MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 25 de dezembro de 2021

O politicamente correto como "forma de destruição do pensamento"

 



Os jovens das gerações millennial e Z, o ambiente tóxico das universidades e a pandemia de coronavírus foram alguns dos temas abordados por Luiz Felipe Pondé em entrevista à revista Oeste:


A utor do Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, entre outras dezenas de obras, Luiz Felipe Pondé nasceu no Recife, em 1959. Depois de trocar a medicina pela filosofia, ele se tornou defensor do pensamento liberal-conservador, que abrange ideias de autores como David Hume, Adam Smith, Edmund Burke e Theodore Dalrymple, entre outros.

Na conversa com Oeste, Pondé criticou a cultura woke, a doutrinação ideológica dentro das universidades, o movimento antitrabalho, o feminismo e, claro, o politicamente correto. “O debate está polarizado demais”, disse. “Essas discussões sobre banheiro disso e banheiro daquilo são muito ridículas. Tenho a impressão de que, se a moçada de hoje tivesse de invadir a Normandia, ela faria xixi nas calças.”

Confira os principais trechos da entrevista.

O que o senhor acha do politicamente correto e da cultura woke?

O politicamente correto é uma forma autoritária de domínio da linguagem e de destruição do pensamento que só atrapalha o debate público. Sobre a cultura woke, acho um porre, uma besteira. Coisa de menino de país rico ou de classe média alta. Trata-se de gente preocupada com pronomes neutros, meio ambiente, múltiplos gêneros, mas que não arruma a própria cama. A cultura woke é muito business. Se o mundo não der muito errado, nossa época vai dar apenas um parágrafo daqui a 500 anos.

Nos Estados Unidos e no Reino Unido, surgiu o movimento antitrabalho, capitaneado por jovens das gerações millenial e Z. Como o senhor enxerga isso?

O movimento antitrabalho é coisa de gente que vai ser financiada pelo Estado no futuro ou tem grana. Não há como viver sem o trabalho, a não ser que alguém pague as suas contas. Tanto no Brasil quanto nos EUA e no Reino Unido, a competição no capitalismo está cada vez mais violenta, e os jovens de hoje foram tão moldados na ignorância que, quando veem a vida como ela é, entram em choque. Os jovens conhecem pouco da vida, vivem mais de sonhos que de realidade e são propensos à ideologização. A vida sempre foi dura, cruel e sem grandes soluções. Soma-se a isso a propagação de várias utopias, que quebram as pernas de pessoas em processo de amadurecimento, porque as lança em um mundo de fantasia. Quando deparam com os fatos, desistem de tentar enfrentar o mundo. Isso se traduz em vários livros de millennials que tratam do “burnout”. Todos pregam o antitrabalho e sugerem uma nova forma “menos dura” de ganhar dinheiro e que faça mais sentido. Dessa forma, podem encontrar a “felicidade” em outro lugar. O discurso antitrabalho só rende se o sujeito virar palestrante contra o trabalho, como vários vêm fazendo.

O que o senhor pensa sobre as universidades brasileiras?

Tradicionalmente, as universidades são críticas ao status quo. Elas têm vocação para criar atrito com instrumentos de poder. No Ocidente, acabaram se alinhando a movimentos sociais de esquerda, com críticas ao capitalismo e a determinados governos. Ao analisar o Brasil, constata-se que a ditadura militar acabou formando a esquerda que temos quando entregou o controle das faculdades aos chamados “progressistas” da época. Portanto, em um contexto de Guerra Fria, os centros acadêmicos incorporaram ideias ligadas à China e à União Soviética. Atualmente, a esquerda brasileira está ligada à norte-americana. As universidades se tornaram ambientes tóxicos e autoritários, onde não há debate, mas, sim, brigas corporativas internas.

Qual a sua avaliação sobre os movimentos feminista e LGBT?

Na origem, o feminismo surge em meio aos processos revolucionários do século 19, como o sufragismo e o sindicalismo. Está relacionado à emancipação da mulher propriamente dita. O movimento, contudo, vai se tornando mais identitário, com a absorção de ideias de pessoas como Simone de Beauvoir, entre outras pensadoras. Surgem, então, termos como “masculinidade tóxica” e a crítica se estende à linguagem. O movimento LGBT é mais recente e deve a sua existência à publicidade americana, que viu nos gays um importante nicho de mercado. Pessoalmente, avalio que as pautas identitárias flertam com certo totalitarismo de censura da linguagem. Dos anos 1980 para cá, a esquerda ficou viúva da União Soviética e da utopia proletária. Assim, começou a procurar outros nichos ideológicos, apropriando-se das pautas identitárias, que acabaram herdando o temperamento autoritário bolchevique. Com isso, deságuam no que estamos vendo hoje: o policiamento de ideias, de pessoas não poderem escrever ou discutir determinados assuntos. No Brasil, perdeu-se a oportunidade histórica de se fazer uma crítica decente a isso. O bolsonarismo, por exemplo, não conseguiu, apenas transformou a crítica em boçalidade.

Para o senhor, o que é a ideologia de gênero?

A teoria de gênero sustenta que só há componentes sociais na construção da identidade de um ser. No entanto, ao argumentar que não há elementos da evolução do ser humano nesse processo, a teoria de gênero se transforma em militância radical. A partir daí, ela vai para as escolas e a educação se torna uma loucura, porque ninguém entende essa teoria direito. Pós-década de 1960, isso se tornou mais uma ferramenta para moldar a cabeça dos jovens, ainda em processo de formação intelectual. Em alguns Estados dos EUA, por exemplo, proíbem os jovem de tomar bebidas alcóolicas antes dos 16 anos, mas deixam um garoto de 15 anos retirar o próprio pênis.

Como será a sociedade no pós-pandemia?

Vai depender se conseguiremos desmantelar a pandemia como uma commodity. Se conseguiremos parar de fazer propaganda de variantes ao escrever manchetes do tipo “cepa potencialmente mais infecciosa” ou “mais resistente à vacina”. Dependerá da responsabilidade dos agentes públicos, da academia e da mídia. Isso pode demorar. Talvez não seja possível tirar imediatamente o home office, viajar e lidar com a paranoia de alguns países. Mas, se a história seguir o seu curso, provavelmente a humanidade se recuperará, como o fez no passado.

O que é ser conservador?

É ter um olhar cético à modernização e não o olhar romântico do afeto e do mal-estar. O pensamento conservador, da forma como ele me interessa, é a tradição de Edmund Burke, de David Hume e de Michael Oakeshott. Em suma, ser conservador é alguém que toma cuidado com as muitas utopias político-sociais que a modernização trouxe.

O mundo está muito chato?

Sim. Há muita falação. Todo mundo tem opinião sobre tudo. O debate está polarizado demais. Essas discussões sobre banheiro disso e banheiro daquilo são muito ridículas. Tenho a impressão de que, se a moçada de hoje tivesse de invadir a Normandia, ela faria xixi nas calças.
 
BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

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