J. R. Guzzo, mais um bom texto sobre a sanha lulopetista, escória ideológica do Grotão:
Poucas coisas estão
criando tanta irritação hoje em dia no condomínio político e mental ao
qual se dá o nome de “esquerda brasileira” quanto a liberdade de
expressão. O ex–presidente Lula, o PT e seu entorno se preocupam cada
vez menos em disfarçar isso – na verdade, do jeito que vão as coisas,
daqui a pouco vão acabar incluindo a censura entre as promessas do
governo que pretendem iniciar no dia 1º de janeiro de 2019. (Será
preciso primeiro que o Supremo Tribunal Federal declare extinta para
sempre a punição dos crimes de corrupção quando cometidos por políticos
tamanho “extra-large” e que estejam na frente nas “pesquisas eleitorais”
— de preferência se já estiverem condenados em segunda instância a
cumprir doze anos de cadeia. Mas isso, pelo que indica o comportamento
atual dos sócios-proprietários do STF, dá a impressão de ser coisa que
já está resolvida.) O problema, cada vez mais, parece ser o seguinte:
como é que o “novo governo” vai calar a boca de quem quer dizer o que
pensa? Lula e o PT já reconheceram que o principal erro da sua primeira
estadia no poder (salvo, possivelmente, a ideia de transformar Dilma
Rousseff em presidente da República), foi não ter criado a censura no
Brasil. Não falam “censura”, claro. Falam em “controle social dos meios
de comunicação”. Tanto faz, podem falar o que quiserem – é exatamente a
mesma coisa. Agora, com a esperança de chegar lá outra vez, e com um
horror à liberdade que vai se colocando entre a histeria e o ódio,
parecem dispostos a não cometer o erro outra vez.
No momento, o que
está deixando a esquerda em estado avançado de cólera é a série “O
Mecanismo”, uma produção internacional do diretor José Padilha, que está
sendo exibida pela Netflix e cujo enredo se inspira no ambiente de
ladroagem sem limites criado no Brasil a partir, principalmente, da
chegada do PT ao governo do país. Não é um documentário. É uma obra de
ficção. Não tem obrigação nenhuma, portanto, de reproduzir os fatos
exatamente da maneira como aconteceram – da mesma forma como não se pode
cobrar de Machado de Assis, por exemplo, uma descrição precisa, com
estatísticas, atas, biografias autênticas e comprovação fotográfica dos
episódios de Dom Casmurro. Mas a história de Padilha é tão parecida com a
vida real, e tão parecida com a roubalheira comandada pelo complexo
Lula-PT, que o ex-presidente e sua turma saem muito mal na foto – saem
horríveis, na verdade. Tiveram então, mais uma vez, a reação automática
que têm diante de qualquer obra que não gostam: apelam para a repressão.
Lula prometeu “processar a Netflix”; disse que não vai “aceitar isso”.
Eis aí o mundo petista em seu estado mais puro. Lula não tem de
“aceitar” ou “não aceitar” coisa nenhuma. Não cabe a ele permitir ou
proibir nada, nem selecionar para a exibição pública apenas os filmes
que aprovar. Mas é exatamente assim que a esquerda pensa e age no
Brasil. Para filmes, músicas, exposições, páginas do Facebook, imprensa
em geral – eles estão convencidos de que só deve ser publicado aquilo
que autorizarem. Não podem impor essa censura agora. Mas dão a impressão
exata de que vão fazer isso assim que puderem. É o tal “controle social
da mídia”.
A ira diante de “O
Mecanismo” foi especialmente neurótica. Até Dilma Rousseff, em mais uma
convulsão no túmulo mental onde jaz desde que foi despejada da
presidência, imaginou que poderia contribuir com o esforço para calar o
filme – disse que sairá “pelo mundo”, imaginem só, avisando “os
governos” que eles devem banir a Netflix dos seus territórios. “Eles não
sabem com quem foram se meter”, disse Dilma. Não sabem mesmo; ninguém
sabe. Qual seria a primeira potência a ser advertida? Em que dia? A
quais governos do mundo ela vai dar as suas instruções? O de Sua
Majestade Britânica? O do presidente Putin? A China? Quem? Dilma não vai
falar nem com o governo companheiro da Venezuela, mas fazer o que?
