A pesquisa conduzida por Emmanuel e Bolotnyy conclui que a disparidade
salarial entre homens e mulheres pode ser inteiramente explicada pelas
diferentes escolhas de homens e mulheres. Artigo de Paul Boyce, via Gazeta do Povo:
Em um mundo idealmente perfeito, homens e mulheres devem receber o
mesmo pagamento. Se a produção de mulheres e homens é a mesma, merecem
um salário igual. A grande questão com essas premissas é que elas nunca
levam em conta as verdadeiras complexidades do mercado.
De acordo com uma análise do Centro de Pesquisas Pew, dos EUA, as
mulheres ganharam 85% em relação aos homens em 2018. Uma rápida olhada
nessa estatística pode causar indignação. O problema com as estatísticas
é que elas mostram apenas uma parte do quebra-cabeças e não a imagem
completa. Quando você junta tudo, descobre que está comparando alhos com
bugalhos.
Nem todas as mulheres fazem o mesmo trabalho nem trabalham as mesmas
horas. A realidade é que uma grande proporção de mulheres prefere um
melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Os advogados, por
exemplo, são notórios por suas longas jornadas de trabalho. Conseguir um
equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é difícil em tal profissão. É
por esse motivo que muitas mulheres acabam 'expulsas' da profissão e por
isso representam apenas uma em cada três advogados.
Escolhas, escolhas, escolhas
As escolhas que as mulheres fazem são, no todo, muito diferentes das
escolhas dos homens. Isso significa que os resultados também são muito
diferentes. As mulheres valorizam o tempo longe do trabalho e a
flexibilidade mais do que os homens. Na verdade, uma pesquisa de Claudia
Goldin, professora de Economia em Harvard e diretora da Agência
Nacional de Desenvolvimento da Pesquisa Econômica, confirma isso. De
acordo com ela, as mulheres ganham menos porque priorizam a
flexibilidade, tanto no horário de trabalho quanto na localização.
Mais pesquisas de Natalia Emmanuel e Valentin Bolotnyy, do
departamento de Economia de Harvard, concluíram que os homens são mais
propensos a fazer horas extras sem serem avisados com antecedência. A
pesquisa afirma que, quando as horas extras são agendadas com três meses
de antecedência, ambos os sexos têm a mesma probabilidade de
aceitá-las. No entanto, quando essas horas são oferecidas no último
minuto, é muito mais provável que somente os homens topem a tarefa.
Mulheres preferem flexibilidade
Segundo a pesquisa do Centro de Liderança Criativa, a principal coisa
que as mulheres querem do trabalho é a flexibilidade sobre onde, quando
e como trabalham. A questão, porém, é que o custo de acomodar horários
flexíveis continua alto.
Os costumes mudaram bastante no último século. No entanto, as taxas
de presença feminina nos EUA permaneceram estagnadas. Com 67%, eles
permanecem atrás da taxa de participação masculina de 77%. Uma pesquisa
de 2015 da Gallup confirma que as mulheres preferem o papel de dona de
casa. Cinquenta e seis por cento das mulheres com filhos menores de 18
anos preferem isso. Por outro lado, apenas 26% dos homens preferem o
papel de dona de casa.
Devido a essas preferências, as mulheres geralmente assumem esse
papel por opção. Inevitavelmente isso leva algumas mulheres a preferirem
empregos mais flexíveis.
Eliza Khuner ficou famosa por deixar seu emprego como analista de
dados no Facebook. A empresa recusou seu pedido por padrões de trabalho
flexíveis, o que levou à sua saída. Infelizmente, isso acontece com
frequência. As mulheres compreensivelmente querem trabalhar e cuidar de
seus filhos. No entanto, há uma dura realidade em jogo.
A realidade do horário flexível
A realidade do horário flexível é que ele não funciona para
determinados empregos. Ser um gerente de desenvolvimento de negócios,
por exemplo, exige interação significativa com outras empresas. Se um
empregado está trabalhando quando todos os outros foram para casa, eles
não são muito produtivos. Os empregadores estão compensando os
trabalhadores não apenas pelo seu tempo, mas também por períodos
específicos. Os empregadores podem oferecer pagamento extra por turnos
noturnos, por exemplo.
