BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nesta semana, a história de Amber Heard contra Johnny Depp desmoronou e expôs, mais uma vez, a perigosa espinha dorsal do movimento Me Too. Ana Paula Henkel para a Oeste:
Vários
anos atrás, a atriz norte-americana Amber Heard escreveu sobre uma
experiência angustiante em que, sem citar nomes, relatava ter sido
abusada pelo ex-marido e ator Johnny Depp. Ela alegou graves abusos
físicos e emocionais durante todo o casamento, incluindo alegações de
que ele havia chutado e espancado seu rosto. Quando eles se divorciaram,
após menos de dois anos de casamento, ela se tornou uma voz importante
no movimento feminista Me Too, quando as mulheres das indústrias do
entretenimento, música e mídia resolveram denunciar tratamentos
abusivos, quase sempre de natureza sexual, que sofreram de homens
poderosos. Amber protocolou um pedido de medida protetiva contra ele, e,
em decorrência disso, Depp foi prontamente excluído de todas as
produções das quais participava, assim como teve todos os contratos
cancelados de produções pré-agendadas para o futuro. Seu milionário
contrato em Piratas do Caribe foi cancelado, e o ator foi excluído da
sociedade, da mídia e de eventos da indústria do entretenimento. A
imprensa não poupou esforços para seguir alimentando a demonização de
Depp acerca da suposta violência doméstica que havia cometido.
Nesta
semana, a história de Amber contra Depp desmoronou e expôs, mais uma
vez, a perigosa espinha dorsal do movimento. Ainda em 2018, Johnny Depp
processou Heard, dizendo que ela o difamou ao acusá-lo de abuso
doméstico e, com as falsas alegações, fez com que ele perdesse contratos
importantes e, principalmente, seu nome. No julgamento, iniciado há
seis semanas, ele precisou provar não apenas que nunca agrediu Heard,
mas que o artigo que a atriz escreveu para o Washington Post o difamava.
Também teve de comprovar que Heard escreveu o artigo com malícia real,
e, para reivindicar danos, Depp afirmou que o texto causou severos
prejuízos à sua reputação.
Johnny Depp e Amber Heard durante o julgamento
A
batalha judicial acalorada e televisionada entre Johnny Depp e Amber
Heard finalmente acabou na última quarta-feira, e um júri de sete
membros no veredito afirmou que Heard o difamou e que prevaleceu a
vitória do ator nas três reivindicações do processo. A atriz terá de
pagar ao ex-marido a quantia de US$ 10 milhões em danos compensatórios,
além de danos punitivos de US$ 5 milhões. O caso, no entanto, vai além
do que mais um mero show hollywoodiano comentado enfaticamente pelos fãs
de ambos. O episódio mostra as vísceras do vil movimento atual
feminista, que não está interessado em pautas pertinentes e justas para
as mulheres, mas no ganho político e financeiro à custa das reais
vítimas de abusos e da demonização de todos os homens.
Amber Heard durante o veredito final
Como
pessoas de diferentes esferas, experiências diversas e pontos de vista
variados convivem pacificamente dentro de uma sociedade civil? Qual é o
principal ingrediente necessário para a democracia prosperar? É claro
que nada se resume a um ponto apenas, mas acredito que podemos resumir
em uma palavra: confiança. Uma sociedade civil saudável é construída
sobre relacionamentos, amizades e associações que promovem a confiança
no próximo. A liberdade e uma comunidade forte florescem em uma cultura
de confiança, e, infelizmente, estamos perdendo isso há algum tempo.
Vemos esse cenário não apenas na paisagem norte-americana em vários
graus, mas no mundo de forma geral.
