J.R.Guzzo
Gazeta do Povo
O Sete de Setembro veio e foi embora, e as dúvidas que existiam antes mudaram de natureza e de lugar, mas continuam presentes. Antes, a incógnita era: o presidente Jair Bolsonaro vai conseguir mesmo levar multidões para a rua, em seu apoio e contra os seus inimigos?
Isso deixou de estar em discussão: sim, o presidente conseguiu levantar a massa e comandou as maiores manifestações públicas que o Brasil já teve desde a grande onda do “Fora Dilma” em 2016. A questão que se coloca agora é outra. Para que vai servir, na prática, esse apoio todo?
GUERRA ABERTA – Bolsonaro está em guerra com o Supremo Tribunal Federal, e o Supremo Tribunal Federal está em guerra com ele. A presença do povo na rua no Sete de Setembro não parece ter alterado, neste momento inicial, as posições relativas de cada um no confronto.
Sim, Bolsonaro mostrou que a queda da sua popularidade, anunciada pelos institutos de pesquisa e festejada pelos inimigos, não resistiu ao seu primeiro grande teste diante da realidade – ninguém consegue, ao mesmo tempo, estar com a popularidade no chão e lotar a Avenida Paulista como ele lotou – a Paulista e mais uma porção de lugares.
Ao mesmo tempo, não há sinal de que o STF, com multidões ou sem, vai amaciar o seu tiroteio contra o presidente.
INIMIGO Nº 1 – O ministro Alexandre de Moraes, atualmente o inimigo número 1 de Bolsonaro, não vai “pedir para sair”, como recomendou Bolsonaro num dos seus discursos – aproveitando, aliás, para dizer que Moraes deveria deixar de ser “canalha”.
O resto do STF, da mesma forma, não vai mudar de atitude porque a Paulista encheu – o povo, aí, pode protestar, mas não tem força para mudar realmente alguma coisa na prática.
O mundo político, por sua vez, está perdido – não acredita em si próprio, não tem coragem para nada, não é capaz de dar uma única ideia útil, não tem lideranças e só está fingindo atividade, enquanto espera para se juntar ao lado que ficar mais forte.
PRESENTE E FUTURO – Na verdade, a presença da massa na rua parece capaz de influir menos o presente do que o futuro. Bolsonaro forte na avenida é impeachment fraco no Congresso. Eis aí, ao que parece, o principal efeito das manifestações do Sete de Setembro – o impeachment, única maneira indiscutivelmente legal de afastar um presidente (fora as eleições, é claro), precisa conseguir dois terços dos votos dos deputados federais e dos senadores, e isso é tanto mais difícil quanto mais gente Bolsonaro reunir na praça pública.
O mecanismo funciona dos dois lados. Nos casos de Dilma Rousseff e de Fernando Collor, a situação era oposta: a população, nas duas ocasiões, estava na rua para cobrar o impeachment. Deu no que se sabe.
Ninguém vê nenhuma possibilidade de multidões na Avenida Paulista, na Esplanada dos Ministérios ou na praia de Copacabana exigindo o impeachment de Bolsonaro – não depois do que houve no Sete de Setembro. A guerra continua, portanto. Temos um futuro embaçado pela frente.
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