MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Sepultar criança é a parte mais ‘difícil’ para quem convive com morte no AC


Em Rio Branco, profissionais contam como lidam com a morte.
'Maquiar e arrumar mortos ajuda a amenizar a dor da família', diz Fátima.

Iryá Rodrigues Do G1 AC
Fátima Santos trabalha há 9 anos em uma funerária (Foto: Iryá Rodrigues/G1)Fátima Santos trabalha há 9 anos em uma funerária (Foto: Iryá Rodrigues/G1)
É com naturalidade que a funcionária de uma funerária de Rio Branco, Fátima Santos, de 47 anos, segue há 9 anos a carreira em que a morte é a matéria-prima. Ela conta que trabalha desde a parte administrativa da empresa até o contato com os corpos que chegam diariamente no local e o trato com as famílias.
"Faço de tudo. Se for preciso eu costuro corpos, maquio, dou banho, visto uma roupa, removo corpos, faço sepultamento, ou seja, faço de tudo. Trabalho diretamente com o corpo e com a família. Eu me acostumei e até gosto de trabalhar com isso. Nunca me assustei com os mortos. Na verdade, eu me assusto mesmo é com os vivos", diz Fátima.

Tudo isso ela tira de letra, mas quando trata-se de uma criança a coisa muda de figura. Fátima conta que o trabalho fica ainda mais minucioso e exige mais delicadeza, por ser "frágil". Ela diz que procura não se envolver tanto emocionalmente com os casos.
"Claro que ter que arrumar um familiar, amigo ou criança é mais doloroso, mas esse é o meu trabalho, e eu tenho que fazer. A gente se emociona sim, algumas vezes eu chorei junto com a família. Não é porque trabalho com a morte que tenho que ser seca como ela", diz.
Ela conta que maquiar e arrumar os mortos acaba, de certa forma, contribuindo com um conforto para a família. "A pessoa chega aqui muito triste com a morte do parente e é ainda pior quando os vêm pálidos e desfigurados. Então, a gente tenta deixar aquela pessoa o mais natural possível, com uma maquiagem leve e simples. É uma forma de poder amenizar um pouco da dor", conta.
No Dia dos Finados, celebrado nesta segunda-feira (2), Fátima diz que para conseguir conviver de perto com a morte diariamente precisou se apegar à bíblia. Segundo ela, o trabalho a fez enxergar a morte de forma natural e acreditar ainda mais na palavra de Deus.
Coveiro há mais de 5 anos, Ismayle diz que mais difícil é sepultar crianças (Foto: João Paulo/GE)Coveiro há mais de 5 anos, Ismayle diz que mais difícil é sepultar crianças (Foto: João Paulo Maia/GE)
O coveiro Ismayle Araújo, de 30 anos, também tira o sustento trabalhando diretamente com os mortos há mais de cinco anos. "No começo foi bem difícil, mas com o tempo, o trabalho se tornou comum. O ser humano é fácil de se adaptar com diversas coisas na vida. Só é meio complicado, quando alguém que você conhece morre, aí a gente fica impactado", afirma.
Araújo diz que sepultar crianças também é o que mais dói. "É a coisa mais difícil. O meu primeiro sepultamento foi uma criança que morreu de acidente, a gente vê ali mãe e o pai sofrendo. É muito difícil", conta.

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