Cerca de 80% das cidades mineiras analisadas no âmbito do Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa) estão em alerta ou risco de surto de dengue, zika e chikungunya.
Os dados revelam que a realidade do balanço de março deste ano é bem pior do que a do mês de outubro de 2016, quando 56% do total de municípios investigados apresentaram índices elevados de criadouros do vetor, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES).
O subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde, Rodrigo Said, explica que a piora registrada entre as duas pesquisas é grande devido à diferença das condições climáticas e do regime de chuvas apresentados em cada época.
“Consideramos esse resultado preocupante por mostrar que uma parcela grande dos municípios maiores do Estado está com índices acima dos recomendados pelo Ministério da Saúde. Indica a possibilidade de surto em muitos locais”, afirma.
Preocupação
Ao todo, 149 cidades mineiras, com pelo menos 8 mil moradias cada, entregaram o LIRAa ao governo do Estado. Dessas, 121 apresentaram números preocupantes: 89 em estado de alerta e 32 sob risco de surto.
Apenas 28 cidades, o equivalente a 18,8%, estão em situação considerada confortável em se tratando de quantidade de criadouros do mosquito.
A cidade com o pior quadro dentre as 149 analisadas é a Francisco Sá, no Norte de Minas. Lá, o índice de infestação larvária alcançado foi de 11,4. Isso quer dizer que a cada 100 imóveis visitados pela equipe da vigilância, 11 apresentaram larvas do mosquito. A partir do índice 4, o risco de surto já passa a ser considerado.
De acordo com a Vigilância de Saúde do município, Francisco Sá tinha passado por um surto de dengue em 2015, com quase 2 mil casos notificados. Neste ano, até o último boletim da SES, divulgado em 26 de abril, foram 29.
“Nosso LIRAa é historicamente alto em Governador Valadares, por causa de água parada nos ralos. Mas agora a situação ficou pior depois do acidente da barragem de Fundão, que atingiu a bacia do Rio Doce. As pessoas guardam água em bacias e tonéis, além da caixa d’água”
José Batista dos Anjos
Gerente de Referência Técnica em dengue

A maior parte dos focos têm ligação com armazenamento inadequado de água para consumo, na cidade onde a seca é problema frequente.
Mesma situação de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Segundo o gerente da Referência Técnica em Dengue da Secretaria de Saúde da cidade, José Batista dos Anjos, após a poluição do rio com o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, as pessoas também passaram a armazenar mais água, aumentando os índices de infestação.
Atualmente, a cidade vive surto de chikungunya, com 6.444 casos prováveis registrados desde janeiro deste ano.
Municípios de menor porte poderão ter dificuldade para estudar focos do mosquito 
A obrigatoriedade de cidades com mais de 2 mil moradias realizarem o Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), válida a partir deste ano, pode ser um problema para parte dos municípios mineiros. Atualmente, apenas aqueles com mais de 8 mil residências realizam o levantamento por adesão voluntária. A ampliação pode significar mais custos.
Segundo o subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde da Secretaria de Saúde de Minas Gerais, Rodrigo Said, o Estado tem cerca de 180 municípios com mais de 8 mil imóveis. Ao ampliar para cidades menores, aproximadamente 500 terão que apresentar o acompanhamento.
“Conseguimos detectar 90% dos criadouros de Aedes aegypti no Estado dentro dos domicílios”
Rodrigo Said
Subsecretário de VIgilância e Proteção à Saúde de Minas

Para tornar a pesquisa realidade nas cidades estreantes no levantamento, o governo tem capacitado agentes pelo interior de Minas. “A partir de outubro teremos os LIRAas dessas 500 cidades disponíveis”, garante.
Para assessora de saúde da Associação Mineira de Municípios (AMM), Juliana Marinho Diniz, o processo de levantamento dos dados poderá ser mais difícil para as cidades que já estiverem no enfrentamento de surtos.
“O número de agentes é limitado por causa do baixo orçamento. Quando os municípios estão passando por algum surto de qualquer doença, eles ficam focados nesse enfrentamento. Mas terão que tirar esses profissionais da linha de frente ou contratar outros, o que significaria gastos para fazer a pesquisa”, explica.

Em casa 
A maior parte das pesquisas já realizadas tem mostrado que os focos do mosquito se concentram dentro das residências.
Segundo Said, após os problemas de escassez hídrica, a principal questão passou a ser o acondicionamento incorreto de água para consumo. Mas, o acúmulo de lixo e entulho nos quintais e os pratinhos de plantas também entram na lista.
“A realização de LIRAas em cidades menores é importante para se pensar em políticas públicas para combater o vetor”
Juliana Marinho
Assessora de Saúde da AMM


“Esses são os principais focos que temos que trabalhar. A consciência da população ainda é grande aliada no combate ao Aedes”.
Além Disso
As cidades com maior número de residências com foco de Aedes aegypti não necessariamente são as que lideram em casos notificados das doenças transmitidas pelo mosquito. Os dados indicam a possibilidade de ocorrer um surto e não a existência de um.
É o caso, por exemplo, do município Francisco Sá, no Norte de Minas, que teve Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa) de 11,4, mas teve apenas 29 casos notificados até o momento em 2017. Já Teófilo Otoni, que teve o último LIRAa em apenas 1,8 (que indica alerta e não risco de surto) já apresentou 1.062 casos prováveis de dengue.
Mas, como lembra o subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde de Minas Gerais, Rodrigo Said, onde existem muitos focos, os riscos de contaminação da população aumentam. 
Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde, até o dia 26 de abril, o Estado registrou 21.280 casos prováveis de dengue. Os números incluem uma morte e dezoito em investigação. 
Focos Aedes aegypti