BLOG ORLANDO TAMBOSI
Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais desta quarta-feira:
Esta
é uma história que nada tem a ver com o Brasil, embora nos dê lições.
Nas décadas de 1920 e 1930, o nazismo estava longe de ser o partido mais
forte da Alemanha. Maiores eram a Social-Democracia (SPD) e o Comunista
(KPD), ambos fortes no movimento operário. O KPD, de extrema-esquerda,
considerava que seu principal adversário, por buscar adeptos no mesmo
campo, era o SPD, de meia-esquerda. União, nem pensar: o KPD achava que
os anos 30 seriam os últimos do capitalismo. Chegariam ao poder os
esquerdistas, inevitavelmente, e o KPD queria ser o representante único
da esquerda. Logo, o inimigo era a social-democracia. A SPD era tratada
como “social-fascismo”, “ala moderada do fascismo”.
O
KPD, até na cor preferida, o vermelho, obedecia às ordens do líder
vermelho Stalin, que ditava, de Moscou: “O fascismo (...) e a
social-democracia (...) não se excluem (...). Ao contrário, se
complementam”. O KPD não aceitava críticas a Stalin (a quem chamava de
“guia genial dos povos) e jamais admitiu que ele pudesse errar. Enquanto
isso, os nazistas cresciam, passavam de 800 mil para 13 milhões de
votos, até se aliavam aos vermelhos no combate à SPD. Em 1931, por
exemplo, se aliaram nazistas e vermelhos num plebiscito sobre a
dissolução do Legislativo da Prússia, baluarte da SPD. Perderam, mas os
nazistas mostraram força. A SPD ainda propôs uma aliança, os vermelhos a
recusaram. Hitler chegou ao poder. Já não havia mais como contê-lo.
The End
Como
se diria tanto em alemão quanto em russo, quem tudo quer nada tem. Após
a ascensão de Hitler, vermelhos e social-democratas (e todos os que não
fossem nazistas, e os judeus e os ciganos e os homossexuais foram
presos, deportados e mortos). A história nunca se repete em detalhes:
Stalin, por exemplo, jamais teve contra si qualquer suspeita de
corrupção. Quando morreu, sua filha Svetlana descobriu nas gavetas
envelopes de pagamento que ele, ao longo dos anos, nunca havia se dado
ao trabalho de abrir. Era violento, frio, brutal, prendeu, matou,
exilou, mas ladrão não era.
Errar sabendo
Num
resumo tão curto de uma história tão longa e tão densa, deve haver
muitas falhas. Mas há gente, entre nossos vermelhos, que conhece tudo
sobre esses fatos, que os estudou, que fez teses sobre o tema. Ao que
vemos pelas manifestações contra Bolsonaro, porém, sabem mas não usam o
que sabem. Acreditam que vão ganhar inevitavelmente e, portanto, por que
iriam dividir o poder?
E
jamais lhes passa pela cabeça que seu grande guru possa 1) estar
errado; 2) ser derrotado. Como dizia Salazar, o ditador português que
manteve o país isolado do mundo, ficam “gloriosamente sós”.
Trabalhando sério
Fora
dos partidos, há gente trabalhando sério para romper o dilema entre
votar no golpe ao Tesouro para evitar o golpe à Constituição ou votar no
golpe à Constituição para evitar o golpe ao Tesouro. Um grupo de 92
empresários, políticos e intelectuais criou um movimento, Derrubando
Muros, para buscar uma terceira via. Há aí gente do maior respeito, como
Horácio Lafer Piva (Klabin), Antônio Moreira Salles (grupo Moreira
Salles), José Olympio Pereira (Credit Suisse), Pérsio Arida, Armínio
Fraga, Elena Landau, economistas, Marcelo Brito, da Associação
Brasileira do Agronegócio, José César Martins, sociólogo, coordenador do
grupo. Eles sabem que se os partidos, da centro-esquerda à
centro-direita, lançarem cada um seu candidato, a disputa fica entre
Lula e Bolsonaro. No caso, boa parte do grupo deve dar apoio a Lula, “Há
um regime fascista e o inimigo está na sala”, diz José César Martins.
“A prioridade é criar uma alternativa no centro moderno e lutar para que
haja o menor número possível de candidatos”.
O mundo gira...
Pelas
pesquisas de hoje, Lula está à frente de Bolsonaro. Mas as eleições não
serão hoje. E Bolsonaro tem grandes possibilidades de tomar iniciativas
que se reflitam em votos. Duas delas: o aumento dos limites de crédito
para o Casa Verde e Amarela, antigo Minha Casa, Minha Vida, que permite a
construção de residências um pouco maiores; e a Medida Provisória que
cria o Habite Seguro, programa que financia casas para policiais. Há
também a lei que mais que dobrará o número dos atendidos pela tarifa
social de energia.
Já
se sabe que a Caixa, apesar do aumento dos juros Selic, vai reduzir a
taxa para financiamento da casa própria; e anunciará novo programa de
crédito para os inscritos no Caixa Tem.
...a pesquisa roda
Essas
medidas dão voto: os R$ 600,00 mensais do coronavoucher inflaram a
popularidade de Bolsonaro, que tomou antigos redutos petistas. Mas a
inflação cria problemas: o preço de arroz, óleo de soja e carne supera
de longe a inflação, que também mostra fôlego invejável.
A roda eleitoral ainda tem muito a girar.
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