
2.611 anos de pena; mais de R$ 4,3 bilhões devolvidos aos cofres
públicos por meio de 209 acordos de colaboração e 17 acordos de
leniência, nos quais se ajustou a devolução de quase R$ 20 bilhões.
Nenhuma
narrativa será capaz de retirar da compreensão da sociedade que foi
desnudado o maior esquema de corrupção construído em toda história deste
país.
O
Ministério Público não faz diferenciação entre investigados por
certidão de nascimento, cadastro por contribuinte ou pelos sinais de
riquezas estampadas em suas declarações anuais de rendas, pois todos são
iguais perante a Lei.
Também
não serve como parâmetro de distinção qualquer predicado pessoal, por
cargo ou função anteriormente ocupada, pois ao Ministério Público não
interessam títulos nobiliárquicos, colorações partidárias ou predileções
ideológicas.
Afinal,
a ninguém é dado o título de porta voz ou destinatário exclusivo das
angústias de uma sociedade, muito menos lhe é devido o salvo conduto
para a prática de atos que frustrem as esperanças de um povo,
depositadas em seus representantes elegíveis.
Ao
longo das últimas décadas, o Ministério Público consolidou-se como
instituição responsável por diminuir as mazelas de um povo sofrido,
desprovido de seus direitos humanos mais básicos.
Ao
longo das últimas décadas, o Ministério Publico colocou-se como força
essencial no enfrentamento de forças políticas e econômicas que impedem o
livre desenvolvimento da sociedade e de sua população.
Não
por acaso, poucos anos atrás, o povo abraçou o Ministério Público,
quando parte da classe política tentou retirar-lhe o poder
investigatório concedido pelo constituinte para responsabilização de
corruptos e corruptores.
A
atuação firme e independente dos membros do Ministério Público apenas
evidencia o cumprimento de seus deveres constitucionais, comuns aos de
outros tantos na labuta diária em suas comarcas.
A
construção de um Estado Democrático de Direito, que tem como alicerce o
republicanismo impõe a intransigência necessária e devida com a
proteção dos valores éticos, morais e probos de uma nação.
Assim,
manifestamos irrestrito e incondicional apoio aos Procuradores da
República que atuaram na Operação Lava Jato e repudiamos as palavras
ofensivas dirigidas a eles pelos referidos Ministros, que apenas
demonstram o quão estão apartadas da construção de uma sociedade
verdadeiramente livre, justa e igualitária, prevista como desiderato da
Constituição Federal.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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