Clonagem do celular da líder do governo no Congresso lembra caso do
Intercept, cujo dono, com passagem pelo submundo da pornografia nos EUA,
tornou-se herói da liberdade de imprensa aqui. José Nêumanne faz uma análise definitiva da biografia de Verdevaldo:
A líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann, divulgou
um vídeo em sua rede social revelando que teve o telefone celular
clonado por criminosos que mandaram mensagens falsas do aplicativo
Telegram, que usou na campanha eleitoral, mas desde então o dispensou.
No vídeo, Joice disse ter descoberto a possível invasão ao receber um
telefonema do jornalista Lauro Jardim, o que estranhou. “Tive a certeza
disso depois que esses farsantes procuraram, via Telegram, o jornalista
Lauro Jardim. De madrugada, eu cheguei em casa e havia uma ligação do
colunista do Globo no meu celular. Achei extremamente estranho. Uma
ligação de madrugada, que história é essa? Uma ligação num horário
desses! Respondi a mensagem e, então, ele me disse que estava
respondendo a mensagens minhas no Telegram. Só que eu não mandei nenhuma
mensagem em Telegram nenhum”, relatou a deputada.
Joice informou que acionou a polícia para investigar o acontecido e
resolveu informar o fato ao maior número possível de pessoas para evitar
novos mal-entendidos que lhe possam trazer problemas. Ela faz bem em
tornar pública sua denúncia, porque, infelizmente, esse tipo de crime
dificilmente é desvendado pela autoridade policial. Além disso, não há
no Brasil escopo legal para enquadrar esse tipo de delinquente, por
falta de leis em que seu crime seja tipificado. O autor destas linhas já
foi vítima de crime virtual e, mesmo tendo sido o autor original das
mensagens identificado pela polícia, não foi possível apená-lo, pois ele
pediu desculpas e o advogado advertiu para a dificuldade de qualquer
juiz puni-lo, de vez que ele se havia desculpado.
O episódio protagonizado pela deputada é muito mais complicado do que
o caso acima narrado. E, de fato, se assemelha mais ao escândalo
político provocado pelo conta-gotas venenoso do site The Intercept
Brasil, com o qual um militante político tenta prejudicar o combate à
corrupção no País. A primeira semelhança óbvia é o uso do aplicativo
russo Telegram, do qual não se sabe quem é o dono, quem o financia e
qual a sede, de cuja localização depende qualquer ação penal que se
queira instaurar. Os invasores da linha telefônica da líder do governo
no Congresso ainda não iniciaram seu bombardeio na guerra da destruição
de reputações e não se sabe que tipo de prejuízos pretendem causar-lhe.
Mesmo assim, é possível estabelecer pontos de contato. A começar que o
alvo é o mesmo, ou seja, os inimigos na guerra política declarada no
Brasil, de forma explícita, desde a divisão estabelecida na reeleição de
Lula em 2006. Mas, mesmo sendo Joice uma guerreira atrevida, não tem a
dimensão de Sergio Moro e Deltan Dallagnol.
Portanto, não dá para prever danos políticos semelhantes. Embora já
se possa antecipar que dificilmente a Polícia Federal (PF), incapaz de
evitar a facada em Bolsonaro e identificar quem pagou os advogados do
agressor, terá disposição e competência para identificar e prender os
bandidos. É possível antecipar que a disposição do presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, de defender o sigilo da cidadã,
também representante do povo (ou não é?), não será a mesma que teve ao
blindar o senador Flávio, primogênito do presidente da República, Jair
Bolsonaro, de investigações sobre cumplicidade em “rachuncho” na
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Até porque a líder do
governo no Congresso não terá poder para indicar o ministro que
substituirá o decano em novembro de 2020. Nem de dificultar inquéritos
de lavagem de dinheiro de políticos corruptos e traficantes de drogas e
armas.
Isso sem falar em companheiros de jornada do advogado reprovado em
dois concursos para juiz de primeira instância, cuja carreira foi feita à
sombra do Partido dos Trabalhadores (PT), legenda hoje incapaz de
entoar algo que não seja a cantiga da perua (“é uma só”) Lula Livre.
Flávio blindado pode ter sido bom pretexto para calar Fabrício Queiroz
e, assim, engavetar eventuais informações sobre milícias do Rio; os
ex-tesoureiros do PT denunciados pelo antigo chefão Antônio Palocci;
empreiteiros encrencados em delações premiadas na prejudicada Operação
Lava Jato; e, last but not least, chefões do Primeiro Comando da Capital
(PCC) e do Comando Vermelho (CV) para esvaziar presídios de segurança
máxima.
