Tribunal nega recurso do GDF contra implante de marca-passo em criança
Menino sofre de insuficiência respiratória desde que nasceu, há 10 anos.
Advogado diz que entrará com pedido de prisão do secretário de Saúde.
Deitado numa maca, Lucas só respira com a ajuda de equipamentos (Foto: Raquel Morais/G1)
Lucas Ferreira Bittencourt não fala, não anda e respira com ajuda de aparelhos desde que nasceu, por causa de uma insuficiência respiratória crônica. A decisão desta terça foi tomada por 11 desembargadores do Conselho Especial do TJ.A execução da cirugia foi determinada pelo tribunal com base em laudos dos médicos que atendem o garoto e do Ministério Público do DF. A decisão do TJDF também determina o pagamento de multa diária de R$ 10 mil pelo GDF a partir de 24 de julho.
O recurso diz, ainda, que o procedimento é de "altíssimo custo". O documento aponta que apenas o marca-passo custa R$ 388 mil. De acordo com o texto, “o deferimento da liminar constitui odioso privilégio de determinados indivíduos aos sacrifícios dos direitos do resto da coletividade”.
O advogado de Lucas, Frederico Damato, informou ao G1 que pretende entrar com pedido de prisão do secretário de Saúde do DF por descumprimento da decisão do tribunal. "A liminar é para urgência e já deveria estar sendo cumprinda. Se o governo continuar descumprindo e apresentar relatório contra a realização da cirurgia, vamos pedir prisão do secretário por crime de desobediência", disse Damato.
O advogado também contestou a alegação da secretaria de que o procedimento seja experimental e negou que quadro de Lucas seja estável. "O Lucas vive traqueostomizado desde que nasceu. Como ele pode ter qualidade de vida com traqueostomia? Ele não respira naturalmente, ele não sabe o que é um parque, um cinema ou o mar. Ele toma banho na cama", afirmou.
Junta médica
No último dia 19, uma junta médica da Secretaria de Saúde visitou o garoto para avaliar se ele vai ter o procedimento aprovado. O custo do equipamento é de cerca de R$ 400 mil. Em nota, divulgada nesta terça (31), a Secretaria de Saúde informou que até o fim desta semana será entregue o relatório que poderá autorizar o procedimento.
Em abril, a cirurgia chegou a receber parecer favorável da coordenadora de Neuropediatria e do secretário de Saúde, Rafael Barbosa. Mas a pasta arquivou o processo um mês depois alegando não poder transportar o menino para São Paulo, onde a operação seria realizada.
O pai da criança, Caio Bittencourt, vê no marca-passo, que tem 500 gramas e tamanho aproximado de uma caixa de DVD, a oportunidade de aumentar a qualidade de vida do primogênito.
“Elimina todo esse equipamento pesado [cerca de 100 kg] e toda essa dependência de energia elétrica, porque funciona à bateria. Vamos poder buscar terapias diferentes e fora de casa, talvez equoterapia, hidroterapia.”
Rotina
Além de duas sessões de fisioterapia, o garoto passa as 24 horas do dia acompanhado de um dos pais e de um técnico de enfermagem. Ele recebe visita médica semanal. Tudo é custeado pelo plano de saúde desde que ele nasceu.
“O Lucas nunca usou R$ 1 do serviço público de saúde. A primeira vez que estamos solicitando é agora. A gente nunca deu R$ 0,01 de gasto para a Secretaria de Saúde”, diz o pai, Caio Bittencourt
A agenda do menino ainda é preenchida por uma grade escolar feita especialmente por ele, videogame e internet. “É uma criança que tem o cognitivo preservado, não sofreu perda de inteligência. Ele tem aula em casa, tem coordenação motora fina. O que ele não tem é força muscular. E a gente se comunica por sinais.”
Lucas raramente sai de casa, mas sempre com equipe médica e família do lado. “O máximo que a gente já conseguiu fazer foi colocá-lo numa cadeira de rodas e andar dentro do condomínio por 20 ou 30 minutos, mas junto com um técnico e sempre atentos a ter uma tomada por perto. Mas foram umas duas vezes só”, lembra.
Com o implante, Bittencourt acredita que a vida de toda a família sofrerá mudanças. Entre elas e a mais esperada, revela, é o primeiro passeio com todos juntos. O desejo é constantemente manifestado pela irmã caçula, Isadora, 4 anos. “Ela pergunta quando é que a gente vai poder ser uma família normal, porque ela quer atenção. Ela cobra. O marca-passo muda tudo. E muda para todo mundo.”
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