BAHIA NOTICIAS
por Daniele Madureira | Folhapress
Iago Brigato, 24, e Beatriz Alexandre, 21, não são "Eduardo e
Mônica", mas, assim como o casal eternizado na música da banda Legião
Urbana, vão se encontrar no Parque da Cidade, em Brasília. Promover um
piquenique à beira do lago foi o jeito que encontraram para driblar a
inflação de 11,73% acumulada nos últimos 12 meses, que ameaçou a
celebração do Dia dos Namorados, neste domingo (12).
"Está tudo tão caro que as opções são poucas", diz Brigato, estudante
de relações internacionais, que trabalha como auxiliar administrativo.
"Pensamos em fazer um piquenique, porque um restaurante está muito
caro."
Em capitais como Brasília e Belo Horizonte, um menu completo no
jantar do Dia dos Namorados pode sair por R$ 200 por pessoa. Nada
animador para Iago e Beatriz.
"O que for na cesta do piquenique vai depender muito dos preços.
Concordamos que não precisamos de presentes. Só da companhia um do outro
basta", diz ele, que ganha cerca de um salário mínimo.
Beatriz, que também estuda relações internacionais, acaba de sair de
um estágio e busca uma vaga no mercado. "Parece que o dinheiro não vale
tanto quanto valia. Está muito apertado, não dá para fazer algo mais
elaborado. A inflação é a culpada por cortar muitos dos nossos planos,
mas não vamos deixar de comemorar."
A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) torce para
que casais como Iago e Beatriz sejam exceção. "A melhor data do ano para
o setor é o Dia dos Namorados, porque os casais começam a consumir
desde o café da manhã, passando pelo almoço, o jantar e até o consumo no
restaurante do motel", diz Paulo Solmucci Jr., presidente da Abrasel.
A expectativa para este ano é de um aumento de 30% nas vendas em
relação ao ano passado -em praças como São Paulo, o otimismo é ainda
maior, alta de 50%. "Neste ano estamos sem restrições, e o serviço está
completo, com as casas com o quadro de profissionais cheio", diz
Solmucci. Os bares e restaurantes demitiram cerca de 1,3 milhão de
trabalhadores na pandemia, mas já contrataram 1 milhão. "Muitos
estabelecimentos automatizaram alguns processos ou se tornaram mais
produtivos."
Além disso, diz o executivo, os restaurantes repassaram apenas 6% da
inflação para os preços, justamente para não afugentar a clientela.
"Cerca de 28% dos estabelecimentos em todo o país estão trabalhando no
prejuízo."
A Abrasel estima um faturamento de R$ 400 bilhões para este ano, alta real entre 3% e 5% sobre o ano passado.
Roupas e jantares aparecem como principais opções de compras para o
Dia dos Namorados em uma pesquisa da Spot Metrics, startup de
inteligência de dados para o varejo físico. Segundo o levantamento,
feito online com 400 pessoas das classes A, B e C em nível nacional, 71%
dos consumidores vão fazer compras na data -15% deles para si mesmos,
só para aproveitar as promoções. Roupas (21%) e jantares (19%) encabeçam
a lista.
"Os namorados querem vivenciar neste ano experiências que não tiveram
nos dois últimos anos, em razão da pandemia", diz Raphael Carvalho,
presidente-executivo da Spot. "Querem procurar algo bacana para
presentear, mas a inflação acaba limitando um pouco esta busca."
De acordo com a pesquisa, 72% pretendem gastar no máximo R$ 300.
Entre os apaixonados, 50% vão em busca de preços baixos e promoções,
enquanto 44% vão privilegiar a qualidade ou a marca.
A universitária Karlla Moura, 21, de Brasília, queria muito dar uma
roupa de presente para o namorado Lucas, 23. "Neste ano está impossível
dar presente", diz ela, que ganha um salário mínimo como assistente
administrativa, assim como o namorado. O casal decidiu controlar as
despesas no cartão, desde o mês passado, para fazer uma comemoração
especial na casa dele.
"Vou preparar a decoração, e ele, o jantar. Vai ter massa, fondue e
vinho. Vamos ficar na laje da casa dele, de onde dá para ver as
estrelas", afirma.
Natália Manzano, 36, de Marília (SP), também decidiu improvisar. "Os
presentes estão bem caros, e as reservas de restaurantes estão um
absurdo. Depois de dois anos de namoro, decidimos neste ano não dar
presente um ao outro."
Natália, que é administradora de empresas, vai acampar com o namorado. "Gostamos de natureza, curtimos fogueira, um violão, um vinho. O que importa é ficar juntinhos."
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