Putin forçou o regresso da história. O conflito armado voltou a ser parte do método negocial na Europa, e a diplomacia à porta fechada o método mais produtivo. Madalena Meyer Resende para o Observador:
Apesar
do recomeço das negociações entre os EUA (e a NATO) e a Rússia depois
de uma semana inconclusiva, o caminho para uma ação militar por parte da
Rússia torna-se mais provável. Na semana passada, as sessões de
negociação acabaram num impasse, bloqueadas pela exigência da Rússia de
que a NATO se comprometa por escrito e “artigo por artigo” às suas
propostas, que visam restaurar a esfera de influência que a Rússia
gozava na era soviética na Europa.
Três
coisas parecem claras: primeiro, que Putin conseguiu provocar a
negociação direta com os EUA sobre a definição das esferas de influência
na Europa; segundo, que os Estados Unidos não estão dispostos a aplicar
a força máxima contra a investida de Putin com receio de um estreitar
da aliança da Rússia com a China; terceiro, que Putin está a maximizar a
pressão sobre a Casa Branca antes de decidir sobre o próximo passo a
tomar.
Isto
quer dizer que o caminho diplomático para evitar um conflito na Europa
Oriental ainda não está fechado. Contudo, a dificuldade na resposta
atual da Casa Branca à investida de Putin advém de questões de
estratégia e de timing. A questão de estratégia, prende-se em ser
difícil prever o comportamento da Rússia: estamos perante uma diplomacia
coerciva ou é este o prelúdio de uma invasão real, que pode alargar o
controle da Ucrânia Oriental ou ir até Kiev? As opiniões dividem-se nos
EUA e na Europa.
A
questão do timing não é de somenos importância. Do lado Ocidental, e
apesar das divergências entre Europeus e os EUA, todos concordam que a
adesão da Ucrânia à NATO não está em cima da mesa e que há mérito em
abordar as preocupações de segurança de Putin sobre a Ucrânia. Contudo,
negociar sob a ameaça de um revólver é humilhante: o Ocidente não pode
estabelecer as fronteiras da NATO e da UE voluntariamente, e os sinais
de fraqueza que demonstrar serão sempre explorados por Moscovo.
Putin
forçou assim o regresso da história, acabando definitivamente com o
período pós-Guerra Fria. O conflito armado voltou a ser parte do método
negocial na Europa, e a diplomacia à porta fechada o método mais
produtivo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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