Como dizia Vinicius de Moraes no genial “Soneto da Separação”, de repente, não mais que de repente a grande mídia começou a noticiar a pretensão do presidente Michel Temer se candidatar à reeleição, conforme há vários meses vínhamos informando aqui na “Tribuna da Internet”, com absoluta exclusividade. O motivo desta aventura eleitoral, como todos sabem, é a desesperada necessidade de Temer manter o foro privilegiado.
Mas a candidatura à reeleição não é a única iniciativa destinada a manter Temer a salvo da Justiça. Uma das alternativas é preservar o foro privilegiado através da criação do chamado regime semiparlamentarista, arquitetado pelo ministro Gilmar Mendes exclusivamente para atender as necessidades de Temer, nada tem a ver com o interesse nacional.
“MEIO GRÁVIDA” – Não existe nada igual no mundo, ninguém sabe ao certo o que significa o semiparlamentarismo, que seria mais ou menos como considerar uma mulher como “meio grávida”. A única coisa que se sabe, com certeza, é que se trata de uma saída para Temer não ser processado.
Além da semimudança do regime, o Planalto também se esforça para ampliar o foro privilegiado. Quer modificar a emenda de Álvaro Dias, aprovada por unanimidade no Senado e que restringe o foro privilegiado ao presidente e vice-presidente da República e aos presidentes de Câmara, Senado e Supremo. Uma das pretensões de Temer é estender o foro aos ex-presidentes da República – ele, Lula, Dilma, FHC e Sarney.
Mas esta alternativa só serve para Temer, deixando no sereno os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, pois a emenda Alvaro Dias acaba com todos os foros especiais que hoje beneficiam cerca de 50 mil autoridades. Portanto, o Planalto acha que o ideal seria simplesmente arquivar a proposta do senador paranaense. Mas isso não acontecerá.
E O SUPREMO? – Os planos de Temer e do Planalto, que têm apoio entusiástico da bancada da corrupção, amplamente majoritária na Câmara, esbarram em dois obstáculos – a pressão da opinião pública pelo fim da impunidade e a firme disposição do Supremo de não validar o foro privilegiado para crimes cometidos antes da ocupação do cargo ou mandato atual.
Isso significa que Temer terá de atirar Padilha e Moreira ao mar, porque o caso deles é perdido, seja pela possível aprovação da emenda Alvaro Dias, seja pela restrição a ser adotada pelo Supremo ao foro privilegiado em crimes ocorridos anteriormente ao cargo ou mandato. Com diziam os dois amigos comunistas Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, se ficar o bicho pega, se correr o bicho come…
REELEIÇÃO – Quanto à candidatura de Temer, na Praça dos Três Poderes não se fala em outra coisa. Para manter o foro privilegiado e se livrar da implacável primeira instância da Justiça Federal, Temer está mesmo disposto a ser candidato à reeleição. Não é por mera coincidência que seu personal marqueteiro Elisinho Mouco está instalado com a equipe há meses no quarto andar do Planalto, regiamente pagos com recursos públicos.
Quando chegar a hora, Temer vai parodiar o velho bordão de D. Pedro I, ao se insurgir contra Portugal: “Atendendo a insistentes pedidos para concluir a recuperação do país, digam ao povo que fico” – será a desculpa de Temer.
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