O
politicamente correto, instaurado no Ocidente pelos globalistas fãs de
Marx, prega que os pobres não devem confiar nos ricos, os negros nos
brancos, os filhos nos pais. Na vida real, atualmente os eleitores não
confiam nos políticos e os cidadãos não confiam na mídia. Sentimos tanta
desconfiança que ficamos insensíveis a ela. Por muitas vezes,
alimentamos esse sentimento sem pensar. Afinal, não achamos que a
desconfiança gerada “lá fora” na política e nas mídias sociais pode
afetar nossa vida diária. Mas afeta e está se expandindo. Como uma
doença, essa desconfiança está infectando nosso relacionamento mais
fundamental, o alicerce de uma sociedade civil livre — o relacionamento
entre homens e mulheres.
Guerra dos sexos
A
quebra de confiança entre os sexos é o legado trágico do vazio
movimento feminista moderno — ou pelo menos a tentativa avassaladora de
silenciar dissidentes que não rezam a cartilha hipócrita das feministas.
A campanha do movimento Me Too assumiu um novo fervor que se alimenta
da crescente acusação de que a masculinidade é vil, tóxica e
inerentemente predatória. O medo dos homens é legitimado, pois qualquer
acusação é tratada como fato, e os homens são vistos como “o inimigo”,
um desvio incorporado que deve ser remodelado na imagem de uma mulher.
Sua sexualidade é assumida como naturalmente brutal, uma ameaça a ser
controlada e reduzida para que o homem individual seja considerado
“seguro”.
Embora
a disposição das mulheres de responsabilizar os homens por qualquer
comportamento sexual criminoso deva ser aplaudida, a abordagem de terra
arrasada que estamos vendo é destrutiva, porque mina a confiança
saudável e o mais grave: a própria segurança de todas nós. Quando
qualquer coisa, desde um toque ingênuo durante uma sessão de fotos até
uma tentativa inocente de beijo, é comparada a estupro e abuso sexual,
não estamos curando a sociedade, mas infectando relacionamentos com o
veneno da desconfiança. Seja no local de trabalho, em um restaurante,
uma igreja ou em casa, a interação entre um homem e uma mulher é única e
primordial para todos os outros relacionamentos. Quando uma quebra de
confiança acontece, quando o medo do outro sexo se generaliza, a
sociedade simplesmente não consegue prosperar.
Tudo
o que envolve a dinâmica sexual saudável é essencial para o
relacionamento entre homens e mulheres. Para que a confiança floresça,
essa realidade não pode ser negada e deve ser tratada com respeito,
cuidado e honestidade, e não simplesmente apagados da vida moderna. Não
pode haver abuso nessa relação, e uma parte da polaridade — seja
masculina seja feminina — não pode ser rotulada como tóxica, brutal ou
maligna, inclusive como foi feito no passado por certas religiões
totalitárias em relação à sexualidade feminina. Uma vez que esse rótulo é
colado, a desconfiança é gerada em detrimento de todos. Se as mulheres
acreditam que todos os homens são perigosos, não pode haver confiança
entre os sexos. Os homens não vão se tornar eunucos, mudar e se tornar
como as mulheres, abandonando sua masculinidade natural. Essa é a
identidade e a natureza dos homens, e ela não pode ser expurgada sem
destruir quem eles são como indivíduos livres, como homens e protetores.
A destruição da liberdade
O
movimento feminista Me Too concedeu uma exceção perigosíssima ao
princípio justo de qualquer devido processo legal de inocência até que
provem o contrário. O problema, não apreciado pela gritaria das atuais
feministas, é que, se todos os homens são vis, tóxicos e abusadores,
ninguém é. Se toda masculinidade é apenas o compartimento de um
estuprador em potencial, os reais abusadores conseguem se dissipar na
multidão e seus crimes passam a não ter o peso que merecem. Quando
nossos relacionamentos mais íntimos e fundamentais são governados pelo
medo e pela desconfiança, a liberdade que constrói relações sólidas e
saudáveis entra em colapso. Quando você não confia mais em outras
pessoas e elas precisam ser monitoradas, controladas e incansavelmente
investigadas ou observadas, como o atual feminismo prega com todos os
homens, a própria liberdade é destruída. É por isso que o totalitarismo
prospera na desconfiança.