Se todos solicitarem turnos de trabalho flexíveis, talvez não haja
ninguém para gerenciar durante os horários de pico. Também pode causar
descontentamento entre aqueles que são deixados para lidar com uma carga
de trabalho maior. Por exemplo, pode haver demanda excessiva pela
manhã, mas não tanto quanto à tarde, quando o ‘funcionário flexível’
retorna.
Em suma, as mulheres estão exigindo flexibilidade dos empregadores,
mas eles estão relutantes em concedê-la. Há custos associados a isso, o
que afasta muitos potenciais empregadores. As leis de igualdade de
remuneração não ajudam nesse aspecto. Se os empregadores estiverem
preocupados com os custos associados, eles devem ter o direito de
oferecer um salário menor. Na verdade, uma pesquisa da My Family Care em
parceria com a Hydrogen Recruitment mostrou que 53% dos funcionários
escolheriam um horário flexível em vez de um aumento salarial de 5%.
Realidade
A disparidade salarial entre homens e mulheres é muitas vezes mal
interpretada, sugerindo que os homens são mais pagos pelo mesmo emprego.
Afirmar que "uma mulher trabalhando em tempo integral ganha 80,7
centavos por cada dólar que um homem trabalhando em tempo integral
ganha" cria um quadro em que os empregos masculinos e femininos são
comparáveis. Empregos como professor de jardim de infância são altamente
dominados por mulheres. Pedreiros são quase exclusivamente homens.
A dura realidade é que cargos como professor e outros empregos
dominados por mulheres não são tão valorizados quanto os dominados por
homens, como o de eletricista. A questão é: por que as mulheres são
atraídas para esses cargos, então? Em primeiro lugar, é por opção. As
mulheres não são obrigadas a se tornarem cabeleireiras e também sabem
que os salários não são ótimos.
Horários flexíveis não são compatíveis com trabalhos altamente remunerados
Existem muitos problemas com os horários flexíveis. Como saber se o
funcionário está sendo produtivo? Isso afetará o moral dos outros? Como
isso afeta a disponibilidade para o cliente? Algumas funções podem se
beneficiar de maior flexibilidade. No entanto, os cargos mais bem pagos
geralmente não. Quando se olha para as disparidades salariais entre
homens e mulheres, é inevitável que os empregados altamente remunerados
distorçam ligeiramente a imagem. Os diretores executivos, por exemplo,
recebem milhões. No entanto, apenas 25 mulheres estão em tais posições
entre as 500 maiores empresas listadas pela revista Fortune.
Então, o que impede as mulheres de ocupar cargos de liderança? Ex-CEO
da PepsiCo, Indra Nooyi foi uma das principais CEOs da Fortune 500. Ela
acredita que a principal causa é a dificuldade de equilibrar família,
carreira e casamento. No entanto, os fatos falam por si. De acordo com
dados do BLS (Agência de Estatísticas Trabalhistas dos EUA), mais de 26%
das mulheres trabalhadoras trabalham em meio-período por razões não
econômicas. Em comparação, pouco mais de 10% dos homens fazem o mesmo.
Ao exigir uma maior flexibilidade, seja você homem ou mulher, é
improvável que você se encaixe em cargos executivos ou gerenciais. Para
trabalhos que exigem de 70 a 80 horas por semana, é difícil encontrar
algum com horários flexíveis. Juntamente com o surgimento de famílias
monoparentais, é fácil ver por que cargos executivos e gerenciais não
são uma opção para muitas mulheres.
O fator primordial é a escolha
Com tudo isso dito, há, sem dúvida, ainda um nível de sexismo que
impede as mulheres de progredir. No entanto, a lacuna é explicada de
forma mais proeminente pelas escolhas que as mulheres fazem, seja este
trabalho em meio-período ou os tipos de trabalho que escolhem. Mesmo na
igualitária Suécia, a diferença salarial ainda é superior a 12%.
Isso é apenas um pouco mais que os 15% dos EUA. Portanto, a questão
está além de proporcionar maior licença maternidade ou mais benefícios
sociais. De fato, a pesquisa conduzida por Emmanuel e Bolotnyy conclui
que a disparidade salarial entre homens e mulheres pode ser inteiramente
explicada pelas diferentes escolhas de homens e mulheres.
Paul Boyce é graduado em Economia Empresarial e atualmente é editor do site http://boycewire.com.
©2019 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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