Investidor deve se programar para conseguir aproveitar a queda do dólar

Na semana passada, moeda americana voltou a fechar abaixo de R$ 2, o que não acontecia desde julho; queda no ano já chega a 2,84%

LUIZ GUILHERME GERBELLI - O Estado de S.Paulo

O dólar voltou a ser cotado abaixo de R$ 2 na semana passada, o que não ocorria desde julho do ano passado. Em 2013, a moeda americana já acumula uma queda de 2,84%. Até o mercado financeiro está confuso com o rumo do câmbio. Enquanto o governo federal garante que a política cambial não vai mudar, o Banco Central trabalha para trazer o dólar para um patamar mais baixo.
Há duas maneiras de tirar proveito dessa oscilação negativa da moeda americana. A primeira possibilidade é fazer compras gradativas, aos poucos, para conseguir um preço médio que seja vantajoso. "Se uma pessoa tem uma viagem já planejada, é muito difícil projetar quanto vai valer o dólar no meio do ano. É mais aconselhável ir comprando o dólar lentamente e, no fim, fazer um preço médio da moeda", afirma Michael Viriato, professor do Insper.
Dessa forma, se o real se desvalorizar, o comprador não sairá no prejuízo. "É importante também que seja feita uma programação", diz Viriato.
No caso de o investidor ter todo o dinheiro já disponível para a compra da moeda americana, vale uma segunda opção: a de se garantir. Ou seja, adquirir toda a quantidade de moeda estrangeira necessária no ato. "A recomendação que dou é a de praxe: se há uma viagem programada e dinheiro disponível, a compra pode ser feita imediatamente. Nesse caso, não vale muito a pena ficar tentando adivinhar o futuro do câmbio para fazer um negócio melhor", afirma André Massaro, consultor financeiro e especialista em finanças pessoais. "A chance de a moeda subir, e a viagem sair mais cara sempre é grande", diz.
O fato é que nem o dólar mais caro tirou o ímpeto do consumidor brasileiro, apesar da alta da moeda de 15,39% nos últimos 12 meses. Em 2012, os gastos dos brasileiros no exterior somaram US$ 22,2 bilhões - de acordo com o Banco Central, o maior da história.
Inflação em alta. Como pano de fundo para esse recuo atual do dólar, está a necessidade de o governo conter a alta da inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) - uma prévia da inflação oficial do País - teve variação de 0,88% em janeiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em dezembro, o indicador estava em 0,69%.
A inflação também voltou à tona com o aumento dos combustíveis. A Petrobrás reajustou o preço nas refinarias na semana passada. A gasolina aumentou 6,6%. A alta do diesel foi de 5,4%. Os reajustes já foram repassados para o consumidor em todo o País. Além disso, houve pedidos para que os governos municipais e estaduais adiassem o aumento da tarifa de transporte público para evitar mais pressão inflacionária.
"O governo demonstrou que pode segurar o mercado de câmbio como uma contrapartida ao reajuste dos combustíveis e de outros itens que estão pressionando a inflação", analisa Fábio Colombo, administrador de investimentos.
Opção de investimento. Se para o mercado o rumo da moeda é incerto, pelo menos no curto prazo, para o pequeno investidor não deve ser diferente. No ano passado, o dólar comercial foi o segundo melhor investimento, com alta de 9,42%, só atrás do ouro (15,26%). A despeito do bom resultado, o investimento requer atenção e muito cuidado. "Especular com moeda é tão ou mais difícil do que especular com ação. Não é recomendável que o investidor pessoa física tente adivinhar que caminho as moedas vão tomar", afirma Massaro.
Vale ressaltar que usar o dólar como investimento também não costuma garantir um ganho de renda ao fim do mês, como aplicações que são realizadas com base em juros ou dividendos, por exemplo. "Quando se pensa em investimento, você pensa que vai comprar um ativo. Esse ativo rende alguma coisa, como juros ou dividendos. Isso vai produzir algum ganho no fim do mês", diz Viriato, do Insper.