A
dicotomia “confiança versus medo” sempre prosperou em regimes
totalitários. Como tem sido amplamente documentado em milhares de
livros, a estratégia geral é induzir a desconfiança entre cidadãos
comuns, vizinhos e até mesmo entre familiares. Além disso, os regimes
totalitários instituem a perseguição e a punição arbitrária dos
cidadãos, deixando-os em permanente estado de incerteza. Sob tais
regimes, ninguém sabe se, quando e por que eles serão chamados a se
apresentar no que pode ser tranquilamente chamado de “tribunal da
injustiça”. Como isso se aplica a homens e mulheres em um ambiente de
suspeita, eles nunca sabem quando serão apresentados nos tribunais da
injustiça como “abusadores sexuais”. Os homens serão cautelosos com cada
palavra, cada ação e viverão com medo da acusação de uma mulher. A
comunicação limpa será interrompida ou restringida. Ninguém será real um
com o outro. O flerte inofensivo já é sufocado e as sementes da
intimidade esmagadas. O amor é erradicado e o medo toma seu lugar.
Bullying e egoísmo
A
mulher ganhou espaços espetaculares na sociedade ocidental. Apesar de
os atuais movimentos feministas fingirem cegueira, somos ouvidas no
mundo livre. O que está faltando, no entanto, é a grande
responsabilidade que vem com esse poder recém-descoberto. Seria
excelente para encorajar e inspirar meninas a buscarem a excelência e a
realização, mas as mensagens feministas modernas falham em combinar essa
mensagem com apoio e compaixão pelos outros. É mesquinho e ressentido.
Com demasiada frequência, o tal empoderamento feminino e a liberação
tornam-se sinônimos de bullying e egoísmo.
Nós,
como sociedade, precisamos parar e dar uma olhada séria em nós mesmos. É
preciso restaurar a confiança por meio da responsabilidade —
criminalidade e abuso de qualquer forma, seja mentira, roubo,
assassinato ou estupro, são ataques à sociedade civil, e indivíduos
devem pagar por isso. Estamos indo além de meramente responsabilizar
indivíduos por comportamento criminoso ou abusivo para policiar a
masculinidade. O que estamos perdendo não é a liberdade sexual, mas a
liberdade relacional e a confiança que a sustenta.
Em
tempos estranhos de totalitarismo social e político — por isso temos
citado tanto George Orwell, em 1984 —, o sexo era severamente
regulamentado e relacionamentos amorosos entre homens e mulheres
proibidos — um código que o protagonista Winston Smith violou quando se
apaixonou por Julia. Para “reprogramar” Winston em conformidade com o
Estado, um dos membros do partido interno do Big Brother quebra a
confiança entre eles através da tortura: “Nunca mais você será capaz de
amor, amizade, alegria de viver, riso, curiosidade, coragem ou
integridade”, diz o torturador O’Brien. “Você será oco. Vamos espremê-lo
e depois enchê-lo com nós mesmos.” Sim, é assustador.
Isso
é o que estamos fazendo ao criar desconfiança a ponto de homens e
mulheres não poderem viver autenticamente uns com os outros. Estamos nos
esvaziando de nossa humanidade, tirando nossa confiança um no outro e
roubando o afeto mútuo. Tenho medo de que um dia vamos acordar e sentir o
vazio interior, descobrir que estamos sozinhos e sacudir a gaiola que
construímos ao nosso redor porque escolhemos o medo e o silêncio.
A
tensão sexual entre homens e mulheres sempre existirá, e se as mulheres
assumem que a sexualidade de um homem é uma ameaça em vez de um
poderoso complemento à sua própria sexualidade, elas sempre estarão em
guarda. Nesse ambiente de suspeita, não pode haver privacidade entre um
homem e uma mulher. Se houver qualquer interação, mesmo que não seja
sexual, o homem vai desconfiar que a mulher se voltará contra ele —
então a comunicação é silenciada. O medo é gerado em ambos os lados, e o
medo é a morte da confiança e também a morte do amor.
Amber Heard e Johnny Depp quando ainda estavam juntos, em 2015




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