É um erro subestimar esse combate, pois o que está em jogo é um conjunto de prerrogativas muito caras ao Ocidente. Ubiratan Jorge Iorio para a Oeste:
Está
em curso uma verdadeira guerra, talvez a mais perigosa de todos os
tempos, mas que parece ainda não ter sido devidamente identificada por
muita gente, porque está sendo travada veladamente. Trata-se do duelo —
ou, como está na moda dizer, da “polarização” — entre os globalistas,
defensores de um governo mundial centralizado, em que os conceitos de
nação, liberdade e propriedade são relativizados sob o pretexto, sempre
sedutor, da promoção do bem da humanidade, e os soberanistas, contrários
a essa visão, que sustentam a importância da preservação da autonomia
de cada nação e dos direitos naturais.
É
um erro subestimar essa refrega, pois o que está em jogo é um conjunto
de prerrogativas muito caras ao Ocidente, especialmente à vida, à
liberdade, à propriedade e à autonomia dos indivíduos perante o Estado.
Desnudar esse grande conflito, portanto, é uma atitude de legítima
defesa contra a monumental investida de uma turma que se acha dona do
mundo, está convencida de que pode guiar as nossas vidas e já vem
tentando fazer isso.
Globalização
e globalismo são fenômenos distintos, mas que costumam ser confundidos.
Enquanto a primeira é um processo salutar, cuja essência é a integração
econômica entre os países, o segundo encerra um âmago essencialmente
político e um autoritarismo inaceitável, que tem o objetivo de controlar
as relações entre indivíduos e empresas, mediante manejos e comandos
centralizados em pouquíssimas mãos.
A
substância do globalismo é a centralização mundial das decisões em
praticamente todas as questões: climáticas, culturais, comportamentais,
religiosas, econômicas, sociais e políticas, tais como a pandemia e suas
vacinas experimentais, a histeria do desmatamento e das mudanças
climáticas, as distorções sobre certos direitos de minorias, a tentativa
de caracterizar o aborto como questão de saúde pública, as hipocrisias
progressistas do racismo estrutural, do feminismo, da misoginia, da
homofobia e da transfobia e a grande fantasia da eliminação das
“desigualdades”, inclusive as naturais.
Para
os globalistas, a maneira correta de lidar com esses e outros problemas
é entregar suas soluções a uma burocracia supranacional, bancada por
bilionários supostamente humanistas, com poderes para impor legislações
sobre costumes e políticas econômicas uniformes sobre os 8 bilhões de
indivíduos que vivem no planeta. Em síntese, é a velha e carcomida
utopia com uma pintura de segunda mão — a Nova Ordem Mundial (NOM).
Para
compreender a quimera globalista, precisamos olhar para alguns pontos.
Primeiro, para o Fórum Econômico Mundial, formado por um pequeno grupo
com forte influência política e enorme capacidade financeira, que
acredita poder mandar e desmandar no mundo mediante a implantação
unilateral da Agenda 2030; segundo, para as organizações internacionais
que manipulam, como ONU, OMS, OCDE, OIT, FMI, Otan, Unicef e tantas
outras, que cada vez mais se parecem com enormes ONGs progressistas;
terceiro, para milhares de organizações privadas, incluindo
universidades, institutos e o meio artístico; quarto, para os partidos
de esquerda espalhados pelos continentes; quinto, para vários governos
de peso, como o dos Estados Unidos de Biden, o da União Europeia, o do
Canadá e o da Austrália; por fim, para a imprensa de todo o planeta,
comprada a peso de ouro, com poucas exceções. É um conjunto bastante
amplo e organizado — embora seus líderes o neguem, impedindo sua
transparência — que lhes permite brincar de donos do mundo e meter seus
narizes em nossas vidas e na política interna de quase todas as nações.
Autoritarismo do bem
Pretendem
esses “autoritários do bem”, com discursos politicamente corretos e
exalando o perfume sedutor das boas intenções, provocar o Grande Reset e
assim instituir a NOM, uma espécie de governo terrestre. Um troço
híbrido, um cacareco disforme que combine o tipo falsificado de
capitalismo que lhes convém com o controle político absoluto, mediante o
domínio das grandes redes do ciberespaço, cuja tecnologia lhes facilita
controlar os indivíduos mais acuradamente do que faziam os regimes
totalitários do passado.
