BLOG ORLANDO TAMBOSI
Quando aplicado sistematicamente, pode até virar uma segunda natureza e ser aplicado em áreas como moral, religião e política. Luiz Felipe Pondé para a Folha de São Paulo:
O
desafio do cético não é a dúvida, mas a confiança. A disciplina cética,
quando praticada sistematicamente, torna-se uma segunda natureza, como
dizia o grande Aristóteles acerca da virtude praticada ao longo da vida.
O
ceticismo é uma disciplina, não um surto depressivo. Como tocar
violino, lutar boxe ou jogar tênis. O ceticismo pode ser praticado em
diversas áreas do conhecimento e da vida em geral: na ciência, na moral,
na religião (o caso mais fácil), na política, na geopolítica.
Vejamos o caso da política, ou seja, o território da violência e sua organização institucional.
Bolsonaro
é um louco perverso. O PT foi eleito —uma vitória bem apertada— sob a
sigla da defesa da democracia. Há elementos que reforçam a percepção de
que o PT aceitou o jogo democrático institucional quando o Lula, por
exemplo, foi preso. Porém, o PT sempre foi um partido autoritário.
Pense.
Qual partido ou candidato da esquerda teria qualquer chance de levar
uma eleição para presidente? Nenhum. O PT reina hegemônico —e o Lula no centro dele— na esquerda e não cede espaço.
Exemplo
disso foi quando negou espaço ao candidato Ciro Gomes em 2018, quando
este tinha alguma chance de derrotar o Bolsonaro. Preferiu entregar o
país na mão de um psicopata a deixar espaço para uma possível outra
estrela da esquerda brilhar.
O
caráter autoritário do PT se manifesta, também, no exército de
intelectuais, jornalistas e acadêmicos que trabalham para essa hegemonia
no espaço da cultura, eliminando colegas que possam colocar em risco
essa hegemonia.
É
bem verdade que a burrice da direita em cultura ajuda o trabalho da
esquerda. A direita no Brasil, quando entende de alguma coisa, não vai
além da taxa Selic e de como fechou a bolsa de valores e o dólar.
Eleito, já começa a acossar a autonomia do Banco Central.
A comissão parlamentar que recebe o encargo do Lula para fritar o
presidente do Banco Central busca a submissão de um órgão de Estado –no
caso, o Banco Central– ao interesse político partidário do mandatário da
hora.
Tirar a autonomia do Banco Central é como submeter o STF
a interesses ideológicos. A vocação do PT é levar o Brasil para
políticas econômicas heterodoxas, produzir inflação, gastanças e
populismo. Depois administrará o atraso a favor da máquina do Estado sob
sua tutela, fazendo discursos emocionados.
O
simples fato de que em duas eleições consecutivas para presidente –2018
e 2022– tivemos como opção de voto viável um psicopata e uma gangue, já
atesta a validade do ceticismo e da falta de confiança em relação a
operação política no país.
Mas,
temos outros exemplos de operação do poder no Brasil que dão razão aos
céticos –um deles é a prática de se alinhar politicamente e
ideologicamente de muitos agentes do poder judiciário nas redes sociais.
Um
juiz não deve ter posicionamentos políticos e ideológicos. Sua função é
responder quando acionado, dentro do poder da lei. Imagine o tamanho do
poder que um juiz tem nas mãos. As prerrogativas e privilégios que
caracterizam o exercício da função implica a demanda de uma vida quase
monástica. Com o poder que tem, ainda quer ter o poder de fazer
política?
O
argumento de que como cidadão deve se posicionar só vale no ato de
votar. Seu silêncio público acompanha seus privilégios de função.
Mas,
infelizmente não é este o caso. Aliás, o fenômeno não é só nacional. O
ativismo jurídico é um traço dos últimos anos em vários países do mundo.
Egresso da elite, o poder judiciário é o poder mais poderoso da
república. Vitalício, não reconhece, praticamente, nenhum freio ou
contrapeso.
Entretanto,
a autonomia do poder judiciário —alicerce da democracia como estado de
direito— é fundamental. Isso significa, entre outras coisas, que essa
autonomia depende da recusa de qualquer ativismo político. Juízes não
devem ir a roda de samba com vencedores, nem defender derrotados nas
redes sociais. Mais: nem deveriam estar nas redes sociais.
Sinto muito. Quer ser ativo nos debates políticos? Desista da carreira e seja um cidadão comum, coisa que você não é.
Postado há 4 days ago por Orlando Tambosi
Nenhum comentário:
Postar um comentário