G1 passou por Itacambira, Botumirim e Cristália, no Vale do Jequitinhonha.
Especialistas defendem o desenvolvimento do turismo comunitário na região.
Ribeirão da Onça, próximo à cidade de Botumirim, é opção para se refrescar. (Foto: Thiago França/G1)
Rios, cachoeiras, trilhas, serras, um povo simples e acolhedor. Tudo
isso forma a receita de uma aventura inesquecível e única pelo interior
do estado de Minas Gerais. O trajeto percorrido pelo G1
a convite da expedição 'Nas Trilhas de Botumirim', pela região da Serra
Geral de Grão Mogol, no Vale do Jequitinhonha, começa pela cidade de
Itacambira. Do alto de um mirante, às margens da MG-308, é possível
enxergar a cidade rodeada pela Serra do Resplandecente. Além da beleza, o
local abriga muita história.
Vista da pacata cidade de Itacambira entre a Serra
do Resplandecente. (Foto: Thiago França/G1)
A serra, repleta de cristais que brilham intensamente à luz do sol, foi
responsável pela Lenda das Esmeraldas de Fernão Dias. O personagem
histórico organizou uma bandeira para extrair o que seriam esmeraldas na
serra, mas depois descobriu que se tratava apenas de quartzitos, que
tinham pouco valor financeiro. Por ali também estão as famosas sete
quedas d’água, as cachoeiras que tiram o fôlego só de observar.do Resplandecente. (Foto: Thiago França/G1)
Descendo as montanhas de Itacambira, no centro da cidade, está a matriz de Santo Antônio, que é considerada a primeira igreja da região. A construção, que data da primeira metade do século XVIII, passa por restauração. Ao redor do templo está concentrada a área comercial do município, com bares, mercearias e os empórios.
A próxima parada foi na comunidade de Canta Galo. Brincando no meio dos adultos está o pequeno expedicionário Vinícius Gomes e Martins, de 11 anos, que acompanha o pai em aventuras por trilhas desde quando tinha apenas três anos de idade.
As primeiras experiências do garoto foram na garupa de uma moto, depois veio a gaiola e agora a família viaja de jeep. “O que eu mais gosto é poder conhecer lugares diferentes. Acho muito legal a adrenalina e o contato com a natureza”.
O engenheiro ambiental, que também é espeleógo e geógrafo, Danilo Moraes, já participou de outras expedições e diz ser apaixonado pelo contato com a natureza. Com sua picape 4x4 enfrentou curvas, subidas íngrimes, passagens por rios e estradas repletas de erosões com "emoção". "Sempre que tem um programa de aventura na natureza, estou dentro", conta.
Águas escuras dos rios aliviam o calor
Casal se diverte nas águas do Ribeirão da Onça.
(Foto: Thiago França/G1)
Passando por vários biomas, cerrado, campos de altitude, campina e mata
atlântica era possível observar a mudança do clima. A expedição, que
viu o sol nascer, enfrentou até névoa na estrada. Mas na maior parte do
tempo o céu claro com sol forte ditou o ritmo com altas temperaturas. O
alívio vinha na chegada aos rios que cortam a região. O primeiro foi o
Ribeirão da Onça, em Botumirim, com lajedos de água escura e uma
cachoeira.(Foto: Thiago França/G1)
O próximo refresco veio a poucos quilômetros dali, no Rio do Peixe. Para chegar até o local ideal para nadar, é preciso se equilibrar sobre pedras por dentro do rio e depois caminhar alguns metros por uma trilha na mata. Na chegada, a queda d'água ajuda a formar uma espuma, causada pelos minerais presentes na água, e logo abaixo há um espaço amplo e profundo. Quem preferir, pode aproveitar só para curtir a vista do rio que corre entre as rochas. A região também abriga barragens e cânions.
Aventura a 1.300 metros de altura
O roteiro da expedição também abrangeu uma aventura nas alturas, no Morro do Chapéu, localizado a cerca de oito quilômetros do município de Cristália. Para chegar até o ponto turístico, com cerca de 1.300 metros de altitude, basta seguir de carro – de preferência um 4x4 – por uma estrada de terra e subir alguns metros a pé. A trilha íngrime requer uma boa dose de disposição e energia. Mas tudo compensa ao chegar no topo e avistar a cidade ao longe, o lago Irapé e as belas montanhas que se estendem pelo horizonte infinito.
Turista saiu de Belo Horizonte para se aventurar
no interior do estado. (Foto: Thiago França/G1)
A bióloga Carmen Aguilar saiu de Belo Horizonte só para participar da
expedição. "O lugar é maravilhoso, as opções turísticas são ótimas. Os
lugares, a magia a energia do lugar, cada parada que a gente faz é uma
atração diferente. Não tem como não curtir", conta.no interior do estado. (Foto: Thiago França/G1)
Carmen já participou de outras expedições, mas, feliz da vida em cima do alto do Morro do Chapéu, revela que cada experiência é única. “Por mais que tenha a mesma formação rochosa, que tenha a mesma característica arbórea, ela é diferente. Isso que faz com que a gente participe de todas”.
Ecoturismo com foco comunitário
De acordo com o organizador da expedição e ambientalista, Eduardo Gomes, o ecoturismo tem um potencial muito grande na região. O forte são esportes de aventura como escalada, tracking (caminhadas por trilhas) e o passeio off-road. Mas o turismo solidário pode despontar nos próximos anos. Para que isso ocorra, segundo Gomes, é preciso que haja um planejamento de base local, no qual a comunidade participe do processo das estratégias de turismo. "A população também precisa ter um posicionamento crítico para avaliar o aspecto negativo que pode haver na exploração do turismo", destaca.
"É preciso pensar se as pessoas daquele lugar sabem qual é o conceito de turismo. Elas precisam conhecer as potencialidades do local onde moram e como aproveitá-las", defende o turismólogo Hebert Canela Salgado.
O especialista explica que o fundamento do turismo é o deslocamento de pessoas, a valorização da humanidade, da cultura, dos saberes e dos patrimônios material e imaterial. "O grande desafio é mostrar para as pessoas que o turismo deve começar com uma atividade de relações, de reconhecimento da valor do lugar, de legitimação do cotidiano da população", salienta.
Família do produtor rural Joaquim Pereira da Silva pode ser beneficiada com turismo solidário. (Foto: Thiago França/G1)
Outro desafio é preparar a estrutura necessária para receber os
visitantes. A casa simples onde o produtor rural Joaquim Pereira da
Silva, 77 anos, mora com a esposa, o filho, a nora e o neto poderia ser
um dos pontos para acolher os turistas. A estratégia do turismo
solidário atuaria na capacitação dos moradores para atender com
qualidade, oferecendo um café da manhã, almoço, hospedagem ou até uma
aula de como ordenhar uma vaca ou plantar feijão. Porém a esposa do
produtor rural, a dona de casa Maria Aparecida, reclama que a
infraestrutura das redondezas ainda é problemática. "Meu neto, que tem
11 anos, não pode ir pra escola porque a estrada é ruim e o ônibus não
pode passar".De acordo com o doutor em Ecoturismo e professor da UFMG, Weter Valentin de Moraes, para que o turismo comunitário se consolide na região tambem é necessario que haja a figura do emprendedor satélite, que capte o turista onde ele está. "Depois de captar é preciso manter a visitação para ter retorno. Após um nível de sequência de manutenção, é preciso distribuir pela comunidade, para estimular a cadeia produtiva", detalha.
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