Será que o ministro Barroso poderia vir a público condenar essa divulgação de fake news sobre brasileiros? Ou será que ele vai interpretar a Constituição para decidir que não tenho cérebro e sou perigosa? Bruna Frascolla para a Gazeta do Povo:
O
primeiro dos que trabalham nesta Gazeta a ter a cabeça pedida pelo
grupo anônimo Sleeping Giants foi Rodrigo Constantino. A estratégia de
pedir a cabeça dele a esta empresa não funcionou; e demais empregadores,
covardes, acabaram o demitindo e depois voltaram atrás. Os Sleeping
Giants acabaram alçados à notoriedade no debate público.
Trata-se
de um perfil do Twitter com cerca de 477.000 seguidores (lembrando que
sempre pode haver robô) que fica exigindo às empresas a cabeça dos
cidadãos que cometem crime de opinião. Constantino, em particular, foi
acusado de defender o estupro da própria filha. Isso é baixo, e é uma
vergonha que tenham chegado a demiti-lo com base nessa acusação tão
disparatada quanto sórdida. O perfil fazia isso de maneira anônima. Esta
Gazeta cobrou a identidade de tais pessoas, publicou matéria sobre uma
ONG ligada ao Sleeping Giants que recebe um monte de doações
milionárias.
Como
o anonimato é proibido pela Constituição (ao menos por enquanto), foram
apresentados os nomes de um casal paranaense jovem e pobre como
responsáveis pelo perfil no Twitter. Não muito tempo depois, o Sleeping
Giants foi atrás do apresentador Sikêra Júnior e do jogador Maurício
Souza.
Sikêra
perdia uma montanha de patrocinadores até bolar um ardil para pegar os
tuiteiros: anunciou como patrocinadora do seu programa uma ótica
manauara que não existe, criou para ela perfis em redes sociais e
esperou os “clientes” do Sudeste dizerem que numa mais voltariam à ótica
em Manaus de que eles tanto gostavam, já que ela infelizmente patrocina
um homofóbico. Depois pegou os números e tomou medidas judiciais. Aos
demais patrocinadores, ficou a prova: os boicotes são falsos. Os
departamentos de marketing devem ignorar tais ameaças.
O
caso do jogador Maurício Souza também não deu muito certo. Ele saiu por
cima, inclusive do ponto de vista financeiro. Patrocinadores choveram,
seu caso causou comoção e uma carreira política tornou-se viável para o
jogador já próximo à idade de aposentadoria.
Jonathan
Haidt, psicólogo social, crê que o horror à tirania seja um valor inato
à humanidade. Em algum momento, nossos ancestrais simiescos teriam
desenvolvido um instinto que os leva a cooperar para matar um chefe
opressivo demais. Creio que os tiros do Sleeping Giants tenham saído
pela culatra e despertado esse instinto na maioria da sociedade. Se na
sociedade não deu certo, restou ao grupo pedir a cabeça ao Twitter. Fez
isto denunciando o colega Guilherme Fiuza por “fake news” e exigindo que
o Twitter apagasse a conta dele. Fiuza tem se destacado na denúncia
enfática e bem embasada dos crimes cometidos contra os direitos humanos
em nome segurança sanitária. É também um dos poucos a dar um rosto às
vítimas da vacina experimental.
Falta de vergonha é pior que covardia
Estávamos
nós gravando o podcast “O papo é” desta Gazeta quando, naturalmente, o
assunto foi trazido. Estamos todos carecas de saber que o Sleeping
Giants é covarde, e não custa dizer que é covarde. Ao contrário:
covardes precisam ser chamados de covardes. Fiuza mostra sua face e o
Sleeping Giants não.
Mas,
porém, contudo, todavia, nada é tão ruim que não possa piorar. De um
ponto de vista moral, é confortável a situação em que Fiuza mostra a
cara, orgulhoso do seu trabalho, e o Sleeping Giants, mesmo com milhões
por detrás e com o apoio formal do TSE, se esconde nas sombras. O mundo
moral está em paz, com os maus atestando a própria maldade. Eles têm
vergonha porque sabem que estão errados.
Estava
eu então ouvindo essas condenações morais aos achacadores enquanto
olhava o perfil no Twitter. Devo dizer que o Sleeping Giants divulga os
tuítes de gente que tem tanto orgulho de mostrar a cara quanto Fiuza. E
entre essa gente lá estava um orgulhoso Renan Brites Peixoto,
autodeclarado “jornalista da GloboNews e da TV Globo”, que tuitara o
seguinte a respeito de Bárbara do “Te Atualizei”: “Essa negacionista vem
me atacando há meses. Seus seguidores, sem cérebro, são raivosos e
perigosos. Passaram a pandemia atrapalhando o trabalho da imprensa.
Twitter, ela não merece selo azul. Merece uma tornozeleira eletrônica.
#TwitterApoiaFakeNews #Twitter omisso.” Abaixo estava o trecho de um
vídeo em que Bárbara lê em voz alta um tuíte do próprio Renan Peixoto.
Esse homem se sente ameaçado por uma mulher desarmada no sofá lendo em voz alta no sofá um tuíte dele. Pede a prisão dela.
O
jornalista teve o tuíte divulgado pelo Sleeping Giants, cuja
legitimidade o TSE reconheceu ao acatar seus conselhos. O jornalista
disse que a audiência de Bárbara é perigosa e sem cérebro. Isso
desumaniza. Esse senhor está dizendo que sou uma mulher perigosa e sem
cérebro, bem como, provavelmente, o assinante desta Gazeta, já que
Bárbara tem participado do programa "Hora do Strike" com Cristina
Graeml.
Será
que o ministro Barroso poderia vir a público condenar essa divulgação
de fake news sobre brasileiros? Ou será que ele vai interpretar a
Constituição para decidir que não tenho cérebro e sou perigosa?
O
tuíte de Renan Peixoto não está mais disponível porque ele fechou o
perfil. Mas sigamos com o Sleeping Giants: encontramos a figurona da
Agência Lupa comemorando o fato de o Ministério Público pressionar o
Twitter para tirar o selo azul de Bárbara. Vemos também Natuza Nery, da
GloboNews, apoiando o grupo.
Sugiro que o TSE oriente essas senhoras a não promover um perfil que divulga fake news e promove o ódio.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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