É
uma grande ingenuidade acreditar que se trata de uma teoria
conspiratória e que o comunismo acabou no início dos 90, porque ele
apenas deu lugar ao neocomunismo ou neototalitarismo. O aviso importante
é que essa joça ditatorial é um perigo para todos nós, pela
concentração inédita de poder e dinheiro em mãos de uma elite
silenciosa, que já controla indiretamente os rumos de quase todas as
nações.
O
neocomunismo é apenas a repetição da mesma fraude, sempre propagando o
ódio dialético entre categorias: o grande inimigo da humanidade deixou
de ser o malvado patrão capitalista, agora é o eurodescendente, o homem e
a mulher heterossexuais, os que comem carne, o conservador que vai à
missa, o negro e o homossexual de direita, a classe média com duas
televisões em casa, quem venceu por mérito e esforço, o insensível que
reage a assaltos e outros fantasmas que superlotam a cabeça dos
doutrinadores, aceitos bovinamente por milhões de doutrinados incapazes
de pensar.
Você será feliz
As
previsões para 2030 do Fórum Econômico Mundial são assustadoras: “Você
não será dono de nada, e você será feliz; o que você quiser, alugará e
será entregue por drone”. Que pretensão descomunal e que autoritarismo
monstruoso é querer impor ao mundo inteiro o seu conceito particular de
felicidade. Mas não ficam apenas nisso os que se julgam donos de todos:
“Nós seremos os proprietários de tudo (até mesmo de seus corpos e dos
corpos dos seus filhos)”. E mais: “Você comerá muito menos carne”.
A
arrogância desses psicopatas é inacreditável. Você será feliz porque
nós estamos dizendo isso — e ponto final, aceite e não discuta. Você e
seus filhos, mesmo antes de nascerem, serão nossos; você não precisará
mais adorar o Deus de Israel e dos cristãos, mas a “mãe terra”; você só
vai poder se expressar no nosso dialeto politicamente correto; você
ficará feliz sabendo que vamos incutir a ideologia de gênero na cabeça
dos seus filhos; você odiará os brancos, heterossexuais — e também os
negros e homossexuais que não concordarem com os nossos padrões; e você
só vai se alimentar de capim, porque apenas nós vamos comer carne; mas,
fique tranquilo, tudo isso é pelo bem do planeta.
A
pandemia mostrou o poder dessa gente e o perigo que representa. Alguns
analistas ingênuos afirmam que a peste veio a calhar, como um maná caído
do alto; outros — mais desconfiados — a tratam diretamente como um meio
fabricado em laboratórios, visando a fins totalitários. O que se viu ao
longo da pandemia? Pode-se negar a transferência de dinheiro, de
trabalhadores e pequenos e médios empresários para os novos donos do
planeta? E também a cooptação e a instrumentalização da esquerda mundial
por essa gente que detém as maiores fortunas do mundo? E a pantomima de
políticos, aqui e alhures, soltando suas frangas totalitárias,
prendendo pessoas em casa, na praça e até na praia, fechando lojas e
fábricas, impondo focinheiras, picadas e passaportes com truculência,
mas em nome da “ciência”, com a cumplicidade de Cortes supostamente
constitucionais?
Valores ocidentais
A
utopia globalista é um meio para alcançar os objetivos totalitários de
dois grupos: o primeiro é o de bilionários interessados, por simples
ganância de mais riqueza e poder, em determinar como devemos nos
comportar, o que podemos e o que não podemos comer, falar e fazer; o
segundo é o movimento neocomunista internacional, que se locupleta em
dose dupla, ideologicamente e materialmente. O globalismo, portanto, é
uma ideologia que faz uso de uma equipagem burocrática monumental, de
âmbito global, centralizador e nada transparente, para controlar, impor,
gerir e conduzir os destinos do planeta para atender a um projeto de
poder.
