MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Não, nem tudo é relativo.

 



Muitas vezes falei neste blog contra o relativismo. Tentarei explicar qual é a minha bronca com os relativistas em geral. Não acho que tudo seja relativo, nem considero que tudo seja absoluto. Há nuances.

Ninguém foi tão iluminante ao caracterizar as diferenças entre relativo e absoluto quanto o saudoso Robert Nozick (falecido em 2002, e do qual só foi traduzido aqui o juvenil Anarquia, Estado e Utopia, livro que já o irritava). Sua última obra, Invariâncias, traça o seguinte quadro:

Relativismo radical - "todas as verdades são relativas";
Relativismo brando - "algumas verdades são relativas";
Absolutismo radical - "todas as verdades são absolutas";
Absolutismo brando - "algumas verdades são absolutas".

Se você quiser, pode substituir a palavra "verdade" por "conhecimento". Ora, algumas verdades (ou conhecimentos) são, de fato, relativas a um indivíduo: sei qual a parte do corpo que me dói. Mas há verdades que são absolutas, isto é, objetivas, universais: a biologia e a física da América do Sul não são diferentes da biologia da Rússia ou da China. O DNA é DNA em qualquer lugar, assim como a tabela periódica dos elementos.

O que o epistemólogo Nozick (que estava longe de ser somente o filósofo político da juventude) mostra muito bem é que há compatibilidade entre um relativismo brando e um absolutismo igualmente brando. As verdades ou conhecimentos das ciências são absolutas (principalmente as das ciências formais, como a matemática e a lógica), isto é, valem para todos. Mas o reconhecimento dessas verdades não elimina as verdades relativas, isto é, os conhecimentos relativos a uma pessoa ou grupo.

Ocorre que os conhecimentos relativos a uma pessoa ou grupo podem - e devem, em casos exigidos - se tornar objetivos, universais: se eu relato em uma reportagem aspectos de uma cidade que só eu conheço, transformarei isto em conhecimento universal, desde que isto possa ser checado por qualquer pessoa, comprovando a verdade ou falsidade de meu relato.

O problema - eis a minha bronca - é que predomina nas ditas ciências humanas e sociais o relativismo mais radical, que é um narcótico. Onde ele perdurar, não há ciência, já que, para esta postura nefanda, todas as verdades ou conhecimentos são relativos a indivíduos, grupos, tribos, sistemas, culturas, países etc. A ciência é universal ou não é ciência. Resumindo: em relação a métodos, o que só vale para a América Latina - ou para a Europa - não é ciência, mas ideologia (e haja saquinho, por favor!). 

(Post publicado há anos no blog)

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