BLOG ORLANDO TAMBOSI
Presidente da perpétua república da corrupção impune se concretizará, se a polarização se confirmar na reeleição. José Nêumanne para o Estadão:
Há
seis anos a república da impunidade reinante no Brasil sofreu profundo
abalo com a consequência prática produzida pela adesão do País,
governado em sequência por Fernando Henrique, Lula, Dilma Rousseff e,
até certo ponto, Michel Temer, a acordos internacionais de combate à
corrupção. A atuação de procuradores da Operação Lava Jato, juízes
federais como Sérgio Moro e Marcelo Bretas e do Tribunal Federal da 4.ª
Região, em Porto Alegre, levou a consequências inusitadas, como a prisão
de um empresário tope (e torpe), a condenação do mais popular
ex-presidente da República e penas de 400 anos para um ex-governador. A
adoção da delação premiada, a permissão de condenação de réus, após a
segunda instância, e uma onda de popularidade de agentes do Estado
envolvidos nessa ação, contudo, não impediram a sabotagem de chefões
partidários e funcionários dos altos escalões de polícias e tribunais
superiores as destroçarem em três anos do desgoverno da extrema direita
deficiente e delinquente. Hoje, a elite dirigente política nacional
suspeita, processada, condenada e aprisionada pisa nos destroços desses
esforços abandonados pela cúpula dos Três Poderes da República aviltada.
O
ápice da vitória consagradora dos réus acusados e condenados em dois
grandes processos julgados no Supremo Tribunal Federal (STF) é o
processo eleitoral em trâmite das eleições gerais deste ano, em que se
elegerá o sucessor no poder máximo. A julgar pelo que contam as
pesquisas de opinião, Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente por dois
mandatos e grande inspirador da titular eleita para mais dois, mas que
perdeu metade do segundo num processo de impeachment baseado em mágicas
fiscais de fazerem Houdini e Paulo Maluf corarem de vergonha por nunca
terem chegado a tanto. O segundo candidato à reeleição propriamente
dita, Jair Bolsonaro, como o oponente provável no segundo turno previsto
pelas pesquisas, escapou de carregar capivara e prontuário na campanha,
que promete ter nível abaixo da crítica, mercê do foro privilegiado
propiciado pelo mandato presidencial. Assim como os filhos zero-zero-um,
o Flávio, e zero-zero-dois, o Carlos. Mas, segundo revelou seu
ex-segurança e tesoureiro, hoje deputado federal, Julian Lemos, no
Nêumanne entrevista, publicado no sábado, 14 de janeiro, no Blog do
Nêumanne no portal do Estadão, está longe de ter ser uma vestal grega.
Certo
é que ambos estão cometendo crimes de várias espécies na disputa do
pleito presidencial, a serem julgados na Justiça Eleitoral, embora seus
doutos membros não pareçam muito dispostos a punir, em campanhas
descaradas. Lula, por exemplo, recebeu apoiadores em jantar na semana
passada, no qual um grande criminalista paulistano, o célebre Antônio
Cláudio Mariz de Oliveira, repetiu, só que agora de forma mais explícita
e em tom mais candente, o lema que bem pode servir de base teórica, não
apenas para a disputa atual, mas também para a terceira gestão dele e
sexta do partido na república perpétua da corrupção legalizada: “O crime
já aconteceu, de que adianta punir? (...) Que não se ache que a punição
irá (sic) combater a corrupção”.
O
interessante é que essa afirmação coincidiu com outra, feita pelo
candidato oposto, Jair Bolsonaro, que acrescentou a suas mentiras
proferidas em quantidade astronômica uma que pode ser encontrada em
qualquer arquivo analógico: a de que jamais prometeu combater a
corrupção. Como se houvesse outra explicação razoável para a escolha do
ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, para seu governo, agora prestes a ter
expelido outro apêndice, o discípulo do tirano chileno Pinochet, que
anda por aí enrolando farialimers, para usar termo da moda no noticiário
político e econômico da campanha, Paulo Guedes, ex-Posto Ipiranga,
atual calo do liberalismo fake, no qual o sindicalista do soldo de
caserna jamais foi sequer vendedor de feira livre.
O
interessante nessas coincidências que fazem do bolsolulismo o produto
em voga do mercado eleiçoeiro da república da corrupção perpétua é que a
frase aplaudida com entusiasmo no palanque-banquete da prosperidade
própria em nome do socialismo dos militontos também tem usufruto a peso
de ouro nas motociatas abandonadas do fascismo de botequim da direita
estupefaciente, cujo mito/minto nunca passou de um capitão-terrorista.
As palavras do jurista favorito dos garantistas do STF, muito ao gosto
do lulismo de militantos, cabem muito bem nos votos de solta-solta do
general Gilmar, do extinto tucanismo de longo bico e ventre gordo,
assegurando, em teoria, a passagem pelo segundo turno da polarização
conveniente para a concessão quadrienal de indulgências plenas do reino
do venha a nós e o resto que se dane, em cujo trono um se senta e o
outro fica esperando a vez e ocupar.
Urge
compreender que a corrupção da república perpétua só tem a oferecer
fome, miséria e ruínas a quem não é convidado nem para lamber as
migalhas do banquete exclusivo das elites dirigentes, do qual são
excluídos aqueles que os carcarás perpétuos do “pega, mata e come”
renegam desde sempre. E assim não seja mais!
JORNALISTA, POETA E ESCRITOR
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