E
os que chamamos genericamente de soberanistas, quem são? Trata-se de um
conjunto heterogêneo, formado por defensores da liberdade econômica,
por conservadores, pelos que se preocupam com a deterioração dos
valores, usos e costumes do Ocidente imposta pelos globalistas, por
governos que se recusam a ceder às imposições e, também, embora com
motivações diferentes, por Putin, que, por sinal, está mais preocupado
em defender o seu território do que em lutar por liberdade e valores
ocidentais. Quanto à China, pode-se dizer que faz jogo duplo e que está
de olho em tudo, tendo em vista que seu objetivo é também implantar uma
nova ordem, desde que seja chinesa — ou melhor, a do Partido Comunista.
De
modo geral, os soberanistas enfatizam a importância das instituições
nacionais e do Estado nação. Não se trata de apego extemporâneo ao velho
nacionalismo ingênuo e xenófobo, aquele “sarampo da humanidade” ao qual
se referiu Einstein há mais de cem anos, mas simplesmente de opor-se e
resistir a um novo e perverso conceito de sociedade, formada por
indivíduos quase que perfeitamente homogêneos, por bonequinhos
manipulados para serem servos obedientes de um Estado planetário e para
se afastarem dos princípios, dos valores e das instituições que se
desenvolveram secularmente, como ordens espontâneas e de maneira
natural.
Clube dos bilionários
Ser
soberanista, nessas circunstâncias, é insistir na primazia da vontade
própria e do direito de viver conforme cada indivíduo julgar mais
apropriado, obviamente respeitando as leis que resguardam os direitos de
terceiros, mas com liberdade para decidir o que é melhor para si e sua
família e escolher o que deseja comprar, vender, emprestar, ler,
assistir, pensar, comer, trajar e beber, mandando às favas o que os
Gates, Zuckerbergs, Soros, Lehmanns, Scholz, Trudeaus e Macrons da vida,
assim como as ONUS, OMS e Otans querem ditatorialmente lhe impor.
É
preciso ter em mente que tanto a pandemia como a questão delicada da
Ucrânia são manifestações desse avanço dos globalistas. Tendo o patético
Biden e a União Europeia à frente e o clube dos bilionários na
retaguarda e sentindo que o fim da pandemia iria impedir que o seu
projeto totalitário se concretizasse, os modernos engenheiros sociais
partiram para outra frente, ameaçando fazer a Otan cercar a caverna do
urso.
Então
a fera — Putin, um soberanista arraigado — respondeu com bombardeios,
algo que era perfeitamente previsível e, portanto, provavelmente
desejado pelos globalistas; estes, além de municiarem e armarem o também
patético presidente ucraniano que lhes serve de capacho, passaram a
impor sucessivas sanções contra a Rússia, que não produziram o efeito
desejado. Às vidas ceifadas pela pandemia, atribuídas aos “negacionistas
de extrema direita” (entre eles o presidente do Brasil), somam-se agora
as de ucranianos inocentes, lançadas na conta de Putin, quando o maior
inimigo da humanidade — a verdadeira causa — é o projeto totalitário dos
globalistas.
O
governo brasileiro, pelo seu empenho indiscutível em defender a
liberdade, a economia de mercado, os princípios morais genuinamente
ocidentais e a soberania do país, vem sendo uma enorme pedra no sapato
dos globalistas. Não parece exagerado dizer que o nosso país, desde que a
administração dos Estados Unidos passou às mãos de pessoas extremamente
incompetentes e mal-intencionadas, atualmente, depois da Rússia e da
China (embora por motivos diferentes), tem sido o maior obstáculo ao
projeto da NOM. Isso explica a histeria mundial, tanto por parte dos
gregos entrincheirados nas big techs, nos organismos internacionais e
nos governos de esquerda, como da parte dos troianos tupiniquins
alojados no cavalo “progressista” — com e sem mandatos legislativos ou
togas —, em influir nas eleições brasileiras deste ano.
Não
podemos aceitar que nos roubem a liberdade, e é isso que está em jogo,
no Brasil e no mundo. A História nos ensina exaustivamente que, uma vez
perdida, para recuperá-la depois é sempre muito difícil.
Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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