Nessas horas o complexo petista tem uma atração irresistível pela
palhaçada. Não é apenas a reação totalitária de vetar, e proibir, e
punir — é, também, a ânsia de não perder nenhuma oportunidade de dizer
coisas particularmente idiotas. Quanto ao “processo” de Lula, é melhor
esperar. Os cemitérios estão lotados de “processos” que Lula jurou
abrir, contra o mundo e o resto do Sistema Solar, e dos quais nunca mais
se ouve falar. Ele sempre pode pedir que um ministro Toffoli, por
exemplo, baixe um “salve” proibindo o filme. Ou o ministro Lewandovski,
talvez? Quem sabe um Marco Aurélio, ou mesmo um Barroso? Não custaria
nada tentar. Mas talvez seja melhor deixar quieto; os ministros já estão
ocupados demais em arrumar sua vida, neste momento.
A série da Netflix,
no fundo, é um choque para Lula. Ele e a esquerda estão viciados, há
anos, em ser tratados da maneira mais servil que se possa imaginar pela
maioria da “classe artística” do Brasil. Foram quase quinze anos de
puxação de saco desesperada, contínua e remunerada com dinheiro do
Erário. Valeu tudo, aí. Filme, livro, música, festival, show, e até
documentário que fingia ser documentário – tudo, no fundo, apenas
propaganda. Mas agora, quando aparece um cineasta de talento real,
possivelmente o único diretor de cinema brasileiro verdadeiramente
respeitado no mercado internacional, onde só faz sucesso quem é bom e os
críticos dos “cadernos culturais” do Brasil não servem para nada – bem,
quando aparece alguém como Padilha, que ainda por cima é um sujeito
independente, a turma entra em estado de coma no aparelho cerebral. Como
assim? Um filme falando mal da nossa luta? O que “está por trás” disso?
É a direita, claro. É um plano da CIA, via Netflix, para não deixar que
Lula seja de novo presidente do país e salve os milhões de pobres
criados por Michel Temer neste ano e pouco em que o PT ficou fora do
governo.
Chama a atenção,
neste momento, a circunstância de que uma boa parte dos jornalistas e
dos meios de comunicação tenham se colocado, com maior ou menor clareza,
contra o filme de Padilha e a favor da censura petista. É o que fizeram
na prática e na vida real. Claro, claro; falam no direito de crítica e
nos méritos do jornalismo investigativo — e de fato se lançaram à busca e
apreensão de falhas em “O Mecanismo” com a aplicação de quem estivesse
apurando a verdade sobre o Terceiro Segredo de Nossa Senhora de Fátima.
Muito justo. Mas não houve nenhum esforço parecido para fazer jornalismo
investigativo sobre o filme “Lula, o Filho do Brasil”, uma produção da
Globofilmes e do diretor Luis Carlos Barreto, financiada por
empreiteiras de obras e fornecedores do governo, que se apresentava como
uma biografia do ex-presidente. A mídia noticiou, discretamente, que o
filme foi um fiasco de público. Mas nenhum órgão de imprensa se animou a
investigar nada sobre os fatos e detalhes narrados pelo cineasta. No
caso de “O Mecanismo” foi o contrário – o filme passou por um
interrogatório completo e acabou sendo severamente condenado por suas
“falhas históricas”. Mas é uma peça de ficção, como está dito e escrito
da maneira mais clara possível; não tem nenhum cabimento exigir da obra a
reprodução exata disso ou daquilo, porque o autor tem o direito de
fazer seu filme do jeito que achar melhor. Não se trata de “fake news”,
como a esquerda diz, porque a série jamais se comprometeu a dar nenhuma
“news”. Isso se chama liberdade de expressão. E é isso que provoca tanta
revolta. (Um jornalista, na ânsia de apontar os crimes da série, se
atrapalhou e a chamou de “obra fictícia”, em vez de obra de ficção. Um
outro, um pouco antes, tinha garantido que um recurso jurídico, desses
que vivem por aí, não tinha “efeito suspensório”. Vasos comunicantes,
talvez, nos circuitos mentais da imprensa contemporânea.)
“Essa discussão é
como se o sujeito entrasse na sua casa, estuprasse sua esposa, amarrasse
seu filho, roubasse um isqueiro”, comentou José Padilha a respeito das
críticas. “A esquerda quer discutir o isqueiro, porque, se ela olhar
para o macro, para o que aconteceu, não vai ter o que falar”. Não vai
mesmo. Fim de conversa. Nessas horas, quando não há mais nada para
conversar, aparecem as soluções de ditadura: processo, ameaça, censura.
Até hoje Lula e sua esquerda não descobriram nenhuma outra maneira de
lidar com pessoas livres.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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