Em Rio Branco, profissionais contam como lidam com a morte.
'Maquiar e arrumar mortos ajuda a amenizar a dor da família', diz Fátima.
Fátima Santos trabalha há 9 anos em uma funerária (Foto: Iryá Rodrigues/G1)
É com naturalidade que a funcionária de uma funerária de Rio Branco,
Fátima Santos, de 47 anos, segue há 9 anos a carreira em que a morte é a
matéria-prima. Ela conta que trabalha desde a parte administrativa da
empresa até o contato com os corpos que chegam diariamente no local e o
trato com as famílias."Faço de tudo. Se for preciso eu costuro corpos, maquio, dou banho, visto uma roupa, removo corpos, faço sepultamento, ou seja, faço de tudo. Trabalho diretamente com o corpo e com a família. Eu me acostumei e até gosto de trabalhar com isso. Nunca me assustei com os mortos. Na verdade, eu me assusto mesmo é com os vivos", diz Fátima.
"Claro que ter que arrumar um familiar, amigo ou criança é mais doloroso, mas esse é o meu trabalho, e eu tenho que fazer. A gente se emociona sim, algumas vezes eu chorei junto com a família. Não é porque trabalho com a morte que tenho que ser seca como ela", diz.
Ela conta que maquiar e arrumar os mortos acaba, de certa forma, contribuindo com um conforto para a família. "A pessoa chega aqui muito triste com a morte do parente e é ainda pior quando os vêm pálidos e desfigurados. Então, a gente tenta deixar aquela pessoa o mais natural possível, com uma maquiagem leve e simples. É uma forma de poder amenizar um pouco da dor", conta.
No Dia dos Finados, celebrado nesta segunda-feira (2), Fátima diz que para conseguir conviver de perto com a morte diariamente precisou se apegar à bíblia. Segundo ela, o trabalho a fez enxergar a morte de forma natural e acreditar ainda mais na palavra de Deus.
Coveiro há mais de 5 anos, Ismayle diz que mais difícil é sepultar crianças (Foto: João Paulo Maia/GE)
O coveiro Ismayle Araújo, de 30 anos, também tira o sustento
trabalhando diretamente com os mortos há mais de cinco anos. "No começo
foi bem difícil, mas com o tempo, o trabalho se tornou comum. O ser
humano é fácil de se adaptar com diversas coisas na vida. Só é meio
complicado, quando alguém que você conhece morre, aí a gente fica
impactado", afirma.Araújo diz que sepultar crianças também é o que mais dói. "É a coisa mais difícil. O meu primeiro sepultamento foi uma criança que morreu de acidente, a gente vê ali mãe e o pai sofrendo. É muito difícil", conta.
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