MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 1 de julho de 2019

A família transatlântica


Winston Churchill — que foi repetidamente citado no Encontro do Estoril — enfatizou inúmeras vezes a importância crucial de manter a unidade entre as democracias ocidentais. Artigo do professor João Carlos Espada, publicado pelo Observador:

Na semana passada, entre segunda e quarta-feira, decorreu no Hotel Palácio do Estoril a 27ª edição do Estoril Political Forum, promovido pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica. Mais de 700 pessoas (entre as quais cerca de 100 estrangeiros) participaram no encontro, que é por sinal o maior encontro anual de Estudos Políticos que tem lugar entre nós há quase 27 anos.

Não creio, no entanto, que o número de participantes e a antiguidade tenham sido os aspectos mais marcantes do Estoril Political Forum. Julgo que o aspecto mais decisivo terá sido a re-união em clima civilizado ( e com um estrito dress code) de académicos e analistas das mais diferentes inclinações políticas — que raramente dialogam directamente entre si hoje em dia.

Havia conservadores, democratas-cristãos, liberais, libertários, sociais-democratas e socialistas democráticos (mas não havia comunistas nem fascistas). Havia apoiantes e críticos de Donald Trump, apoiantes e críticos do Brexit, defensores e críticos do federalismo europeu. Houve um jantar britânico (Jantar Winston Churchill, com o Embaixador britânico e sua mulher), um almoço francês (almoço Raymond Aron), um jantar americano (Jantar George Washington, com Embaixador americano e sua mulher), um almoço italiano (Almoço Luigi Einaudi, em que o Embaixador italiano não pôde estar, mas fez questão de enviar excelentes vinhos italianos) e um jantar alemão (Jantar Konrad Adenauer, com Chargé d’Affaires da Embaixada da Alemanha, devido ao recente final de mandato do Embaixador).

O que é que terá levado esta variedade de participantes a aceitar encontrarem-se no mesmo espaço, nalguns casos durante três dias? Um factor decisivo foi certamente o Hotel Palácio do Estoril — o hotel dos Aliados anglo-americanos durante a II Guerra Mundial, onde Ian Fleming criou a personagem de James Bond. Permanece um lugar de clássica compostura e boas maneiras — num mundo crescentemente dominado pela ideologia vulgar dos chinelos, sapatos de ténis, ausência de gravata, e barba por fazer.

Um possível factor adicional poderá ter sido o tema central do Encontro: “A Aliança Transatlântica: 75 anos depois do D-Day; 70 anos depois da fundação da NATO; 30 anos depois de Tiananmen; 30 anos depois da queda do Muro de Berlim”. Por outras palavras, todos os participantes — com diferentes pontos de vista — subscreviam os valores da democracia liberal que define o Ocidente.

Como foi sublinhado aos longo do Encontro, estes são valores perenes, que não dependem de quem dirige temporariamente cada uma das democracias ocidentais. Seria muito desagradável, por exemplo, confundir o legítimo desconforto com o Presidente Trump com o afastamento da crucial aliança euro-americana. Seria também muito desagradável confundir o voto britânico pela saída da União Europeia com o afastamento estratégico entre a UE e o Reino Unido.

Winston Churchill — que foi repetidamente citado no Encontro do Estoril — enfatizou inúmeras vezes a importância crucial de manter a unidade entre as democracias ocidentais. No célebre discurso em que denunciou pela primeira vez a “Cortina de Ferro” soviética (proferido a 5 de Março de 1946, no Westminster College, em Fulton, Missouri, na presença do Presidente Truman), Churchill disse:
“Se as democracias ocidentais agirem em conjunto em estrita aderência aos princípios da Carta das Nações Unidas, a sua influência na promoção desses princípio será imensa e ninguém ousará molestá-las. Se, pelo contrário, as democracias se deixarem dividir e ou se fraquejarem no cumprimento do seu dever e se estes anos cruciais forem desaproveitados, então de facto uma catástrofe pode cair sobre nós.”
Falando cinquenta anos depois no mesmo Westminster College, Margaret Thatcher reafirmou a mesma preocupação com a unidade do Ocidente:
“O Ocidente não é apenas uma construção da guerra fria, destituída de significado no nosso mundo actual, mais livre e mais fluido. O Ocidente assenta em distintivos valores e virtudes, ideias e ideais, e sobretudo sobre uma comum experiência de liberdade ordeira. […] Para defender e sustentar estes valores, a relação política atlântica deve ser constantemente alimentada e renovada.”
Apesar da vincada variedade de preferências políticas dos inúmeros participantes do Estoril Political Forum, todos subscreveram estes apelos de Churchill e Thatcher à unidade do Ocidente.
BÇOG ORLANDO TAMBOSI

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