Relatórios de análise de risco político e econômico de consultorias internacionais dão menos ênfase a aspectos como “qualidade das elites dirigentes”, “lideranças políticas” ou “ideias para o País” – para não falar em qualidade da democracia e emburrecimento geral do debate. William Waack para o Estadão:
No
cálculo de riscos políticos e econômicos em relação às eleições
brasileiras o horizonte já é o do pós-eleitoral. Essa postura indica que
as consultorias assumem que Lula
será o vencedor e o estrago institucional bolsonarista permanecerá nos
limites do último 7 de Setembro, quando Bolsonaro demonstrou ser
incompetente e não controlar forças para um golpe.
As
mesmas análises dirigidas sobretudo a investidores fora do País
consideram o conjunto de forças do Centrão um fator de estabilidade. Em
outras palavras, um presidente como Bolsonaro,
que já não governa, está limitado em suas estripulias institucionais. E
Lula, que sem o Centrão não governa, estará contido em suas estripulias
econômicas (como reverter reformas trabalhista e previdenciária).
No
panorama geral, o próximo presidente lidará com um cenário
internacional perigoso, mas paradoxalmente favorável a grandes
produtores de commodities, como o Brasil. Considera-se que fatores
negativos como a inflação global, a subida de juros nas economias
centrais e o rompimento de cadeias produtivas globais (que aumentam
custos em todos os setores) serão mais do que compensados pelos preços
de produtos que latino-americanos exportam.
O
dólar a R$ 4,60 já seria o termômetro disso. Diante do que acontece
relacionado à guerra na Ucrânia – a retirada em massa de grandes
empresas da Rússia – e o agravamento das relações da China com o EUA e a
Europa, a América Latina em geral e o Brasil em particular estão sendo
vistos por investidores internacionais como lugares razoavelmente
“tranquilos” e “seguros”. Tem outro para onde ir?
As
mesmas consultorias de risco assinalam, porém, que os problemas de
fundo começam no pós-eleitoral brasileiro. O mais evidente deles é que
nenhum dos líderes nas pesquisas indicou até aqui como pretende tirar o
País da estagnação, marasmo em produtividade e medíocre crescimento
econômico das últimas décadas. E o “fator estabilidade” do Centrão é, ao
mesmo tempo, a garantia de que não surgirá nenhum grande impulso em
qualquer direção.
Relatórios
de análise de risco político e econômico de consultorias internacionais
dão menos ênfase a aspectos como “qualidade das elites dirigentes”,
“lideranças políticas” ou “ideias para o País” – para não falar em
qualidade da democracia e emburrecimento geral do debate. Quem faz
contas de retorno de investimento imediato tende a achar tudo isso
acadêmico e distante.
Mas
é o decisivo mesmo no curto prazo. Nesse sentido, o cenário de risco
político e econômico das eleições brasileiras é péssimo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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