MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 19 de setembro de 2021

Bolsonaro está empurrando o próprio Centrão a buscar uma alternativa eleitoral a ele

 



Charge do João Bosco (O Liberal)

William Waack
Estadão

O único golpe bem-sucedido até aqui foi o do Centrão e é quem parece que sairá vitorioso, não importa a próxima campanha eleitoral. Essa denominação para forças políticas diversas e sua forma de atuação existe há mais de 30 anos, mas a República do Centristão tem como fundador Jair Bolsonaro.

Esses agrupamentos políticos que trabalham em busca de acomodação nos cofres públicos (ou pedaços da máquina pública, o que vem a dar no mesmo) conquistaram sob Bolsonaro ferramentas de poder que jamais tiveram. Capturaram o orçamento – incluindo gorda fatia dos gastos discricionários – e estão promovendo o retrocesso das regras eleitorais em benefício próprio. São os donos de fato da agenda política.

AGENDA NACIONAL – Dinheiro e as regras do jogo garantem a consolidação desses grupos no centro do poder. A noção de “agenda nacional” por parte desses partidos e seus caciques se manifesta de forma abrangente somente para cuidar de seus interesses mais imediatos, e isso se dá tanto no plano de “políticas públicas” como no plano de plataformas eleitorais.

Caso emblemático é o show que o presidente da Câmara armou para examinar política de preços de combustíveis pela Petrobras. Gasolina cara e inflação alta atrapalham políticos em qualquer lugar e época – dos dois Poderes.

Há relatos conflitantes quanto ao grau de coordenação entre Legislativo e Executivo nessa tentativa de reedição do que há de pior na interferência populista na formação de preços básicos, disfarçada de preocupação social, mas a convergência de interesses é fato objetivo.

BOLSONARO NÃO ENTENDE – Difícil para os caciques do Centrão continua sendo entender como Bolsonaro não entende um fato tão evidente da política. Assim, esses seres perfeitamente racionais (em contraste com o presidente), dominando instâncias decisivas no próprio Planalto, esses experientes operadores políticos desistiram da empreitada de decifrar Bolsonaro, que evidentemente consideram útil no curto prazo – contanto que ele pare de promover outros “7 de Setembros” (sempre uma dúvida).

A grande incerteza e a imprevisibilidade associadas a Bolsonaro promoveram no coração do Centristão certa urgência em procurar saídas para os comportamentos do atual mandatário, sem considerar a eventualidade de um impeachment em função de algum “freak event”.

Nesse sentido, parte relevante do Centrão e algumas das principais elites dirigentes na economia e sociedade civil estão em sintonia.

ALTERNATIVA ELEITORAL – Assim, a óbvia “saída” do Centrão para o que mais detesta, a imprevisibilidade, está em encontrar alternativa eleitoral a Bolsonaro. Ou seja, é grande a probabilidade de que a tal terceira via surja por ali, provavelmente numa grande concertação política.

É o que indicam movimentações de fusão de partidos (PSL e DEM) e conversas entre operadores de várias tendências (centro-esquerda e centro-direita).

O pressuposto de todos é o de que há um enorme espaço eleitoral a ser ocupado por agremiações políticas experientes, e que ainda existe tempo para isso.

ESTÁ DESMORALIZADO – Bolsonaro deu impulso às forças adversárias ainda difusas e desarticuladas, ao se desmoralizar nos eventos em torno do 7 de Setembro, que demonstraram não só a incapacidade de operar um golpe, mas, sobretudo, a inexistência de qualquer plano para o País.

Ele jogou definitivamente as elites dirigentes para uma espécie de “lado de lá” da linha divisória entre o tolerável e o inaceitável – e transformou-se em intragável.

O Centristão foi fundado como consequência que não era inevitável da onda disruptiva de 2018, que não tem condições de ser repetida no ano que vem. Falta principalmente o “impulso”, o “ímpeto”, que Bolsonaro acabou representando, e o “anti” se divide entre mais de um alvo. É hora dos profissionais. O Centristão não depende de Bolsonaro

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