Cuba tem 25 anos para pagar U$ 682 milhões do Porto de Mariel a juros mais baixos que o banco cobra no Brasil.
(Folha de São Paulo) O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) ofereceu a
Cuba condições vantajosas no financiamento do porto de Mariel, a 40
quilômetros de Havana, incluindo um prazo de 25 anos para pagar. Dados
do polêmico empréstimo foram tornados públicas pela primeira vez
nesta terça (2), junto com várias operações feitas pelo banco no
exterior desde 2007.
O BNDES sofre forte pressão do TCU (Tribunal de Contas da União) e do
Congresso para dar mais transparência aos empréstimos que concede com
dinheiro público. O empréstimo cubano teve o prazo mais longo entre as
obras financiadas fora do país --a maioria perto de 15 anos. As taxas de
juros dos cinco empréstimos disponíveis no site do BNDES,
que totalizaram US$ 682 milhões (R$ 2,1 bilhões), variam entre 4,44% e
6,91% ao ano. A obra é realizada pela construtora brasileira Odebrecht.
O financiamento do porto --trunfo do regime comunista dos irmãos Raúl e
Fidel Castro-- foi objeto de controvérsia na eleição de 2014. A oposição
acusou o governo do PT de favorecer Cuba. Para especialistas ouvidos pela Folha, as condições do empréstimo
são "normais" para o tamanho e a complexidade da obra, mas se tornam
"atípicas" para o perfil de risco da ilha, que não acessa o mercado de
capitais.
Cuba é um dos países com pior nota de risco de crédito do mundo, com
Venezuela e Paquistão. Cálculo do professor Aswath Damodaran, da
Universidade de Nova York, diz que o país deveria pagar juros de 11% a
12% ao ano. Uma das poucas comparações possíveis é com financiamento do Porto do
Sudeste, projeto de Eike Batista vendido para investidores estrangeiros.
Neste caso, o BNDES concedeu, direta e indiretamente, cerca de R$ 1,74
bilhão, com juros mais altos e prazos menores que o porto cubano --entre
7,9% e 8,9%, com 13 a 14 anos de prazo.
O BNDES diz que Mariel é uma obra de "valor elevado e de longo período
de construção" e que o "repagamento da dívida é compatível com a vida
econômica do projeto".
Os projetos tocados pela Odebrecht no exterior foram os mais
contemplados pelo BNDES. Os empréstimos são concedidos para os países,
mas condicionados a utilização de serviços brasileiros. Segundo levantamento feito pelo professor do Insper Sérgio Lazzarini e
pelo assistente de pesquisa Pedro Makhoul, as obras da Odebrecht
responderam por 69% do total de obras financiadas pelo banco no exterior
desde 2007. Por meio de nota, a Odebrecht disse que "está presente em 21 países,
muito acima das concorrentes". E que os recursos do BNDES responderam
por menos de 10% do faturamento anual da empresa.
Para Claudio Frischtak, sócio da Inter.B, faz sentido o Brasil apoiar
empreiteiras na exportação de serviços para países em desenvolvimento.
"Nesses países não existe um mercado de capitais desenvolvidos. As
empresa que disputam os contratos são apoiadas pelos governos", disse.
Ele ressalta, porém, que os contratos precisam refletir os riscos de
cada país: "Moçambique é um país com boa governança, faz todo o sentido.
Cuba eu ainda não estou convencido".
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