A repetida tentativa de fraudar a democracia brasileira, o desejo de controlar a imprensa e a amizade íntima com as ditaduras mais nefastas do continente latino-americano não credenciam nenhum partido ou líder a se denominar “democrata”. Editorial da Gazeta do Povo:
Lula
está provisoriamente de volta ao páreo eleitoral, tornado “ficha limpa”
pelas mãos do ministro Edson Fachin, que anulou todos os processos
contra o ex-presidente na 13.ª Vara Federal de Curitiba. Para que ele
fique novamente impedido de competir, será necessário que um colegiado
do Supremo (o plenário, ou a Segunda Turma) reverta o ato de Fachin, e
que a Segunda Turma rejeite a tese da parcialidade do então juiz Sergio
Moro – uma feliz conjunção que manteria as condenações de Lula, mas que,
por mais desejável, positiva para o país e juridicamente correta que
seja, parece altamente improvável no momento.
O
ex-presidente não se lançou candidato explicitamente – e talvez isso
nem seja necessário, especialista que é em dissimular campanha
antecipada –, mas a narrativa já está posta por seus apoiadores na
imprensa e na academia: 2022 seria um embate entre os autoritários, do
lado do presidente Jair Bolsonaro, e os democratas, agrupados em torno
do petismo, seja com Lula, seja com o “poste” que ele ungir. Um discurso
que só tem como prosperar apoiado na memória muito curta do eleitorado.
Afinal,
autênticos democratas não fraudam a democracia da forma como o petismo
fez ao organizar os dois maiores esquemas de corrupção da história do
país. O partido quis, por duas vezes, anular a separação de poderes por
meio da compra de apoio no Poder Legislativo, seja pela distribuição
pura e simples de dinheiro, no caso do mensalão, seja pela pilhagem das
estatais com o apoio de partidos aliados e empreiteiras, no esquema
desvendado pela Operação Lava Jato. No julgamento do mensalão no STF, o
então ministro Ayres Britto descreveu o esquema como “golpe nesse
conteúdo da democracia, que é o republicanismo”, pois tratava-se de
perpetuar “um projeto de poder (...). Não de governo, porque projeto de
governo é lícito, mas um projeto de poder que vai muito além de um
quadriênio quadruplicado, muito mais de continuidade administrativa”. O
petrolão foi apenas a continuação do mensalão por outros meios, como
ficou amplamente demonstrado pelas evidências levantadas pela Lava Jato,
e que nenhuma decisão judicial será capaz de apagar.
E,
se Bolsonaro é reconhecidamente hostil à imprensa, o petismo não fica
atrás. No poder, o PT tentou controlar a atividade jornalística ao
pressionar pela criação de um Conselho Federal de Jornalismo; depois de
alijado do Planalto, o partido lamentou, em resolução oficial que
tentava explicar as razões para o impeachment de Dilma Rousseff, não ter
colocado um cabresto na imprensa, no Ministério Público, na Polícia
Federal e nas Forças Armadas. Sem falar, evidentemente, dos vários
episódios de hostilização de jornalistas por parte de militantes,
incluindo o ataque à sede da Editora Abril às vésperas do segundo turno
da eleição de 2014, após a publicação, pela revista Veja, de uma
reportagem sobre o petrolão.
A
ânsia de controlar a imprensa livre, aliás, anda de mãos dadas com
outra característica marcante do PT e de Lula: seu apreço por ditaduras.
Se há muitos motivos para se criticar a defesa que Bolsonaro faz da
ditadura militar brasileira, o petismo perde qualquer aspiração a ter
envergadura moral neste campo ao seguir apoiando entusiasticamente as
ditaduras venezuelana e cubana – no mais recente episódio desta
camaradagem ideológica, o PT manifestou sua satisfação com a farsa
eleitoral realizada em dezembro do ano passado e que elegeu uma
Assembleia Nacional ilegítima, totalmente dominada pelo ditador Nicolás
Maduro.
A
repetida tentativa de fraudar a democracia brasileira – e a
glorificação dos protagonistas de tais esquemas, aclamados como
“guerreiros do povo brasileiro” –, o desejo de controlar a imprensa e a
amizade íntima com as ditaduras mais nefastas do continente
latino-americano não credenciam nenhum partido ou líder a se denominar
“democrata”. Que haja postulantes – pessoas ou legendas – ao comando da
nação com esse perfil, e que isso seja tratado com enorme naturalidade, é
apenas mais um sintoma da degradação moral por que passa a política
brasileira.
A
narrativa de que 2022 será um embate polarizado não entre petismo e
bolsonarismo, mas entre autoritarismo (representado por Bolsonaro) e
democracia (representada por Lula), não passa de uma fraude dos
defensores do ex-presidente. Os brasileiros realmente comprometidos com a
democracia, com as liberdades, com o combate à corrupção e que
porventura estejam também descontentes com o atual governo não abraçarão
o discurso de quem pode até estar juridicamente “limpo”, mas não tem
como apagar a verdade sobre o que é, o que fez e o que defende.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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