Dois anos depois, RBS Notícias faz nova série sobre a saúde no estado.
E constata que a demora para atendimento no SUS continua a mesma.
Em 2011, o RBS Notícias apresentou, durante uma semana, as dificuldades de quem dependia do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado. Dois anos depois, pouco mudou na vida daquelas pessoas e também de outras. Na primeira reportagem da série o Pesadelo na Saúde, você vai ver que pacientes chegam a esperar três anos por uma cirurgia para corrigir problemas de visão no estado (veja o vídeo abaixo).
Dois pacientes, o mesmo drama
O preparador de automóveis Flávio Saraiva Calage tem 31 anos e quase já não enxerga. Só foi diagnosticado com descolamento de retina aos 25, quando já era tarde. Ficou cego do olho esquerdo. Começou, então, a buscar tratamento para o direito, que tinha o mesmo problema.
“Se a gente tivesse condições de fazer a cirurgia particular há sete anos atrás, a gente teria feito”, diz a dona de casa Cristiane Munhoz, mulher de Flávio. “Tem muita coisa que depende do dinheiro. Se tem dinheiro, vai ali e faz particular. É tudo para ontem”, acrescenta Flávio.
Sem recursos para pagar o procedimento, Flávio teve que esperar pelo SUS. A cirurgia foi realizada, mas três anos depois, quando a visão dele já estava limitada a 35%.
De fato, a situação piorou. Dois anos atrás, Flávio descobriu que precisava ser operado de novo. Desta vez, de uma catarata. E a cirurgia ainda não foi agendada porque, segundo Flávio, o problema ainda não é grave.
“Eles mandam voltar que não é o caso de operar agora, que está muito pouco, que tem gente com prioridade na frente”, diz Flávio. “É que, na verdade, eles falam que tem que tem que agravar bem a situação, entendeu?”, explica Cristiane.
Só que voltar a ser atendido também não é fácil. A próxima consulta com o especialista é aguardada desde dezembro de 2012. Enquanto aguarda, o preparador de automóveis tem de conviver diariamente com o medo de perder o que sobra da visão e ficar completamente cego.
O caso de Flávio, infelizmente, não é exceção. A aposentada Antônia Severo foi uma das personagens da primeira série sobre o caos na saúde porque, enquanto aguardava por uma cirurgia, estava ficando cega.
“Faz exame disso, faz exame daquilo. Só que os exames eram marcados para um mês um, para um mês outro, para outro mês outro. E assim foi”, relata a filha, Elisa Severo.
A espera é tão longa que a aposentada já pensou em não buscar mais tratamento. “Eu, por mim, queria desistir, mas ela (a filha) não deixa”, diz. “Eu acho que não vale a pena assim, estar se esforçando demais, perder tempo. A gente também fica atacada dos nervos”, completa.
Especialista sugere melhor administração do SUS
A catarata é a maior causa de cegueira curável, segundo um estudo da Fundação Oswaldo Cruz, ligada ao Ministério da Saúde. A pesquisa estima que dois terços dos casos poderiam ser evitados se tratados a tempo.
Para o chefe do setor de transplantes da Santa Casa de Porto Alegre e membro da Academia Nacional de Medicina, José Camargo, o problema não está no SUS, mas na administração dele.
“Nem tudo é possível colocar no sistema de computação. Não há programa perfeito desse jeito. Então, o que tem que haver: pessoas em posição de decisão, que arbitrem essas coisas. Às vezes, a obsessão por cumprir o ritual da regulação acaba determinando esses absurdos, com prejuízo pessoal irreparável”, opina o médico.
Enquanto isso, a busca de Antônia e da filha pelo tratamento continua. “São muitas barreiras que a gente tem que ultrapassar. E por ela eu faço tudo, porque ela me criou, e eu não vou desistir”, diz a filha, emocionada.
O que também não mudou foi o motivo pelo qual dona Antônia quer voltar a enxergar. “Eu penso assim, de querer a minha saúde, a minha visão, para ajudar os necessitados, porque se a gente ajuda as crianças, por exemplo, tá ajudando o país, o mundo. Ainda penso que o mundo vai mudar, se Deus quiser”, conclui a aposentada.
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