Preso há 175 dias por suspeitas de embolsar milhões de reais em propina
no esquema do petrolão, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu decidiu
falar. Segundo o criminalista Odel Antun, defensor de Dirceu, o petista
vai apresentar ao juiz Sergio Moro na sexta-feira sua versão sobre as
acusações de que recebeu dinheiro sujo de empreiteiros da Lava Jato e de
que lavou os recursos em viagens de jatinho, imóveis e consultorias
fictícias. Entre os pontos que o próprio Dirceu deve mencionar em seu
depoimento estão a tese de que o lobista Milton Pascowitch teria
utilizado indevidamente seu nome para comprar um jatinho do também
lobista Julio Camargo e a argumentação de que a escolha do ex-diretor de
Serviços da Petrobras Renato Duque não passou por suas mãos. "O Zé está
pronto para responder tudo", disse Antun. Segundo o Ministério Público,
as suspeitas são de que Dirceu, réu pelos crimes de corrupção, crimes
de lavagem de dinheiro e organização criminosa, atuava em um dos núcleos
do esquema de corrupção na Petrobras para arrecadar propina de
empreiteiras por meio de contratos simulados de consultoria com a
empresa dele, a JD Consultoria e Assessoria. Os indícios nas
investigações apontam que o petista recebeu 11,8 milhões de reais em
dinheiro sujo, tendo lavado parte dos recursos não só em serviços
fictícios de consultoria, mas também na compra e reforma de imóveis para
familiares e na simulação de aluguéis de jatinhos. De acordo com as
investigações, o esquema do ex-chefe da Casa Civil na Lava Jato
movimentou cerca de 60 milhões de reais em corrupção e 64 milhões de
reais em lavagem de dinheiro. Ao todo, o MP calcula que houve 129 atos
de corrupção ativa e 31 atos de corrupção passiva entre 2004 e 2011,
além de 684 atos de lavagem de dinheiro entre 2005 e 2014. O nome de
José Dirceu foi frequentemente citado por delatores da Lava Jato como o
destinatário de propina do esquema criminoso. O lobista Julio Camargo,
delator da Operação Lava Jato, voltou a afirmar na sexta-feira que
repassou 4 milhões de reais em propina ao ex-ministro da Casa Civil. O
dinheiro sujo foi recolhido, segundo Camargo, a mando do ex-gerente de
Serviços da Petrobras Renato Duque e pago de forma parcelada: foram 2
milhões de reais entre abril de 2008 e abril de 2009, 1 milhão de reais
entre julho e agosto de 2010 e o restante foi pago a partir de uma conta
de afretamento de jatinhos que o petista utilizava. A avaliação dos
procuradores que atuam na Operação Lava Jato é a de que Dirceu é um
criminoso reincidente, porque praticou crimes depois de o processo do
mensalão já ter sido concluído. É possível que a Justiça imponha ao
petista também o agravante de maus antecedentes, já que, segundo o
procurador da República Roberson Pozzobon, ele praticou crimes de
corrupção e lavagem de dinheiro pelo menos desde 2006, quando passou a
receber dinheiro sujo de empreiteiras. A reincidência e os maus
antecedentes são fatores considerados pela Justiça para aumentar a pena
do suspeito em caso de condenação. (Veja)
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