Barbearia com objetos antigos vira ponto de encontro de violeiros

Local possui vários materiais que lembram principalmente a vida no campo.
Amantes da música caipira em Londrina, no norte do PR, se reúnem por lá.

Rodrigo Saviani Do G1 PR, em Londrina

Decoração da barbearia é feita com objetos históricos, que lembram a vida no campo (Foto: Rodrigo Saviani/G1)

O cliente que vai até a barbearia 3 de Maio em Londrina, no norte do Paraná, acaba se surpreendendo. Ali não há nada muito moderno. A decoração é feita com objetos históricos, que lembram a vida no campo. Até mesmo as cadeiras usadas pelo barbeiro são antigas, mais precisamente da década de 1930, e eram utilizadas por uma das primeiras barbearias da cidade. O local é também um ponto de encontro para os amantes da viola e da música caipira.
A barbearia começou a funcionar em 2013, quando o proprietário João Cruz resolveu mudar de profissão. Durante 11 anos, ele trabalhou como corretor de imóveis e não suportava mais o estresse do trabalho. Por isso, decidiu fazer um curso de barbeiro. O que seria apenas uma forma de relaxar acabou se tornando profissão. “Antes, eu não descansava, vivia levando trabalho para casa, ficava até sem dormir por causa das preocupações. Agora, eu chego aqui às 8h, e às 18h eu vou embora tranquilo”, conta João.

Cadeiras são da década de 30 e fizeram parte de uma
barbearia antiga de Londrina (Foto: Rodrigo Saviani/G1)

O agora barbeiro conta que a escolha da profissão surgiu por acaso. “Um amigo meu tinha um salão de cabeleireiro, e eu sempre gostei dessa arte de fazer bem a barba. O curso em si eu fiz como um hobby. Porém, ao perceber a carência de um espaço assim na cidade, resolvi abrir o meu próprio negócio”, diz.
Aos poucos, ele foi dando ao novo local de trabalho um jeito próprio. Na decoração, rádios, vitrolas, ventiladores, moedores de café, ferramentas do campo, fotos antigas da cidade de Londrina. “O objetivo aqui era criar um ambiente que me fizesse bem, principalmente que destaque a vida simples, sem grande luxo”, explica João Cruz. “O principal aqui é mostrar isso: dá para ser feliz de uma forma mais tranquila, simples, fazendo o que gosta”, completa.
Alguns objetos foram feitos pelo próprio barbeiro, como as cadeiras disponíveis para os clientes aguardarem o atendimento, e outros foram comprados. A decoração é feita também com materiais doados por clientes e amigos. “Tem uma peneira de café que uma senhora ofereceu. Ela contou que lembrava o marido dela quando ele trabalhava com café. Eu recebi e já coloquei aqui. O legal aqui é que cada objeto tem uma história, seja minha ou de quem passou pelo salão”, diz.
O ambiente chama a atenção dos clientes e também atrai visitantes. Cruz conta que algumas pessoas passam em frente e pedem para entrar, tirar uma foto e observar a decoração. Os próprios clientes afirmam que se sentem bem pelo cenário criado na barbearia. “É um lugar onde a gente pode fugir um pouco da rotina. A originalidade, os objetos, tudo chama a atenção”, diz o empresário Alisson Vicentini, cliente há quase um ano.

Bancos de madeira, televisores antigos, fotos históricas de Londrina e capas de discos sertanejos fazem parte da decoração (Foto: Rodrigo Saviani/G1)

Música caipira
O cenário à moda antiga acabou sendo palco não só para a barbearia. No local, o proprietário se reúne com amigos para tocar viola caipira e cantar o sertanejo de raiz. Duplas antigas, como Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho entram no repertório, resgatando a moda de viola. Para deixar o clima ainda melhor, bancos de madeira, chapéus, capas de discos e uma cachaça, aos que gostam, acompanha a cantoria.
“Antes a reunião era uma vez por semana. Porém, alguns já não poderiam vir em determinado dia, outros tiveram o ‘alvará’ cassado pela esposa. Então, quando alguns amigos estão disponíveis, eles aparecem por aqui.", conta João Cruz.
A ligação com a viola começou há alguns anos. João participava de uma orquestra de viola caipira em Londrina. Mesmo após deixar o grupo, a paixão pela música e as amizades continuaram. Para ajudar, Carlos Babugia, que também trabalha no salão, toca violão. "Tem alguns momentos que eu e o Carlos paramos e ficamos ali tocando uma música enquanto o outro atende”, diz João.
Mesmo sem perceber, o nome escolhido para a barbearia acabou tendo uma ligação com a cultura caipira. "A escolha foi por causa da data de aniversário da minha esposa. Depois eu descobri que no dia 3 de maio é comemorado o dia do sertanejo", completa o barbeiro.
Quem quiser conferir a barbearia e participar das rodas de viola, o endereço é Avenida Duque de Caxias, nº 2.134, Centro.

Os barbeiros João Cruz e Carlos Babugia aproveitam os intervalos para tocar viola e violão (Foto: Rodrigo Saviani/G1)