Cinicamente, o guerrilheiro de araque assume a paternidade da Constituição que o PT renegou, escreve Augusto Nunes. Mentir e deturpar fatos é com essa gentalha:
José Dirceu de Oliveira e Silva foi o camisa 10 e capitão da seleção
do Mensalão, campeã brasileira de ladroagem em 2005 e em 2012. Em 2017,
de novo convocado e dirigido por Lula, conquistou com o timaço do
Petrolão o título de campeão mundial da roubalheira. As proezas lhe
custaram três temporadas na cadeia, que escancararam a alma bipolar
desse mineiro de Passa Quatro. O atacante em liberdade é atrevido,
insolente, presunçoso, falastrão. O presidiário é um modelo de humildade
e disciplina, economiza palavras, jamais comenta as jogadas que
arquitetou.
A primeira versão de Dirceu disfarça com a discurseira de guerreiro
do povo brasileiro o facilitador de negociatas que deixariam ruborizado o
mais selvagem dos capitalistas ianques. A segunda versão exibe um
meliante que se adapta à vida no cárcere com a naturalidade dos
veteranos inquilinos de xilindrós. "Ele é de uma arrogância
insuportável", concordam os que conviveram com Dirceu nos dias de
glória. "É de uma simplicidade impressionante", divergem os que com ele
dividiram uma cela.
Desde que foi solto por seis ministros do Supremo, quem exerce o
direito de ir e vir — e falar o que lhe dá na telha — é o modelo número
1. Só essa versão de Dirceu produziria o falatório reproduzido no
parágrafo abaixo:
"O grave em nosso país é que a nossa elite, que deu apoio ou
compactuou com o golpe, a condenação e a prisão de Lula, fechou os olhos
para as ilegalidades de Moro, e Dallagnol agora se opõe à agenda de
extrema-direita de Bolsonaro, mas apoia suas 'reformas' liberais de
desmonte do Estado Nacional e das conquistas sociais e políticas da
Constituição de 1988".
Haja cinismo. Dirceu foi um dos fiadores dos acasalamentos tão
promíscuos quanto lucrativos entre Lula e empreiteiros gananciosos,
entre Lula e banqueiros espertalhões, entre o PT e a parte mais podre da
elite. Sergio Moro e Deltan Dallagnol se limitaram a conduzir a
dedetização das catacumbas em que se moviam os beneficiários do maior
esquema corrupto de todos os tempos. Mas nada no palavrório oportunista é
mais repulsivo que a menção a "conquistas sociais e políticas da
Constituição de 1988".
No dia em que a nova Carta foi aprovada, o deputado Lula subiu à
tribuna para avisar que a bancada do PT votaria contra uma Constituinte
concebida "para beneficiar a elite e prejudicar os trabalhadores". Os
parlamentares que liderava, ressalvou, assinariam o documento apenas
para registrar que, nos meses anteriores, haviam feito o diabo para
modificá-lo. Agora, Dirceu assume a paternidade do bebê que renegou.
É nisso que dá deixar em liberdade o criminoso condenado a mais de 30
anos de prisão. Dirceu é outra prova de que cadeia não cura bandidos
vocacionais.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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