No civilizadíssimo Canadá, primeiro-ministro é recebido com chuva de cascalho e palavras pesadas de revolta “saúdam” presidente americano. Vilma Gryzinski:
Pelo
menos na forma, as mais recentes manifestações brasileiras foram,
felizmente, um exemplo de bom comportamento. Em especial se comparadas
às erupções de fúria em países onde governantes costumam ser
respeitados.
No
Canadá, um modelo de civilidade tão invejado pelos brasileiros, Justin
Trudeau, o primeiro-ministro que é talvez o mais politicamente correto
chefe de governo de todos os tempos, levou um susto com a chuva de
cascalhos de que foi alvo durante um comício – o segundo tumultuado por
manifestantes revoltados com as exigências de vacinação para a maioria
das atividades.
Trudeau
está em campanha porque achou uma boa ideia convocar eleições
antecipadas, para o próximo dia 20, como é comum num países com sistema
parlamentarista, crente de que a bem sucedida campanha de vacinação
seria um trunfo imbatível.
Queria
aumentar sua exígua maioria no Parlamento, mas corre o risco até de ser
derrotado pelo líder conservador, Erin O’Toole, que não é bonitinho
como Trudeau nem defensor de todas as causas progressistas da
humanidade, mas também não usa maquiagem nem ameaça os não-vacinados com
“consequências”.
Os
“antivaxxers”, a faixa militante dos que não querem tomar vacinas ou
ser obrigados a mostrar um passe para frequentar recintos públicos, têm
se mostrado surpreendentemente fortes em países como França, Inglaterra,
Alemanha e o próprio Canadá.
Aos
gritos de “liberté”, manifestantes franceses invadiram no sábado – o
dia do agito – um shopping center. Policiais antimotim foram
encurralados e obrigados a bater numa algo humilhante retirada por uma
escada rolante.
Invadir
espaços públicos – sem quebra-quebra – virou rotina para os
“antivaxxers” ingleses. Eles chegaram a tomar o térreo do antigo prédio
da BBC, sem maiores consequências exceto o orgulho ferido por terem se
enganado de endereço.
Nos
Estados Unidos, onde o governo federal não tem autoridade para
implantar um passaporte sanitário de alcance nacional, a bronca dirigida
contra Joe Biden é pelo vexame da retirada do Afeganistão.
As
manifestações de revolta são impressionantes. Ao visitar em Nova Jersey
um bairro atingido pelo furacão Ida, o presidente americano ouviu
palavras pesadas.
“Meu
amigo morreu em 2011 no Afeganistão por isso? Para que esse cara
fizesse essa m****? Para deixar o país deles em ruínas e largar
americanos para trás”, gritou um morador.
“Meu país está indo para a m**** e você deixa isso acontecer”, revoltou-se uma mulher.
A
ideia de que um presidente americano mande os militares bater em
retirada de um país sem garantir que todos os cidadãos sejam devidamente
resgatados é insuportável para a maioria dos veteranos de guerra e a
população em geral. Ela afeta diretamente o senso de honra e a
autoestima, sempre tão notável, dos americanos.
“Ele
deixaria vocês para trás, vocês que o protegem”, disse o morador
revoltado para os policiais que reforçavam a segurança de Biden.
Em
outra prova de descolamento da realidade, Biden tentou alegar que os
protestos vieram de “pessoas que estavam gritando que nós estamos
interferindo na livre empresa por fazermos alguma coisa a respeito das
mudanças climáticas”.
Mentir
na cara dura, contradizendo a onipresença dos vídeos da internet, tem
sido uma atitude recorrente do presidente desde o vexame da retirada
apressada e mal planejada.
Os
foras e as declarações constrangedoras de Biden são tais que o site
Politico, veementemente favorável aos democratas, publicou uma
reportagem, obviamente sem nomes, sobre os funcionários da Casa Branca
que ficam ansiosos a ponto de tirar o som das transmissões em que o
presidente sai do roteiro e faz declarações espontâneas.
Pode
ser que se vejam na posição de apelar ao mundo mais vezes. A moda agora
nos estádios esportivos é um grito que tem a força e a desinibição das
torcidas de futebol no Brasil. Dizem, repetidas vezes, em impressionante
uníssono, os torcedores americanos: “F*** Joe Biden”.
Já tem um cartaz exatamente igual no Canadá para Justin Trudeau.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário