Empreiteiras do Petrolão ficaram com 99,4% dos empréstimos no exterior.
(O Globo) O BNDES tornou públicos nesta terça-feira, na internet, dados dos
contratos de exportação de serviços de engenharia entre 2007 e 2015, no
total de US$ 11,9 bilhões, o que inclui financiamentos a obras e
serviços em Cuba e Angola. Levantamento feito pelo GLOBO a partir das
informações mostra que cinco empreiteiras concentram 99,4% do valor
contratado no período. O grupo Odebrecht foi o mais beneficiado, com US$
8,4 bilhões ou 70% do total.
No financiamento de obras públicas no exterior, o BNDES concede o
crédito a um país, que repassa os recursos à empresa que executará as
obras. A escolha da empreiteira fica a cargo do governo daquele país.
O
anúncio sobre a divulgação dos dados foi feito pelo presidente do
banco, Luciano Coutinho, e pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, Armando Monteiro. Eles informaram que a instituição
colocou no site dados sobre 1.753 contratos, no valor de R$ 320 bilhões,
em operações domésticas referentes a contratos a partir de 2012.
Uma
das críticas feitas ao banco era justamente o bloqueio do acesso à
informação às condições de financiamento dos contratos no exterior e em
operações domésticas. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal
decidiu que o banco terá de repassar dados sobre operações com o JBS,
por exigência do Tribunal de Contas da União (TCU).
As
cinco empreiteiras que concentram o crédito à exportação são Odebrecht
(US$ 8,2 bilhões, incluindo sua subsidiária em Cuba, a Companhia de
Obras e Infraestrutura), Andrade Gutierrez (US$ 2,6 bilhões), Queiroz
Galvão (US$ 388 milhões), OAS (US$ 354,2 milhões) e Camargo Corrêa (US$
258,8 milhões).
Uma das operações que teve detalhes revelados foi a contratação de
serviços da Companhia de Obras e Infraestrutura para obras de ampliação
do Porto Mariel, em Cuba. A operação foi feita em cinco etapas, com
contratos entre 2009 e 2013, totalizando US$ 682 milhões. Em cada uma
das etapas, foi fixada taxa de juros em dólar, que variou de 4,44% a
6,91% ao ano.
SEM COMPARAÇÃO
Economistas afirmam que não é
possível comparar as taxas de financiamento a exportações com as
praticadas no Brasil, porque os empréstimos internacionais são em dólar
ou euro. Além disso, leva-se em conta o risco do país onde a obra será
executada, que é diferente do risco Brasil. — O nível de competição no exterior é muito elevado. O problema do
banco são os critérios para escolher empresas que recebem crédito no
Brasil. Deveria haver isonomia de condições aqui — afirmou o economista
da USP Fabio Kanzuc.
Indagado sobre a concentração da carteira de exportações de serviços,
o BNDES disse que "são apenas quatro ou cinco players nesse segmento" e
que a Odebrecht "é, de longe, a mais diversificada e a que atua há mais
tempo no mercado internacional". Frisou ainda que o banco não interfere
na escolha do exportador pelo governo ou empresa pública que contrata a
construtora para executar o projeto.
A Odebrecht disse, em nota, que é a maior empresa do setor de
construção na América Latina e a construtora brasileira há mais tempo
atuando no exterior (desde 1979) e presente em maior número de países
(21), "muito à frente das demais". Ressaltou que "considerando o período
mencionado no portal de transparência do BNDES (2007-2015), os recursos
da linha do banco para financiamento da exportação de bens e serviços
representaram menos de 10% do faturamento anual da empresa". A
empreiteira disse que "é totalmente favorável à transparência em
qualquer tipo de contrato".
A Andrade Gutierrez disse que os financiamentos junto ao BNDES
"obedecem à legislação brasileira e seguem avaliação técnica rigorosa do
banco". Informou que "os valores são compatíveis com o volume de
projetos em contratos de exportação realizados pela companhia, que opera
em mais de 40 países e tem atuação internacional há mais de 30 anos". E
considerou "benéfico para a sociedade que se dê transparência aos
contratos". A Queiroz Galvão lembrou que está presente em 20 países e
que "participou de algumas obras em países que receberam financiamento
do governo brasileiro". A OAS informou que seus contratos "obedecem à
legislação vigente e às regras definidas pelo BNDES".
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