Convém desde já lembrar que, antes mesmo de atender aos rogos da
mulher, Roberta Rangel, e da mulher do amigão do peito, Guiomar Mendes,
como relata a revista Crusoé, do site O Antagonista, o ex-advogado-geral
da União na gestão de Lula manifestou publicamente seu interesse em
investigações do Coaf, do Ministério Público Federal (MPF) e da PF sobre
o advogado americano Glenn Greenwald, proprietário do acima citado The
Intercept Brasil. Detentor do conta-gotas para envenenar Moro, Dallagnol
e outros agentes da lei envolvidos na condenação de empreiteiros amigos
e chefões políticos do esquema de corrupção que quase levou a Petrobrás
à falência e ajudou a enfiar o Brasil na fossa profunda da crise e do
desemprego, este é personagem cujo sigilo bancário teria agora
importância crucial.
Quem tiver interesse em conhecer o verdadeiro estofo do caráter do
manipulador do conta-gotas mais temido do Brasil pode encontrar
informações relevantes lendo reportagem de Eric Wempel publicada em 27
de junho de 2013 no jornal The Washington Post, familiarmente chamado de
The Post até em título de filme de aventura do jornalismo
investigativo. Quem o fizer será informado de que “o escritório do
cartório do condado de Nova York mostra que Greenwald tem US$ 126.000 em
sentenças abertas e contra ele datando de 2000, incluindo US$ 21.000 do
Departamento de Impostos do Estado e da Secretaria da Fazenda. Também
fala de um penhor de US $ 85.000”.
Conforme a mesma fonte, “Greenwald disse ao New York Daily News que
está ‘preso’ às obrigações de Nova York”, mas está negociando “planos de
pagamento” (ou seja, acerto de contas) com o IRS, equivalente americano
da nossa Receita Federal. Numa postagem que Eric Wemple chamou de
“preventiva”, Greenwald garantiu ainda que o jornal The New York Times
também manifestou interesse por essa parte de seu passado.
Em 2013, Greenwald tinha 46 anos e tentou justificar esse passado
que, como naquele filme de Hollywood, “o condenaria” com uma tentativa
de generalizar a própria biografia: “Como a maioria das pessoas, vivi
uma vida adulta complicada e variada. Não conduzi minha vida aos 18 anos
com intenção de ter uma família com valores de senador americano.
Minha vida pessoal, como a de qualquer outra pessoa, é complexa e muitas
vezes bagunçada” (em inglês, messy, palavra que também pode ser
traduzida por confusa ou ainda obscura).
Há seis anos ele, agora com 52, disse estar negociando seus débitos
com o Fisco. É notório que o grande chefão da máfia de Chicago Al Capone
não foi condenado por seus crimes de morte, mas por sonegar Imposto de
Renda mal declarado. Se Greenwald está mesmo negociando, não dá pra
saber, porque a IRS não divulga. Então, é até possível confiar que
esteja mesmo.
A Wemple ele confessou que, quando jovem, se envolveu com gente
“complicada”. O repórter fuçou arquivos e descobriu que essa era, na
verdade, gente barra pesada, do submundo, do bas–fond, um negócio na
área da pornografia. Por exemplo, ele se tornou inimigo de Peter Haas,
dono de uma companhia de produtos pornográficos, e também de seu amigo
mais próximo, Jason Buchtel. À época da reportagem do Washingotn Post,
Greenwald chamou Peter Haas de little bitch, literalmente, cadelinha,
mas baixo calão para designar prostituto(a), ou ainda a good little
whore(uma boa prostitutinha).
Aí se tornou inimigo do governo americano na gestão de Barak Obama
por se ter juntado a Edward Snowden, ex-administrador de sistemas da CIA
e ex-contratado da Agência de Segurança Nacional (em inglês, National
Security Agency, a NSA) que tornou públicos detalhes de vários programas
que constituem o sistema de vigilância global da NSA americana, e
Julian Assange, dono do site WikiLeaks, que os divulgou. Atualizando:
Julian Assange ora responde por estupro na Suécia e por quebra de acordo
de liberdade sob fiança no Reino Unido, estando, por isso, preso em
Londres.
Desde 19 de agosto de 2013, quando seu companheiro David Miranda,
ex-suplente de Jean Wyllys e hoje deputado pelo PSOL, foi detido no
Aeroporto de Heathrow, na capital britânica, pela polícia, que o acusou
de ter violado o protocolo 7 do Ato Antiterrorismo, Greenwald foi
publicamente apoiado pelo governo brasileiro. À época, Dilma Rousseff
disse ser a favor da liberdade de imprensa e, por isso, condenou EUA e
Inglaterra. E, em seguida, abriu as portas para sua permanência legal no
País.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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