
Ivanildo confirmou pagamentos ao ex-diretor Roberto Dias
Deu em O Globo
Parecia que a CPI da Covid tinha murchado e que dali não sairia mais nenhum indício de maracutaia no governo Bolsonaro. Pois os últimos dias trouxeram dois personagens que desmentiram essa percepção. Eles comprovam o sucesso da estratégia “siga o dinheiro”, adotada pelos parlamentares desde o final do recesso.
Esses personagens prenunciam o que poderá ser um relatório final devastador para o presidente Jair Bolsonaro. O primeiro é o motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva. O segundo é o lobista Marconny Albernaz de Faria.
MOTOBOY CONFIRMA – Em depoimento na quarta-feira, Ivanildo afirmou atuar desde 2009 para a VTCLog, empresa com contratos sob suspeita no Ministério da Saúde, envolvida na negociação nebulosa para a compra da vacina Covaxin. Confirmou ter feito saques de até R$ 430 mil, como descrevia relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), segundo o qual retirou ao todo R$ 4,7 milhões. Depois, disse que usava o dinheiro para “pagar boletos”.
Boletos de uma empresa do mesmo grupo da VTCLog foram emitidos em nome do então diretor de Logística do ministério, Roberto Dias, 11 dias depois de uma manobra transferir um contrato milionário da VTCLog para a área comandada por ele.
COINCIDÊNCIA DE DATAS – Os senadores apontaram a coincidência entre as datas e os horários em que esses boletos haviam sido pagos e imagens de Ivanildo nas agências bancárias onde foram registradas as operações. Em nota, a VTCLog afirmou que as imagens haviam sido “maldosamente editadas”. Diante dos senadores, Ivanildo confirmou serem dele mesmo.
A CPI tenta fechar o vínculo entre o escândalo da Covaxin e o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), a quem se atribuem a indicação de Dias e uma capacidade de influência suficiente para Bolsonaro fazer vista grossa às maracutaias. Seu depoimento à CPI, tenso, foi encerrado abruptamente, e ele passou à condição de investigado. Não se sabe até onde levará esse fio condutor da investigação.
Desde quinta-feira, dia 2, apareceu também um outro que parece promissor. Estava marcado o depoimento de Marconny Albernaz de Faria, tido como lobista da Precisa Medicamentos, empresa investigada por contratos suspeitos quando Barros era ministro da Saúde e intermediária nas negociações para a compra da Covaxin. Só que Marconny não compareceu, sob a alegação de estar internado.
CONDUÇÃO COERCITIVA – A CPI acionou a Polícia Legislativa para conduzi-lo sob coerção. Na véspera, o jornal Folha de S.Paulo tinha revelado que ele ajudara Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente, a abrir uma empresa.
Os dois trocaram mensagens no WhatsApp. O telefone da empresa de Jair Renan registrado na Receita Federal é o mesmo do escritório do advogado de Marconny, que trocava mensagens também com Karina Kufa, advogada do presidente Jair Bolsonaro.
Na CPI,. Jair Renan não é alvo de investigação, e não há nenhum indício de que esteja envolvido com o Ministério da Saúde. Mas sua proximidade com Marconny promete trazer ainda mais dores de cabeça ao pai.
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