José Nêumanne, sem papas na língua, em seu blog Direto ao Assunto ("Basta de lenocínio político"):
Ultimamente, tenho acordado muito cedo para comentar política ao vivo noEstadão no ar, na Rádio Estadão (FM
92,9). Vindo de casa para o jornal, aproveito sempre a luz mais tênue
do Sol e o prenúncio ainda não totalmente confirmado do calor
senegalesco deste falso outono para pensar no que vou dizer. O relatório
de Jovair Arantes na comissão do impeachment ontem me lembrou que a
interrupção do mandato de um presidente eleito pelo povo é um processo
lento e cuidadoso, uma espécie de corrida de obstáculos, no qual as
barreiras têm escala ascendente de dificuldade e superação. Ontem, foi
superada a mais baixa de todas. Mas os atores não dizem que as estreias
são os espetáculos mais difíceis de enfrentar? Então, as previsões não
são tão positivas para a consecução do projeto de não largar o osso da
insana presidente e este não parece mais tão fácil, como ela e seus
áulicos percevejos imaginavam. No entanto, será útil lembrar a sabedoria
tosca dos técnicos de futebol que, quando ganham um jogo importante,
mas não a final do campeonato, recorrem ao um dos chavões mais repetidos
do noticiário esportivo: “ainda não ganhamos nada”. Batata! No futuro,
quando se contar a história destes idos de abril, quem sabe maio, será
justo atribuir um lugar de relevo para o relator, por ter trazido ao
debate irracional de violentas torcidas organizadas de Fla-Flu dos
últimos dias um inesperado toque de racionalidade no meio do charivari
caótico generalizado. Primeiramente, ele lembrou que aquela era a
primeira rodada do primeiro turno do torneio, avisando que tudo será, no
fim, decidido pelo Senado. Portanto, calma, Bete, devagar, que a santa é
de barro duro e, ao que parece nem muito santa é, coitados de nós! E
mais: ao observar rigorosamente o figurino imposto Supremo Tribunal
Federal (STF), Arantes joga na lata de lixo da História a defesa, que só
não é a mais estapafúrdia já empreendida na história deste País porque,
como lembrou ele, Collor já tinha apelado para o mesmo truque de
espernear antes de cair. Lembrou ainda que esta falsidade já tinha sido
demolida pelo relator em 1992, Nelson Jobim, que hoje, depois de ter
sido presidente do STF e ministro nos governos Fernando Henrique, Lula e
Dilma (e de mais não foi só porque não houve), tornou-se uma espécie de
jurisconsulto de orelha do Jararaca & Ratão, às voltas com a lei.
Tudo nos conformes, como dantes no quartel de Abrantes e no Supremo
Parcial Federal, cada dia mais contestado na República.
Há, é claro, diferenças entre o que ocorreu com o Carcará
Sanguinolento do Mundaú e o que está rolando agora. Não há mais a
unanimidade, como havia antes. O Supremo não é mais tão neutro como já
foi. Nem tão recatado. Recato, aliás, é conceito que não se emprega mais
em nenhum dos três Poderes. Com ajuda de Lula, homiziado no hotel ao
lado para fugir da justa, a Vácua Insana Dilmotril transforma o brechó
de quinta, que já instalara no Palácio do Planalto, numa “casa de
recurso”, expressão usada antigamente em Campina Grande para definir
valhacoutos de casais clandestinos antes da abertura dos motéis, no
tempo em que o adultério era de mais difícil consumação. Esta nova forma
de lenocínio político conta com a aprovação tácita do Legislativo e do
Judiciário, ambos já comprometidos com a divisão, movidos pelo vil metal
ou pela febre ideológica. O Conúbio Nacional é conduzido por dois
suspeitos de alta traição à Pátria por corrupção bilionária. O STF,
suspeito de praticar surpreendente parcialidade surpreendente e
injustificável, se deixa inocular pela bactéria da celebridade
instantânea, que corrói sua legitimidade e, em consequência, compromete
sua autoridade.
A nova consciência popular de seus direitos e deveres de cidadania,
contudo, provocaram mecanismos inéditos para que se manifeste a vontade
da plebe. Nosso Estadão inventou
um: o placar do impeachment. Nele, diariamente, cada brasileiro sabe
qual é a posição de seu deputado a respeito do único assunto que
interessa na Nação, que berra na Maldita de Curitiba e no Ponto Cem
Réis, em João Pessoa: o método indolor e legal de expelir a “chefa” de
governo mais incompetente, atrabiliária e desbocada da história da
República. Com as páginas do jornalão na mão, o leitor e eleitor poderá
cobrar a infidelidade de seus representantes que não o representam. Ou
incentivar os votos favoráveis à retirada do desgoverno infame da ponte
de comando do país que naufraga, pois, afinal, é difícil resistir às
tentações do bolso vazio numa crise do tamanho desta, que os bandidos da
organização criminosa mais cínica da História produziram.
Este pensamento é meu presente do dia para quem se dispõe a vivê-lo de forma proativa e construtiva. Agarre-se ele.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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