As aparências enganam, mas a linguagem visual também conta muito e
raramente houve um retrato tão exato dos extremos ideológicos como no
caso acima. Vilma Gryzinski:
Começando pelo principal: Pamela Karlan, professora de direito de
Stanford convocada para reforçar os argumentos pelo impeachment de
Donald Trump, teve a honradez de pedir desculpas por colocar o filho
caçula dele no meio.
É claro que foi um pedido arrevesado, do tipo que não resiste a tirar uma casquinha.
“Foi errado fazer isso. Gostaria, obviamente, que o presidente se
desculpasse por coisas que fez que são erradas, mas lamento ter dito
isso”, tuitou Pamela Karlan, um estereótipo tão perfeito da professora
universitária de esquerda que parece inventado.
Segundo sua própria autodefinição, a professora, que chegou até a ser
cogitada para a Suprema Corte na era Obama, é “mulher, judia,
bissexual, chata”.
Vive, evidentemente, no mundo de seus pares, onde odiar Donald Trump a
levou ao erro, assumido posteriormente, de achar que podia fazer
piadinha com o nome do filho dele com Melania, Barron.
O menino tem 13 anos, apesar de já passar do 1,80 metro da mãe. É o
filho de presidente que menos aparece em toda a história dos menores que
já moraram na Casa Branca, incluindo Amy Carter, Chelsea Clinton, as
gêmeas Bush e as irmãs Obama, Sasha e Malia, veneradas pela imprensa.
“A Constituição diz que não pode haver títulos de nobreza, portanto,
embora o presidente possa dar o nome de Barron a ser filho, não pode
torná–lo barão.”
Em inglês, a palavra é baron e a professora deve ter passado um tempão ensaiando o trocadilho.
Considerando, como acreditam os esquerdistas do fundo do coração, que
parte do princípio da superioridade moral, vale qualquer recurso.
Como as audiências duram o dia inteiro, deu tempo para que fosse lido
o tuíte de Melania Trump: “Um menor de idade merece privacidade e
deveria ficar fora da política. Pamela Karlan, você deveria ter vergonha
dessa conivência pública, raivosa e obviamente preconceituosa, usando
uma criança para isso.”
E deu tempo também para a professora pedir desculpas.
O que não muda em nada a temporada de descer o pau em Melania,
aproveitando uma “biografia não autorizada” escrita pela jornalista Kate
Bennett, da CNN.
O livro tem zero de informações exclusivas e as poucas fofocas
(Melania e o marido dormem não só em quartos, mas em andares separados
na ala residencial da Casa Branca) já eram conhecidas.
Curiosamente, Kate Bennett resiste ao estereótipo sobre Melania, que é
o exato oposto do sobre a professora de Stanford que tentou
ridicularizar o filho dela.
“LESBIAN CHIC”
E o estereótipo não podia ser mais padrão.
Uma ex-modelo fútil, obcecada por aparência, transformada por
intervenções estéticas para satisfazer o paradigma feminino do século
passado tal como desejado por Trump.
Comprada por um estilo bilionário de vida e joias espetaculares
usadas para refletir o status do marido, com passado algo suspeito na
fronteira entre modelo e “modelo”, fotos moderadamente “lesbian chic”,
estudos interrompidos, mas turbinados. Etc etc etc.
Mesmo sem acesso a Melania nem ao círculo íntimo dela, a jornalista
diz que Melania não é uma vítima de um marido brutal nem uma boneca de
bico calado cujo papel é desfilar roupas deslumbrantes, deslizando sobre
saltos Louboutin capazes de provocar desastres ortopédicos no resto da
humanidade.
“Ela é mesmo muito calada. Mas, nos bastidores, é uma das pessoas que mais verbalizam suas opiniões.”
“Eles se falam por telefone várias vezes ao dia. Acho que ela
funciona como os olhos e os ouvidos dele, fora da Fox News. Acho que ela
é muito mais direta com ele do que qualquer outra pessoa simplesmente
porque pode ser.”
Segundo Kate Bennett, Melania ficou arrasada quando uma assessora
iniciante escreveu um discurso de campanha plagiando trechos de um feito
por Michelle Obama – escrito, evidentemente, por um profissional
próprio.
Alguém imagina que Michelle ou Melania escrevam seus próprios discursos? Todos os jornalistas sabem que não.
Mas “fritar” Melania é um passatempo nacional. Iniciativas como um
programa contra bullying e outro contra a onda de vício em remédios com
opiáceos são regularmente ridicularizados.
O maior bafafá aconteceu quando ela usou uma parka – da Zara –, com
uma frase nas costas: “Não ligo a mínima”. Foi tratada como uma bruxa
que ironizava criancinhas – justamente por ter ido visitar alojamentos
onde ficam menores desacompanhados ou separados dos pais que cruzam
ilegalmente a fronteira.
Kate Bennett disse que Melania fez a viagem por iniciativa própria, no auge da crise, sem consultar o marido.
Seria a frase, erroneamente interpretada como um acinte as crianças,
um recado ao marido? Ou a assessores dele que não gostaram da visita?
Imaginem, que acinte aos estereótipos, se Melania tivesse ideias próprias.
Segundo a jornalista que escreveu o livro sobre Melania, ela tomou
gosto pelos aspectos históricos da decoração da Casa Branca – exatamente
como Jackie Kennedy, mas quem fizer a comparação será condenado ao
pelotão de fuzilamento.
Como Jackie – e também a quase presidente Hillary Clinton –, Melania
penou com as histórias de infidelidades do marido. Todas do passado, ao
contrário das duas primeiras mencionadas.
Nas diversas ocasiões em que rejeitou a mão estendida de Trump, estava realmente com alguma bronca.
Como primeira estrangeira a ser primeira-dama (fora a inglesa Louisa
Adams, no século 19), nascida e criada num país comunista – a Iugoslávia
de Tito –, com experiência na nada fácil carreira de modelo classe B na
Itália e em Nova York, a eslovena Melania Knauss talvez pudesse até
trocar uma ideias sobre estereótipos femininos e a cretina associação
“bonita e burra”.
Quem sabe até com a professora Pamela Karlan, encarnação do exato oposto?
Mas atenção: se a eminente acadêmica se metesse a besta de novo com o
filho dos outros, correria o risco de levar umas lanhadas com aquelas
unhas postiças que, tendo limpado em tantas áreas seus excessos visuais,
Melania Trump continua a usar.
Pode não ter essas coisas em Stanford, mas ninguém fica por mais de
vinte anos com um incorporador de Nova York, apresentador de reality
show, dono de cassino e promotor de lutas de boxe em Atlantic City,
antes de virar presidente num passe de mágica, sem aprender alguns
truques.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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